Em sete horas de depoimento a integrantes da CPI dos Sanguessugas, o empresário Luiz Antonio Trevisan Vedoin, um dos sócios da Planam, disse que tem provas para incriminar a maior parte dos parlamentares que citou em seu depoimento à Justiça Federal de Mato Grosso. A audiência foi realizada hoje na superintendência da Polícia Federal, em Brasília.
Na semana passada, cresceu a pressão para que o dono da Planam e operador da máfia no Congresso fosse ouvido. Membros da CPI queriam que ele esclarecesse "pontos obscuros" do depoimento do empresário à Justiça Federal, que durou 11 dias. As investigações da comissão levantaram dúvidas acerca do real envolvimento no esquema de nomes citados por Vedoin em seu depoimento à Justiça.
Ao deixar a PF hoje, o presidente da comissão, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), afirmou que o empresário apresentou indícios fortes de participação de congressistas nas irregularidades. Com base nessas informações, adiantou, já será possível recomendar a abertura de processos de cassação contra "um elevado número de parlamentares".
O primeiro relatório parcial da CPI deve ser apresentado na próxima semana. Segundo Biscaia, mesmo que não haja provas documentais do pagamento de propina a deputados e senadores, já é possível abrir processos de cassação por quebra de decoro porque o simples encontro desses parlamentares com os chefes do esquema configura disposição para negociar com a quadrilha.
Mais um senador envolvido
Vedoin mencionou outro senador em seu depoimento, além dos três já citados: Ney Suassuna (PMDB-PB),
Magno Malta (PL-ES) e Serys Slhessarenko (PT-MT). Ele teria viabilizado a liberação de R$ 20 milhões em créditos extra-orçamentários para a Planam. O empresário não quis, entretanto, revelar o nome do parlamentar.
Integrantes da CPI acreditam que ele queira preservar congressistas que ainda tenham dívidas com a Planam. Mas o vice-presidente da comissão, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), e o próprio Biscaia não acreditam que o quarto senador citado esteja envolvido com o esquema.
Por outro lado, a situação dos três senadores que já estão sob investigação se complica cada vez mais. Nas peças de defesa que entregaram à CPI, eles negam participação no esquema e atribuem a culpa a assessores. Vedoin afirmou hoje, contudo, que os assessores nunca agiam sem o aval dos seus chefes.
O empresário contou também como eram as reuniões com parlamentares nas quais se discutiam os valores e as emendas a serem apresentadas. Ele revelou ainda como empresas de vários setores garantem contratos com órgãos governamentais e disse que a lógica das emendas obedece a uma estranha "estratégia de mercado".
Outras empresas
Vedoin acusou outras empresas de organizarem esquemas semelhantes ao da Planam para fraudar licitações. O empresário citou a Lealmaq, de Belo Horizonte. A Polícia Federal suspeitava que a empresa seja usada como fachada para legitimar concorrências dirigidas. Empresas do Paraná, do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro também foram mencionadas por Vedoin.
"As empresas entraram em acordo para respeito mútuo no mercado. Elas também entravam em contato com parlamentares e podem ter atuado com emendas, mas até agora não foram investigadas", comentou um dos sub-relatores da CPI, deputado Paulo Rubens Santiago (PT-PE). Ele e Fernando Gabeira (PV-RJ) anunciaram que vão apresentar requerimento para ouvir os representantes das empresas citadas.
Com esses novos fatos, outro sub-relator da CPI, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), disse que a comissão deverá abrir uma nova linha de investigação para apurar a participação de outras empresas que seriam concorrentes da Planam.