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Helena Theodoro
Dulce Pereira
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Olhares Negros
20/11/2021 | Atualizado às 9:38
Vista da Serra da Barriga e de sua localização estratégica para a resistência do Quilombo de Palmares às invasões portuguesas durante um século. Foto: Mariana Maiara[/caption]
A concepção dos quilombos se liga ao entendimento africano do território como espaço a ser cuidado, como lugar para se construir e preservar, além de ser o lugar que aglutina a todos que nele residem, dentro da filosofia ubuntu: minha existência está conectada à do outro.
Temos quilombos criados em todo o país e principalmente na Amazônia. Nela encontramos o Quilombo Barranco de São Benedito da Praça 14, em Manaus, bem como o Quilombo Tambor, em Novo Airão. Existem cerca de 400 outros quilombos na região, que tiveram uma importante ação para a abolição da escravatura e que são muito pouco conhecidos.
Encontram-se em algumas toadas referências aos quilombolas, como em Quilombolas da Amazônia do Boi Garantido, que afirma ter a África em seu coração.
MEU CANTO É ALTIVO E LIBERTÁRIO
RITMADO A TAMBORES E XEQUERÉS
TOADA DE LUTA PELA IGUALDADE RACIAL
EMANCIPAÇÃO DO POVO MEU.
CELBRA A VIDA
DOS GRIÔS DO SABER
VOA, VOA MEU CANTO, CANGOMA
VOA, VOA NESSA BATUCADA DO MEU BOI BUMBÁ
VOA, VOA TEU VERBO ALADO É SANSA CROMA
VOA, VOA PÁSSARO DA LIBERDADE IORUBÁ.
SOMOS QUILOMBOLAS DA AMAZÔNIA
NEGROS E CAFUZOS DESSA REGIÃO
O BOI GARANTIDO FESTEJA SEU POVO
PULSANDO A MÃE ÁFRICA NO CORAÇÃO.
MOCAMBO É MORADA DO SONHO CABANO
NAVEGA NAS ÁGUAS DO NOSSO RIO MAR
IREPECURU, MADEIRA, TROMBETAS
NEGRO, TAPAJÓS, ANDIRÁ.
SOU DE SÃO JOSÉ, SÃO BENEDITO, VEREQUETE
SOU DO CARIMBÓ, LUNDUM E SIRIÁ
RETUMBÃO, CORDÃO DE PÁSSARO
MARAMBIRÉ, MARABAIXO E BOI BUMBÁ.
VOA, VOA BEM ALTO E FAZ BRILHAR
VOA, VOA NO NEGRO CÉU DA CONSCIÊNCIA
VOA, VOA, A CONSTELAÇÃO DA RESISTÊNCIA
VOA, VOA REFLETIDA EM CADA OLHAR.
TRAGO A CANÇÃO HERDADA DE GERAÇÕES OPRIMIDAS
VOZES QUE DANÇAM DE MÃOS DADAS
A FORÇA BRASILEIRA DA MATRIZ AFRICANA
CONSTRANGENDO OPRESSORES COM SEU DESTINO DE CONQUISTA
E ANUNCIANDO AO MUNDO A NOVA COR DA ESPERANÇA.
Essa toada busca valorizar, de forma inédita, uma das mais importantes figuras típicas da região, o quilombola. Um típico afro-amazônico que até pouco tempo era invisibilizado na historiografia oficial, que começa a ser estudado pelos historiadores e sociólogos da atualidade.
A mensagem poética desta toada tem música e poesia inspiradas na saga de luta e resistência dos quilombolas amazônicos. Toada filha da canção herdada de gerações oprimidas que se transforma em Cangoma (canto ancestral de tribos africanas), solto no ar num verdadeiro voo de liberdade, como se fosse Sansa Croma (pássaro sagrado da mitologia Iorubá), guardião da liberdade.
Os quilombos e mocambos são um dos principais tipos de comunidades tradicionais da Amazônia, assim como as indígenas e ribeirinhas.
Os principais quilombos amazônicos ficam nos estados do Amazonas, Pará, Rondônia e Amapá, nas calhas, cabeceiras e afluentes dos rios Amazonas, Irepecuru, Madeira, Trombetas, Negro, Tapajós e Andirá, onde os quilombolas são canoeiros, castanheiros, pescadores, seringueiros, mateiros, artesãos, festeiros, curandeiros, etc.
A Lei 12.519 de 2011 instituiu oficialmente o 20 de novembro como Dia da Consciência Negra. Apenas 5 estados promulgaram leis estaduais que tornaram o 20 feriado: Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso e Rio de Janeiro.
Cabe lembrar que os quilombos foram criados pela Rainha Nzinga de Angola, conhecida nas Congadas Brasileiras como Rainha Ginga, Nzinga Mbandi Kiluanji que foi Rainha do Ndongo (Angola) em 1623 e que se celebrizou por sua luta contra a escravização dos portugueses, sendo uma exímia guerreira e estrategista, que usou a tática de abandonar a capital do reino e promover movimentação de tropas e mudanças de acampamentos, conhecidos pelo nome de Kilombo, tornando-se assim praticamente invisível quando perseguida pelas tropas portuguesas.
A Rainha Nzinga, bem como Cleópatra ou a Rainha de Sabá moldam o tipo de mulher negra, guerreira, batalhadora e rainha, sem submissão aos homens, que se diferencia dos papéis atribuídos às mulheres europeias. Muito quilombos notabilizaram mulheres como Dandara no Quilombo de Palmares, Teresa de Benguela no Quilombo de Quariterê, Aqualtune, princesa africana e líder quilombola que esteve à frente de 11 mocambos do Quilombo de Palmares além de inúmeras outras, de ontem e de hoje, que se tornaram iyalorixás, como Mãe Beata, Mãe Stella, Mãe Senhora, Mãe Meninazinha da Oxum, verdadeiras rainhas em seus quilombos de fé.
Com a vida difícil e pouco assistida da comunidade preta do país, os quilombos modernos, liderados por mulheres pretas, proliferam nas periferias, favelas e no interior, buscando uma prática efetiva da liberdade de ser, criar, participar e construir um bom viver.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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