A lista de Furnas, que causou grande alvoroço no Congresso nesta semana, pode ser falsa. De acordo com o repórter Fernando Rodrigues, da
Folha de S. Paulo, o conjunto de papéis sem autenticação é "cheio de erros factuais, tem inconsistências técnicas (mesmo para uma fotocópia) e só poderá algum dia ter sua veracidade avaliada se o original aparecer". Um cartório na cidade do Rio de Janeiro, no entanto, atestou nesta semana ser verdadeiro o selo que está na cópia.
Nas cinco folhas que compõem o documento, estão citados 156 políticos de 12 partidos políticos (PFL, PSDB, PL, PMDB, PP, PPS, Prona, PRTB, PSB, PSC, PTB e PDT). A grande maioria deles é ligada à oposição ao governo Lula e integrou a base de sustentação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Todos teriam recebido dinheiro de um esquema de caixa dois montado em 2002 a partir da estatal federal de energia Furnas. Vários políticos citados - como o prefeito paulistano José Serra e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ambos do PSDB - já vieram a público para negar a informação de que tenham sido beneficiários desses recursos.
O valor total das supostas doações é de R$ 39,665 milhões. A data no final do papel é 30 de novembro de 2002. A autenticação da fotocópia, porém, deu-se só em 22 de setembro de 2005 - depois que o escândalo do mensalão afetou o PT, partido não mencionado na lista.
Até agora, só o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), cassado em 2005, admitiu como verdadeira a informação contida sobre ele: a de que recebeu R$ 75 mil por intermédio de
Dimas Fabiano Toledo, ex-diretor de Furnas. Dimas já emitiu nota negando o conteúdo e a autoria do documento.
Integrantes do PT que conhecem Dimas Toledo não desprezam seu potencial para assustar a oposição, mas acreditam que seria "amadorismo", não condizente com o estilo do ex-diretor, cunhar uma lista, em papel timbrado de Furnas e com a sua assinatura, listando o destino do suposto caixa dois.
As inconsistências
De acordo com Fernando Rodrigues, a primeira dúvida sobre a "lista de Furnas" é que o documento original correspondente até hoje não apareceu. "As fotocópias disponíveis na internet são derivadas parcialmente de uma iniciativa do professor aposentado Luiz Fernando Carceroni, 58, de Minas Gerais. Ele é filiado ao PT desde 1980, quando ajudou a fundar a seção mineira da sigla", afirma.
Além de dúvidas técnicas, a lista traz também erros factuais e inconsistências no que diz respeito à realidade política das pessoas citadas. O redator do material teve o cuidado de usar um papel timbrado de Furnas, escreveu "confidencial" no cabeçalho das cinco páginas, listou a distribuição de milhões de reais, mas errou o estado de um deputado e citou candidatos a deputado que não concorreram nas eleições de 2002.
O corregedor da Câmara,
Ciro Nogueira (PP-PI), está na "lista de Furnas". Nega ter recebido dinheiro do suposto esquema. "Meu nome está lá, mas com um erro grosseiro. Falam que eu sou de Pernambuco, e eu sou do Piauí", afirmou.
Os nomes de Luiz Paulo Velloso Lucas (ex-prefeito de Vitória, no Espírito Santo) e de Francisco Luiz Gomide (ex-ministro de Minas e Energia em 2002) aparecem como candidatos eleitos a deputado federal, mas nenhum dos dois chegou sequer a se candidatar nas eleições de 2002.