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Congresso em Foco
7/12/2005 | Atualizado às 11:23
Ricardo Ramos e Diego Moraes
A CPI dos Correios investiga um braço financeiro dentro do Banco do Brasil que pode ter abastecido o esquema do mensalão. Obtida pelo Congresso em Foco, a quebra de sigilo bancário do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza aponta um aumento de 13 vezes sem cobertura contratual nos depósitos da BBTur Viagens e Turismo para a promotora de eventos Multi-Action, de Valério, entre os anos de 2001 e 2003. O banco detém toda a participação acionária da operadora de viagens.
Procurado pela reportagem, o Banco do Brasil justificou que o aumento dos repasses da BBTur para a Multi-Action, de R$ 195 mil, em 2001, para R$ 2,68 milhões, em 2003, deve-se à promoção de eventos de grande porte como a "montagem de arenas para campeonatos de vôlei de praia e de estandes em feiras das quais o banco participa". O BB informou ainda que a BBTur jamais assinou contrato com a empresa de Valério.
Para a CPI, a movimentação financeira da Mult-Action com a BBTur não está devidamente esclarecida. "É um aumento muito suspeito", afirmou o relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), que já mobilizou os técnicos da comissão para apurar eventuais irregularidades nos depósitos. "É uma movimentação estranha, suspeita e é um dos pontos que precisam ser priorizados pela CPI", garantiu o sub-relator de Contratos, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP).
O ponto de partida da comissão é saber se o mecanismo utilizado por Valério com a Visanet - empresa administradora dos cartões Visa no país - foi repetido com a BBTur. No mês passado, a CPI divulgou dados sigilosos para provar que o dinheiro pago pelo Banco do Brasil à DNA Propaganda, por campanhas da Visanet, é o mesmo que garantiu o empréstimo de R$ 10 milhões concedido pelo banco BMG à Rogério Lanza Tolentino & Associados, empresa da qual Valério também é sócio. O BB controla cerca de um terço das ações da administradora de cartões.
No caso da BBTur, as transferências de dinheiro da operadora de viagens para a Multi-Action começaram em 2001, um ano após a criação da empresa, e se estenderam até 2003. Segundo o Banco do Brasil, os pagamentos ocorreram por conta de serviços previstos no contrato com a DNA Propaganda, também do empresário, que se valia da Multi-Action para realizar o trabalho.
Contudo, José Eduardo Cardozo não encontrou, nos documentos encaminhados à CPI, contratos da BBTur com a agência DNA. Os dados da quebra de sigilo de Valério revelam ainda que não houve repasses da operadora de viagens para a DNA. Todos os depósitos caíam diretamente na conta da Multi-Action. "Não há contrato que justifique essa movimentação financeira", declarou o sub-relator.
Conta alta
Em 2001, a BBTur fez cinco depósitos de cerca de R$ 195 mil nas contas da Multi-Action. Já em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, ocorreram 13 repasses, que injetaram R$ 1,7 milhão na empresa de eventos - sete vezes mais do que no ano anterior.
Em 2003, primeiro ano do governo Lula, os pagamentos cresceram ainda mais. Ao todo, foram efetuadas 32 transferências para a Multi-Action que, somadas, alcançam R$ 2,6 milhões. O aumento no volume de repasses da BBTur à empresa de Valério chegou a R$ 978 mil entre o último ano do governo FHC e o primeiro ano de Lula no Planalto. Não há registros de entradas de recursos nos anos de 2004 e 2005.
Por meio da sua assessoria de imprensa, Valério não se pronunciou sobre o aumento dos depósitos nas contas da Multi-Action. Segundo ele, "todos os procedimentos entre Multi-Action e BBTur só se realizavam com a autorização do Banco do Brasil". Segundo a assessoria do empresário, o "Banco do Brasil tem as notas dos serviços a ele prestados pela Multi-Action".
As suspeitas sobre eventual conivência de estatais e órgãos públicos com as operações forjadas por Valério aumentaram na semana passada. Laudo feito pela Polícia Federal a pedido da CPI revelou que a maior parte das 80 mil notas fiscais fraudadas foi emitida para atestar serviços prestados pelas agências ao BB, à Eletronorte e ao Ministério do Trabalho. O empresário mineiro era o responsável pelas contas de publicidade do Banco do Brasil e da Visanet.
Provocado pela CPI, o Tribunal de Contas da União (TCU) abriu uma outra frente de investigações para apurar eventuais irregularidades entre as empresas de Valério e estatais. Atualmente o TCU realiza um pente-fino em 120 contratos ou acordos de prestação de serviço, entre eles o da Multi-Action com a BBTur. O relator do processo no tribunal é o ministro Benjamin Zymler.
Movimentação Financeira Marcos Valério/BBTur Viagens e Turismo
Período | Entradas (R$) | Aumento (%) | Empresa |
De 23/05 a 14/12/01 | 195.787,76 | 0 | Multi-Action |
De 18/04 a 23/12/02 | 1.706.364,00 | 771,53 | Multi-Action |
2003 | 2.685.290,84 | 57,28 | Multi-Action |
2004 | 0 0 | 0 | - |
2005 | 0 0 | 0 | - |
Aumento entre 2001 e 2003: 1.271,53%
Fonte: CPI dos Correios
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