Fábio GóisEm pleno recesso branco pré-eleitoral no Congresso, uma entidade aproveitou os corredores vazios do Senado e, com a devida autorização da Casa, lançou uma espécie de guia para ajudar eleitores a escolher os futuros senadores. Com dez anos de fundação, o
Instituto Ágora em Defesa do Eleitor e da Democracia criou uma página na internet, com direito a lista de candidatos e perguntas a eles dirigidas, para facilitar a peneira entre os 190 nomes que concorrem a uma das 54 vagas (dois terços do Senado) em disputa.
Por meio do "
Questionário Questão Pública - Valores do Legislativo, Responsabilidade do Cidadão", que se tornou disponível nesta quinta-feira (26), o instituto pretende aproximar o público eleitor do pensamento individual de cada pleiteante. Com programa específico de computação, o
site direciona aos candidatos 35 perguntas sobre temas como prisão perpétua, cotas raciais em universidades públicas, voto obrigatório aborto e legislação ambiental. O eleitor-internauta também pode registrar suas respostas, e então compará-las com as opiniões dos aspirantes a senador.
Cada pergunta da arquição apresenta seis alternativas possíveis (concordo totalmente; tendo a concordar; sem posição; tendo a discordar; discordo totalmente, sem interesse). A ideia é não limitar o universo de opinião dos questionados. A partir das respostas, há um sistema analítico que confronta questões e respostas dos candidatos, com gráfico que mede o percentual de afinidade ou divergência entre os interlocutores.
Em entrevista coletiva concedida há pouco, o diretor do Instituto Ágora, Gilberto de Palma, detalhou o funcionamento do
site e comentou os propósitos da iniciativa. Gilberto espera que, até amanhã, "pelo menos dois [candidatos] de cada estado" tenham respondido ao questionário. "Essa iniciativa serve para alargar a participação dos eleitores no processo democrático", disse o diretor, acrescentando que o questionário ficará disponível até 3 de outubro, dia do primeiro turno das eleições.
"Gesso estatutário"Gilberto de Palma disse que, até as 18h de hoje, apenas os seguintes candidatos haviam respondido às perguntas: Jorge Picciani (PMDB) e Cesar Maia (DEM), no Rio de Janeiro; Zito Vieira (PCdoB), em Minas Gerais; Ricardo Yang (PV), de São Paulo; e o "recordista" na rapidez das respostas, Professor Marcos Monteiro (PV), no Rio Grande do Sul ("em poucas horas, de bate-pronto, ele mandou as respostas", disse Gilberto).
De acordo com o diretor do instituto, que atua em parceria com entidades como Transparência Internacional e Abracci (Articulação Brasileira contra Corrupção e Impunidade), mais de 60 organizações não-governamentais (ONGs), entre elas a SOS Mata Atlântica e o Instituto Ethos, foram envolvidas na concepção do questionário - além daquelas que participaram diretamente do projeto e de setores da sociedade civil organizada. Foram seis meses de análises, consultas e procedimentos que levaram à elaboração das 35 perguntas.
O diretor destacou que um "gesso estatuário" impossibilita qualquer forma de vínculo partidário com o Ágora, que não pode responder dinheiro de governos ou grupos políticos. O apoio financeiro vem de apoio de agências internacionais, institutos de fomentos à democracia. "Só demonstrar simpatia por este ou aquele partido já seria suicídio", disse Gilberto.
"Trata-se de uma experiência inovadora sobre a qual a gente não sabe qual será o ritmo de andamento", disse Gilberto, em referência à reação dos candidatos. Ele explicou que, por meio de formulário eletrônico (PDF), o candidato consultado pode responder às perguntas sem interferência, uma vez que estas são "intransferíveis e singulares", e imediatamente enviadas à base de dados do
site. "Isso significa colocar a tecnologia a favor da democracia."
Gilberto disse que os candidatos não são pressionados a registrar seu pensamento por meio do
site, e que o fato de responder ou não às perguntas vai depender da consciência e do "espírito público" de cada um deles. O diretor acredita que "talvez eles tenham uma obrigação moral" de responder ao questionário.
O diretor disse ainda que o confronto entre a pergunta do eleitor e a resposta do elegível trará benefícios ao processo eleitoral, uma vez que reforçará a exposição dos posicionamentos dos pleiteantes. A "bússola eleitoral", completou Gilberto, será usada apenas no Senado, neste primeiro momento, devido a contingências estruturais e operacionais.