O presidente Lula e o pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, protagonizaram um bate-boca ontem que mostra a elevação da temperatura da campanha eleitoral. Em visita ao Amazonas, Lula desafiou a oposição a utilizar na TV, na campanha eleitoral, todas as denúncias de corrupção contra seu governo e integrantes do PT, alvos de investigação nas CPIs do Congresso.
"Quero que eles coloquem CPI na televisão todo dia, toda hora. Quero que eles coloquem as torturas que fizeram com muita gente lá. Quero que o povo veja. Está chegando o momento de o povo fazer aferição do que aconteceu no Brasil", disse, sem citar o mensalão.
O presidente afirmou que em nenhum momento se abalou com a crise, mas admitiu ter chorado algumas vezes: "Em nenhum momento vocês me viram abalado. Mas sou um chorão de nascença. Chorei no TSE quando fui diplomado, chorei na avenida Paulista, chorei na campanha, chorei até em novela".
Lula se recusou a responder diretamente às críticas de Geraldo Alckmin no programa de TV do PSDB, quando o tucano disse que não iria governar com corrupção no gabinete ao lado. "Não posso responder. Nem fica elegante ele ser grosseiro. Ele não tem jeito para ser grosseiro, não combina com ele. Agora, se as pessoas quiserem ser grosseiras, que sejam, eu vou continuar do jeito que sou", disse.
O presidente acrescentou: "A hora em que decidir ser candidato, nós vamos colocar o que fizemos neste país e vamos comparar com eles. Eles ficaram oito anos no governo, vamos colocar quatro contra oito. Vamos medir a educação, a saúde, o transporte, a estrada, a ferrovia, as linhas de transmissões, a energia. Vamos deixar o povo livremente julgar", disse.
Alckmin não gostou das declarações do presidente, a quem chamou de cínico e omisso. Segundo o tucano, Lula patrocina uma "farra fiscal e cambial" e abusa do uso do cargo para fazer campanha eleitoral. "Ele passa da omissão ao cinismo. É imperdoável", afirmou. "Primeiro ele dizia que de nada sabia, agora fala que corrupção não tem problema", completou.
O ex-governador, porém, não se comprometeu a acabar com o instrumento da reeleição, instituído no governo FHC e que permite ao presidente da República disputar um segundo mandato sem deixar o cargo.
Freire desiste e anuncia apoio a Alckmin
Ontem, Alckmin ganhou o apoio do PPS. O pré-candidato Roberto Freire desistiu da disputa e anunciou apoio à candidatura do tucano. O acordo acertado anteontem entre Freire e Alckmin é o primeiro passo para tornar possível o apoio de tucanos e pefelistas a candidatos do PPS aos governos de Rio, Mato Grosso e Paraná.
No Rio, porém, o candidato tucano ao governo, Eduardo Paes, reafirmou ontem que não há hipótese de desistir de sua candidatura para apoiar a candidata do PPS, a deputada Denise Frossard. O PPS quer reeleger Blairo Maggi em Mato Grosso e lançar a candidatura de Rubens Bueno no Paraná. Com o apoio a Alckmin, provavelmente em aliança formal, o PPS vai cobrar dos tucanos a retirada da candidatura de Paes.