VEJA
Um dossiê feito para chantagear
A CPI que investiga o uso dos cartões corporativos do governo começou a ouvir depoimentos na semana passada num falso clima de cordialidade. [...] O Palácio do Planalto mandou fazer um dossiê sobre os gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em seus últimos cinco anos de governo – e ameaça divulgá-lo para tentar constranger os oposicionistas que insistem em investigar o presidente Lula. VEJA teve acesso a parte do dossiê. Elaborado com base em dados considerados sigilosos pelo próprio governo, o material reúne detalhes das despesas do ex-presidente Fernando Henrique, de sua mulher, Ruth Cardoso, e de assessores próximos nos anos de 1998, 2000 e 2001 nas chamadas contas tipo B – aquelas a que o ministro Paulo Bernardo se referiu. O documento lista centenas de compras realizadas pelo gabinete do ex-presidente, desce a insignificâncias, como pagamento de gorjetas e aquisição de material de higiene pessoal, e faz insinuações potencialmente graves, se verídicas, sobre a mistura de recursos públicos com despesas de campanha eleitoral. Estão também discriminados compras de bebidas, alimentos e aluguel de carros. As planilhas ainda revelam as iniciais de quatro agentes da Agência Brasileira de Inteligência (JCS, PSWR, SLCC e JCSB), seus CPFs e os valores que eles sacaram em dinheiro, 1,6 milhão de reais em 2002, usando as chamadas "despesas secretas". Uma simples consulta ao site da Receita Federal permite a identificação dos agentes. Os autores do dossiê queriam mostrar que no governo passado também houve abuso nos gastos secretos.
Amazônia: a verdade sobre a saúde da floresta
[...] Existem hoje leis, saber científico e vigilância remota suficientes para permitir a ocupação econômica da Amazônia sem alterar substancialmente seu metabolismo – mas para isso é vital que as leis sejam cumpridas, a ciência aplicada e a vigilância por satélites complementada com extensiva ação policial punitiva aos desmatadores.
ÉPOCA
Cadê a porta de saída?
O governo adotou medidas para incluir mais gente no Bolsa-Família. Agora, falta definir de modo mais eficaz quando deve terminar o benefício. [...] Para o alívio da família Lira, no fim do ano passado, o governo federal mudou as regras do Bolsa-Família e estendeu os benefícios para os jovens de 16 e 17 anos. Isso torna possível que Éder volte ao programa. Na semana passada, as alterações entraram em vigor. A ampliação da faixa etária, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, permitirá, a exemplo do que aconteceu com Éder, o retorno ou a inclusão de 1,15 milhão de jovens pobres no programa. Hoje, o Bolsa-Família beneficia 11,1 milhões de famílias. Outra novidade foi o anúncio da transformação do cartão de saque do Bolsa-Família em cartão de débito. [...]Um dos principais temores suscitados pelo Bolsa-Família é que ele pode criar uma relação de dependência crônica do Estado. Essa relação, também chamada “efeito preguiça”, foi observada em Porto Rico, um protetorado dos Estados Unidos. Lá, metade da população vivia abaixo da linha de pobreza. O governo americano patrocinou uma ampla distribuição de benefícios – em muitos casos pagando valores mais altos que os salários médios. O resultado: muita gente preferiu deixar de trabalhar para viver à custa dos programas sociais. Porto Rico virou uma nação de dependentes.
O custo do átomo
Um estudo inédito da USP calcula que Angra 3 só seria viável com subsídios ocultos de R$ 4 bilhões. O governo federal vem dando sinais de que pretende retomar o investimento em energia nuclear. No ano passado, autorizou o reinício das obras da usina nuclear de Angra 3, no litoral do Rio de Janeiro. O empreendimento foi aprovado pelo Conselho Nacional de Políticas Energéticas (CNPE). “A decisão de construir Angra 3 e as discussões que estamos tendo sob a coordenação da Casa Civil mostram que o governo está convicto de ter um programa nuclear mais consistente”, disse na terça-feira o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende. Mas ainda não há certeza se novos reatores da estatal Eletronuclear são a melhor opção para evitar um apagão.