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Prender os golpistas, sim, sem esquecer de matar a serpente do golpe

A raiz do golpismo segue viva nos quartéis, mantida por doutrinas que colocam as Forças Armadas acima da democracia.

Paulo José Cunha

Paulo José Cunha

2/12/2025 12:00

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De nada adiantará a condenação dos oficiais militares, à frente o ex-capitão Jair Bolsonaro, responsáveis pela trama golpista, se não for morta e sepultada a serpente do golpismo que continua diariamente botando seus ovos nos quartéis e escolas militares.

O presidente Lula e seu governo estão diante de um momento histórico, quando se reúnem todas as condições para uma profunda revisão nos conteúdos oferecidos diariamente nos cursos oferecidos nas escolas militares e nas prédicas feitas nos quartéis. Ali, os ovos da serpente golpista são chocados diariamente. A condenação do núcleo militar não tem, por si só, o condão de por um freio na vocação ao golpe. Neste exato momento, oficiais superiores e professores de escolas militares continuam ensinando que as forças armadas estão acima dos demais poderes da República, e, portanto imunes a qualquer controle institucional, o que justificaria os sucessivos golpes de que o país tem sido vítima. O professor e pesquisador Manuel Domingos Neto afirma, com todas as letras e baseado em demoradas e profundas pesquisas que "ao longo de sua existência, o quartel formou, inspirou, agasalhou, nutriu, treinou e protegeu golpistas".

No instante em que a sociedade respira aliviada por assistir pela primeira vez na história a punição exemplar de oficiais de alta patente, Lula e seu governo dispõem do momento e do clima ideais para iniciar uma varredura em profundidade nos currículos e nos métodos de ensino que imperam nos quartéis e nas escolas militares há dezenas, talvez centenas de anos. O clima é particularmente propício porque, pela primeira vez, a condenação de um ex-presidente, chefe da organização golpista, galvanizou as atenções da opinião pública. Mas falta o segundo passo.

Sem romper com o ensino autoritário nas escolas militares, o ciclo golpista seguirá se reproduzindo no Brasil.

Sem romper com o ensino autoritário nas escolas militares, o ciclo golpista seguirá se reproduzindo no Brasil.Gabriela Biló/Folhapress

Mais do que nunca ficou evidente que tanto o papel das forças armadas como os conceitos básicos da própria democracia são produto de aprendizagem. Mudam-se governos, instalam-se e caem ditaduras e nunca se viu qualquer iniciativa destinada a favorecer o aprendizado da importância do regime democrático. Nem do papel das forças armadas na implementação e proteção da democracia. E não na sua destruição. Pelo contrário. Tudo continua como dantes, no quartel (e na escola) de Abrantes. Na mesma toada, parlamentares e ativistas políticos da extrema-direita orquestram neste instante no maior descaramento mais um golpe parlamentar com a arregimentação de forças reacionárias para a aprovação da anistia.

Como lembra o cientista político Eduardo Heleno,"golpistas falam em anistia como se fossem perseguidos pelo Estado. Não são. Perseguidos foram os brasileiros que lutaram contra a ditadura. O que tentam agora é corroer o sentido histórico da palavra anistia para blindar criminosos de 2023". Ele próprio adverte que o golpismo é produto de orientação corporativa. E eu acrescento: orientação que se perpetua há anos, décadas, e que impulsiona os bolsonaros de hoje como impulsionou os olímpios mourões de 64.

Outro dia um motorista de aplicativo tentava me convencer da inocência do grupo golpista lembrando que não se conhece deles nenhum ato de violência. "Nenhum matou ninguém. Nenhum feriu ninguém. Nenhum deu golpe algum. Então, por que estão sendo punidos com penas tão fortes?"

Pois precisamente aí está a raiz do problema. A percepção popular é primária: criminoso é quem fere, mata ou rouba. Quem atenta contra a democracia, na percepção popular, não comete crime algum. Isso é o que precisa mudar, o que só vai acontecer por meio da educação democrática. Como enfatiza o ex-senador e ex-reitor Cristóvam Buarque, a base de tudo - tudo! - é a E-DU-CA-ÇÃO.

E eu acrescento: ninguém nasce democrata. Um democrata SE FORMA democrata, seja pela experiência adquirida - e sofrida - em regimes anti-democráticos, que o ensinam na prática a repudiar as autocracias, seja pelo aprendizado das raízes das formas de governo sadias, pois baseadas na participação popular. Da mesma forma, se o pensamento autoritário que domina quartéis e escolas militares não for extirpado pela raiz, as prisões dos detentores das altas patentes não terá valido nada. Lula prestaria um enorme serviço ao Brasil do futuro se, desde agora, colocasse em pauta o ensino da democracia como disciplina regular nas escolas e quartéis. Só isso já lhe garantiria um lugar de destaque na história do país.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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