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Congresso em Foco
11/10/2005 | Atualizado 12/10/2005 às 0:00
Cláudio Versiani, de Nova York*
24 de setembro em Washington foi um dia histórico. A capital dos norte-americanos assistiu à maior manifestação anti-guerra desde que George Bush lançou a sua cruzada contra Saddam Hussein, em março de 2003. George não estava em sua Casa Branca. Os manifestantes tiveram que gritar um pouco mais alto para que suas vozes fossem ouvidas no Texas.
O grande temor do governo é de que cada vez mais a guerra do Iraque se pareça com a fracassada campanha do Vietnã, que deixou o saldo de 50 mil americanos e mais de um milhão de vietnamitas mortos, além de um sem número de feridos e incapazes físicos e mentais que engrossam o contingente de "homeless" (os sem-teto) das cidades dos EUA. Por enquanto o Iraque "só" produziu 1950 mortos e mais de 14.000 feridos no lado americano.
O governo conta com uma minoria silenciosa que ainda apóia a guerra do Iraque. A maioria grita, mas só de vez em quando. A grande imprensa, fora algumas exceções, não gosta do assunto Iraque. Parece que ainda estamos no 11 de setembro, quando criticar o presidente era anti-patriótico.
Essas duas guerras são muito diferentes, entretanto, o pesadelo é o mesmo. O motivo principal pelo qual o movimento anti-guerra não ganha os corações e mentes dos americanos é que, naquela época, o alistamento era compulsório e os jovens só tinham duas opções - a guerra ou a cadeia - por se recusarem a ir para a frente de batalha. Hoje o alistamento é voluntário. Mas as Forças Armadas estão encontrando dificuldades para cumprir a meta de recrutamento. Os militares vão às escolas de segundo grau à caça dos garotos e garotas, oferecendo benefícios para quem se alistar.
A sedução maior, além do emprego em si, é que o governo paga a universidade de quem lutar pela pátria, por um tempo mínimo de dois anos. Mesmo assim está difícil de achar quem queira ser bucha de canhão lá pelos lados do Iraque. Para quem não pode pagar 20 mil dólares anuais por uma boa universidade, essa pode ser uma saída. Porém, primeiro é preciso sobreviver ao inferno iraquiano. Boa parte dos recrutados é filho de imigrantes e pobres. A nacionalidade americana é outro benefício.
A manifestação reuniu gente de todo tipo, muitos grupos dos outros estados americanos. Avós em cadeiras de roda, casais com bebês em carrinhos, veteranos das guerras do Vietnã e da primeira guerra do Golfo, patrocinada pelo pai do atual presidente, o outro Bush. Guerra é um negocio familiar entre os Bush. Ex-combatentes da guerra atual e muitos familiares dos soldados mortos no Iraque e no Afeganistão formavam os grupos mais respeitados e aplaudidos.
"Iraque quer dizer Vietnã em árabe", denunciavam camisetas e cartazes ao desenterrar velhos fantasmas. "Bush é um desastre", "é mentiroso", diziam os cartazes mais comuns. Não faltou "Abu Ghraib", a infame prisão americana no Iraque.
Um grupo de jovens, irreverentes, desafiou os atiradores de elite do telhado da Casa Branca, mostrando os traseiros para os seguranças do presidente. Meninas e outras nem tão meninas mostraram os peitos. Indecente é a guerra, diziam. Uma alusão aos protestos da época do Vietnã quando revolução sexual também era uma das bandeiras. Uma senhora com um cartaz com duas fotos de Bush "dando o dedo" (indicador) também fez sucesso.
Foram algumas horas de marcha pacífica. O único momento tenso aconteceu em frente ao edifício-sede do FBI. Duzentos manifestantes pró-guerra, devidamente protegidos pela polícia, entraram em conflito verbal com os "protestantes". Foi uma batalha de slogans e argumentos. Ficou nisso, ainda bem. A marcha teve que ser previamente autorizada pela polícia, o que significa governo, em última instância. E tudo combinado com meses de antecedência.
