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Congresso em Foco
18/3/2009 | Atualizado às 10:21
Agência Câmara
Daniela Lima
Controverso, polêmico. Alguns ousariam chamá-lo de abusado. Fato é que em meio a tantos outros parlamentares, o deputado e estilista Clodovil Hernandes (PR-SP) conseguiu se destacar. Seja por conta de seus pronunciamentos polêmicos – como quando disse, por exemplo, que as mulheres trabalhavam mais deitadas do que de pé –, seja na crítica à política nacional, que, pregava, precisava de menos gravatas e mais vergonha.
O deputado, que recebeu diagnóstico de morte cerebral às 16h de ontem (17), no Hospital Santa Lúcia, em Brasília, morreu aos 71 anos. Logo no início da carreira política, causou alvoroço: foi o primeiro homossexual declarado a assumir uma cadeira no Congresso Nacional. Dias antes da posse, em sua primeira visita ao parlamento, foi barrado na porta, pois não estava usando gravata. Era um presságio de que a irreverência seria marca forte de seu mandato.
Mas mesmo diante desses indícios, em seu discurso de posse, no dia 2 de fevereiro de 2007, Clodovil enalteceu os benefícios concedidos pelo tempo. Disse que a idade lhe fazia bem, como se acalmasse o espírito agitador por natureza. “Após ter construído uma carreira sólida e de sucesso como estilista, comunicador e ator, chego aos 70 anos dando uma dessas guinadas inesperadas, em que a experiência e o conhecimento me trazem a sabedoria de que preciso para seguir em frente”, falou o parlamentar ao plenário.
Ainda assim não conseguiu, ou não quis, conter muitos de seus arroubos. O deputado ficou conhecido por não ter papas na língua. Nem para falar dele, nem para falar dos outros. Cheio de amores e desafetos, era afeito aos holofotes e sabia se portar diante deles. Em sua última entrevista ao Congresso em Foco, por exemplo, questionado sobre suas lembranças de carnaval, contou que, ainda criança, roubou a fantasia de cigana de sua mãe, e foi comemorar em um clube (confira).
Em um de seus episódios mais marcantes na Câmara, chamou uma deputada de feia e ganhou um processo na Corregedoria por falta de decoro parlamentar. “Digamos que uma moça bonita se ofendesse porque ela pode se prostituir. Não é o seu caso. A senhora é uma mulher feia", foi o que ele falou à deputada Cida Diogo (PT-RJ), que não gostou do modo como o deputado se referiu às mulheres. "Eu tenho culpa de ela nascer feia?", justificou Clodovil, na ocasião, em maio de 2007.
Confira vídeos com as polêmicas de Clodovil no Congresso
O deputado parecia prever já na posse os problemas que teria por conta de sua língua afiada. “Digo aos senhores que a única coisa de que tenho medo, como estrangeiro que sou nesta Casa, é da expressão 'decoro parlamentar'. Eu não sei o que é decoro, com um barulho desses enquanto um deputado fala. Isso aqui parece um mercado”, provocou.
Ciências políticas
Apesar de protagonizar o noticiário político mais por conta de declarações duvidosas do que por seus projetos, Clodovil se esforçava para fazer parte do corpo de parlamentares mais influentes do país. Sua última investida foi contratar um cientista político para lhe dar aulas particulares. “Com características únicas, ele trouxe, voluntária ou involuntariamente, polêmica para o Congresso”, disse a deputada gaúcha Manoela D'Ávila (PCdoB), ao Congresso em Foco, após o falecimento do deputado.
Entre as 17 proposições que Clodovil apresentou, está o projeto de lei que reduz para 250 o número de deputados com mandato na Câmara – hoje são 513 –, e o que modifica o Código Civil para que este trate de contratos de união homoafetiva.
“O Clodovil era polêmico, mas como parlamentar, cumpriu o seu dever. Participou ativamente dos trabalhos no Congresso Nacional, tanto nas comissões como no plenário. É uma perda para o PR e para a classe política”, lamentou o deputado Inocêncio de Oliveira, a quem Clodovil chamou de “amigo” em seu último discurso na tribuna da Câmara.
Ironicamente, Clodovil fez seu último pronunciamento na ocasião da morte de um colega de parlamento, o deputado Adão Pretto, em fevereiro deste ano. No dia 5 daquele mês, Clodovil subiu à tribuna, mas preferiu não falar da morte. “O que importa é o que a gente faz em vida, que é o que eu tento fazer aqui, até com essa minha implicância com outros companheiros. Todos nós, um dia iremos para esse mesmo lugar”, disse. O deputado fechou aquele discurso com o que pareceu considerar uma máxima de conduta: “A vida é uma dádiva. E é o que eu tenho tentado fazer aqui.”
Ao assumir o mandato, Clodovil assumiu um compromisso com os quase 500 mil eleitores que teve em São Paulo. “Tenho certeza de que, ao praticarmos a política com bondade, Brasília nunca mais será a mesma. Nem o Brasil.” A mudança, aliás, foi sua maior bandeira durante a campanha.
Complicações de saúde
Desde 2005, Clodovil iniciou uma cruzada pela vida. Lutou contra um câncer de próstata, contra o diabetes e a hipertensão.
Em 2007, sofreu o primeiro acidente vascular cerebral (AVC). A lesão foi leve, uma imobilidade parcial no braço direito. Recuperado, do derrame, foi novamente internado naquele ano, por conta de problemas cardíacos, hipertensão, e posteriormente, por suspeita de dengue. Já em setembro do ano passado, foi internado por conta de uma embolia pulmonar.
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