Vôo 3054: passageiros ficaram conscientes após batida

Os diálogos transcritos do avião da TAM, e lidos na CPI do Apagão Aéreo da Câmara no final da manhã de hoje (1º), revelaram que algumas pessoas ficaram conscientes dentro da aeronave após a batida do Airbus com um obstáculo, que pode ser o galpão da TAM Express ou a mureta que separa o aeroporto de Congonhas da Av. Washington Luís, em São Paulo. Além disso, confirmou-se a versão de que as manetes estavam em posição errada.

Após a colisão é possível ouvir uma voz masculina dizendo: "Ah, não!" e, na seqüência, a transcrição relata sons de gritos e vozes femininas. De acordo com a deputada Luciana Genro (Psol-RS), que traduziu a transcrição, "houve um primeiro impacto em que eles estavam conscientes".

O deputado Beto Mansur (PP-SP), que é piloto amador, acredita que o barulho que se ouve podem ser os primeiros vidros do prédio da TAM Express ou construções de alvenaria antes do impacto final. O parlamentar interpretou a degravação de forma a concluir que havia mais pessoas na cabine, além dos dois comandantes. Seriam as vozes femininas ouvidas após o barulho.

Na opinião do relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS), os diálogos indicam que houve falha no equipamento. Na conversa dos pilotos, eles falam que estão com apenas um reverso e que o spoiler (freio aerodinâmico localizado sobre a asa) não respondeu ao comando.

No último diálogo antes do acidente, um dos pilotos comenta com o outro: "Eu não consigo, eu não consigo. Oh, meu Deus!". Em seguida, escuta-se o som da colisão.

O deputado Vic Pires (DEM-PA) se mostrou "arrasado" com o que escutou. "Não sei se vou querer ouvir isso de novo", comentou. Para Rocha Loures (PMDB-PR), que ajudou Luciana Genro a traduzir a transcrição, a divulgação do áudio causa tristeza, mas "as famílias precisavam saber as últimas palavras" dos seus entes queridos.

"A primeira impressão é que houve alguma falha no equipamento, mas é preciso cruzar os dados, principalmente das caixas-pretas, para ter uma resposta definitiva. Não descarto nenhuma hipótese, mas a falha no equipamento parece preponderante. Acho que podemos afirmar que a máquina falhou em algum procedimento feito pelos pilotos", defendeu o relator.

Marco Maia também acredita ser preciso que a CPI proponha ao governo uma fiscalização mais rigorosa da manutenção das aeronaves, tanto nas companhias aéreas, quanto nas construtoras de aviões. Segundo ele, falhas como essas já teriam acontecido com aeronaves do mesmo modelo.

Para o relator da CPI, com os problemas no avião, o piloto não teria conseguido parar a aeronave "mesmo que a pista tivesse 10 Km".

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) também destacou que é preciso ter cuidado ao se analisar as informações das caixas-pretas para não tirar conclusões precipitadas. "É preciso ter cautela porque existem muitos interesses em jogo em função do valor do seguro".

Quem for responsabilizado pelo acidente terá que arcar com as indenizações às famílias das vítimas, além da apólice do seguro da aeronave.

Para Fruet, no entanto, duas hipóteses não podem ser descartadas: a primeira é a falha no equipamento e a segunda, os alertas com relação à segurança da pista feitos pelos próprios controladores.

Após a divulgação dos diálogos da cabine do Airbus, a reunião da CPI foi temporariamente interrompida. Depois do intervalo, a comissão retomará os trabalhos em uma sessão fechada para ouvir o depoimento do chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa), o brigadeiro do ar Jorge Kersul Filho.

Kersul ajudou os deputados a interpretar o relatório dos dados técnicos encontrados na segunda caixa preta. A transcrição dos diálogos está em inglês pois a análise das caixas-pretas foi feita nos Estados Unidos pelo National Transportation Safety Board (NTSB). Segundo o diretor do Cenipa, nem a Aeronáutica tem o arquivo específico da caixa-preta do Airbus A320 da TAM para realizar audição. (Eduardo Militão e Lúcio Lambranho) Atualizada às 17h33

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