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Gisele Agnelli
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Assembleia da ONU
23/9/2025 14:53
Na abertura da 80ª Assembleia Geral da ONU, o contraste não poderia ser mais didático. Lula falou primeiro, como manda a tradição brasileira desde 1947, quando Oswaldo Aranha inaugurou o costume de abrir os debates. Trump veio em seguida, na condição de anfitrião americano. Mas, do ritual à substância, pareciam habitar universos distintos.
Lula usou o púlpito para reafirmar o multilateralismo em tempos de fragmentação. Fez da erradicação da fome o eixo civilizatório de sua fala, transformando o anúncio de que o Brasil saiu do mapa da fome em 2025 em manifesto político global. Ao defender a tributação dos super-ricos, a regulação das plataformas digitais e a ampliação do Conselho de Segurança, inscreveu o Brasil como porta-voz do Sul Global.
Sua denúncia do "genocídio em Gaza", feita com coragem ao apontar a cumplicidade dos vetos ocidentais, marcou o ponto alto do discurso. Lula evocou ainda Mujica e Francisco como referências éticas, situando-se numa linhagem de líderes humanistas que associam política à dignidade coletiva. Foi aplaudido várias vezes. O tom foi diplomático, mas forte, acusatório: contra a desigualdade global, a paralisia da ONU e o unilateralismo autoritário.
Trump, por sua vez, transformou a tribuna em palanque doméstico. Falou de uma suposta "era de ouro" da economia americana, inflou números sem base factual, atacou imigrantes com estatísticas distorcidas e chamou a mudança climática de "fraude". Ridicularizou a ONU como "escada rolante quebrada" e se autoproclamou responsável por encerrar sete guerras... lorota. Pior, chegou a acusar indiretamente a China ter produzido covid como arma biológica e a ONU como cúmplice da imigração ilegal. O resultado foi silêncio constrangedor no plenário, quebrado apenas quando pediu a libertação de reféns em Gaza....sua fala foi um comício globalizado: performática, improvisada.
O contraste é chocante. Lula inscreveu-se na tradição brasileira de defender o universalismo, vinculando democracia à justiça social, regulação digital e clima. Trump encarnou o projeto autoritário que mina o próprio sistema multilateral e transforma a ONU em caricatura. A cena resume a encruzilhada do século XXI: de um lado, a tentativa de atualizar a cooperação global e ressignificar a democracia a partir do Sul Global; de outro, a corrosão das instituições internacionais por líderes que só acreditam na soberania absoluta, na violência e no espetáculo.
A ONU, aos 80 anos, enfrenta talvez sua maior prova: sobreviver à era do líder, cujo país é sua sede, que a desacredita.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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