Mas o governo não deu vida boa para a turma do protesto. Durante o fim de semana, o metrô de Washington coincidentemente não estava funcionando bem, algumas linhas estavam em reparo e os atrasos dos trens chegaram a 45 minutos. Normalmente não se espera mais do que cinco minutos por um vagão por lá.
No dia 26 de setembro foi a vez da desobediência civil. Os manifestantes, de dois a três mil, tentaram entregar uma carta ao presidente, obviamente não passaram de um dos portões da Casa Branca. Em protesto, sentaram na calçada em frente à casa de Bush. Essa calçada já estava fechada aos pedestres, e os manifestantes foram presos por obstruir o trânsito inexistente.
Ao som de slogans como "prendam Bush" e "não mais guerras", 370 pessoas foram presas na Casa Branca e outras 41, em frente ao Pentágono. A imprensa nacional não deu muita bola para os três dias de protestos. Foi uma cobertura rotineira. Já o discurso que o presidente fez na quinta-feira, 6 de outubro, recebeu uma atenção especial, notadamente das redes de TV. Para variar, Bush falou sobre sua guerra ao terror.
A Casa Branca classificou como o mais importante de todos os discursos presidenciais sobre o tema. Nesse mesmo dia estourou a história da ameaça terrorista ao metrô de NY. A fonte da notícia foi o governo. Bush simplesmente contra-atacou. Não terá sido mera coincidência que, ainda naquele dia, a rede CBS tenha divulgado uma pesquisa que mostrou o presidente no seu pior momento em quase cinco anos de mandato.
O resultado da pesquisa é péssimo para o governo. Para 69% dos entrevistados, o país está no caminho errado. Apenas 26% pensam o contrário. No geral, 58% desaprovam o desempenho de Bush antes os 37% que o aprovam. O Iraque é apontado como o maior problema do país.
Em realidade, o discurso de Bush, excetuando-se a história de que o governo americano conseguiu abortar dez tentativas de atentados, três dentro do país e sete mundo afora, nada trouxe de novo. Sobre as ameaças, Bush não deu mais detalhes. São assuntos secretos. É questão de se acreditar ou não. Tanto melhor para o presidente não ter que dar explicações. Mas para quem não agüenta mais as manipulações do governo fica a desconfiança ou a quase certeza de que o discurso foi mais uma tentativa de se desviar o assunto. Iraque, Katrina e a tremenda incompetência do governo.
O resto do pronunciamento foi a mesma lenga-lenga de sempre, tentando estabelecer um vinculo entre o 11 de setembro e Saddam Hussein e vendendo a imagem de que o mundo agora está mais seguro. Coisas que só existem na cabeça de Bush e nas de alguns muitos americanos que ainda acreditam nessa versão exaustivamente repetida pelo governo de George W. Bush. Os discursos do presidente parecem replays televisivos.
Bush fala diretamente com Deus. Os jornais ingleses The Guardian e The Independent publicaram que a rede de TV BBC vai pôr no ar, agora em outubro, um documentário sobre o presidente norte-americano. Segundo algumas testemunhas, que nada mais são que ministros palestinos, Bush confessou num encontro, em junho de 2003, que o Iraque era uma missão divina, um pedido que Deus lhe fez. "George vá e combata esses terroristas no Afeganistão, e foi o que eu fiz. George, vá e acabe com a tirania no Iraque. E foi o que eu fiz." A Casa Branca fez o seu papel: negou, confirmar não iria. O incrível é a intimidade entre Bush e Deus que só o chama de George.
Bush é um mercador de uma mercadoria só. Ele só tem o medo para tentar vender. O inacreditável é que ainda exista gente comprando essa mercadoria com prazo de validade vencido. É verdade que, a cada dia, menos compradores são encontrados. Mas que ele consiga convencer um só cristão já é um fato assustador.
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