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Estamos aqui vivos e não é mais para falar do sonho do navio negreiro. Não é para falar do tilintar dos ferros ou do estalar do chicote.

Vanda Machado

Vanda Machado

20/10/2022 | Atualizado às 16:08

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Mulheres negras cantam juntas na VIII Marcha das Mulheres Negras em Copacabana. Da esquerda para a direita estão as Deputadas Estaduais e Federais Monica Francisco, Benedita da Silva, Renata Souza, Verônica Lima, Talíria Petroni, Dani Balbi. Foto: Divulgação

Mulheres negras cantam juntas na VIII Marcha das Mulheres Negras em Copacabana. Da esquerda para a direita estão as Deputadas Estaduais e Federais Monica Francisco, Benedita da Silva, Renata Souza, Verônica Lima, Talíria Petroni, Dani Balbi. Foto: Divulgação
 

Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?

Em que mundo, em qu'estrelas tu t'escondes

Embuçados nos céus?

Há dois mil anos te mandei o meu grito,

Que embalde desde então corre o infinito

Onde estas, Senhor Deus?

  Nestes versos o Poeta Antônio de Castro Alves narra as desventuras dos filhos da África e busca a misericórdia divina responsabilizando Deus pela desventura de ter seus filhos, arrancados de sua pátria mãe, escravizados e lançados ao desamparo. Quem diria? Somos seus herdeiros. Esta é a primeira parte da história, de quando os navios atravessaram o atlântico repleto de carnes negras vivas, pronto para a venda como a mercadoria mais cara do mundo. Há uma parte da história forjada pela miséria e a tristeza da perda da dignidade humana. Há outra parte desta mesma história que é mais difícil de ser contada por que existe uma contextura que se revela por outras subjetividades. Subjetividades que mudam o sentido do que pode parecer uma realidade indiscutível. Trata-se da história que sobreveio quando a palavra se fez desnecessária porque não havia poesia. Eu te convido a continuar esta prosa que não pretendo dolorida. "Stamos em pleno mar... Do firmamento os astros saltam como espumas de ouro quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?" Continua o poeta na viagem que parecia sem fim. É certo que do mundo conhecido sentia se apenas o lugar onde o mar se encontra com o firmamento e os barcos correm deixando um rastro de sangue e revolta. Paradoxalmente a separação da terra mãe e a incerteza do destino foram criando outros encontros jamais imaginados. Em pleno mar nasceram as relações malungas, quando se juntaram os irmãos de origem diferentes e das mais diversas etnias no mesmo barco. E quando tudo parecia se encaminhar para a inevitável morte da alma de um povo, eis que surge a necessidade de ficar juntos, todos os irmãos de cor para uma luta negra demais. A luta pela paz e para sermos iguais. E justamente a nova e miserável condição que produz a semente para o florescimento do que mais tarde se organizaria como grupos de negros fugidos para criar os quilombos ou na busca da proteção tardia das irmandades católicas. Tudo valendo para sermos iguais. Os "cantos de trabalho", possíveis precursores dos sindicatos, juntaram-se aos jongos, congos, congadas, maracatus e candomblés. Tudo que nos reúne é luta.  São células ou pétalas de resistência para a vida em liberdade com dignidade. Cada agrupamento humano em situação de risco cria e estabelece significados para outra forma de existência. São significados que orientam as suas práticas, incorporação objetiva e subjetiva que altera vivencias e afirma outras possibilidades de sobrevivência para cada dificuldade. É luta negra demais. Não é difícil imaginar o sentimento, o desespero de um povo sequestrado e vendido como a mercadoria mais cara do mundo. A luta também foi com a morte, viajante do mesmo navio mesmo enxotada pela bravura de negras e negros que teimavam em viver a qualquer custo. Não faltou coragem inteligência e aceitação do outro com línguas pátrias e deusas e deuses diferentes. Apenas um outro irmão de cor. Ao longo dos séculos muitas outras lutas e alianças foram realizadas, incluindo os terreiros de candomblé. Uma nova luta. Mas cada negro que foi Olorum mandou outro negro de volta para lutar desempenhando novos papéis na sociedade.  Quem diria que chegaríamos aonde estamos chegando e ser o que somos e o que representamos neste país.  Nós continuamos aqui ainda alimentados por muitos sonhos com todas as lutas sem sangue porque preferimos uma canção. Estamos aqui vivos e não é mais para falar do sonho dantesco do navio negreiro. Não é para falar do tilintar dos ferros ou do estalar do chicote. Estamos aqui para pensarmos juntos sobre as relações entre as diversidades religiosas e a paz entre nós.   Durante séculos os nossos ancestrais construíram este país hoje há exatos 132 anos celebramos quando todos os brasileiros se tornaram juridicamente iguais pela lei da abolição. Apenas juridicamente.  Estamos em luta pela paz. Nossos ancestrais nos ensinaram a viver a unidade na diversidade nos quilombos e terreiros. A história está se desvelando simultaneamente nas permanências e mudanças que estão sendo sedimentadas nas camadas mais antigas do nosso ser e que afeta toda sociedade. Somos a metade deste país que queremos nação. Nós somos a mudanças. É tempo de esperançar! Obrigada Wilson Simonal!  
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