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Antônio Augusto de Queiroz
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Dilema na eleição de 2026: continuidade lulista ou renovação
Antônio Augusto de Queiroz
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Como as emendas impositivas podem interferir no sistema eleitoral
Antônio Augusto de Queiroz
Economia
16/12/2025 14:02
A nomeação de Gabriel Galípolo, economista próximo ao Planalto e chamado pelo presidente Lula de seu "menino de ouro", para a presidência do Banco Central, parecia representar o ápice de uma estratégia política clara: alinhar finalmente a política monetária aos objetivos declarados de retomada do crescimento, geração de empregos e redistribuição de renda. No entanto, o que se observa é uma contradição que transcende a esfera técnica e se transforma em um dos maiores riscos políticos para o governo na iminência do ciclo eleitoral de 2026. A persistência de uma taxa Selic estratosférica, mesmo sob um comando considerado afim, não é apenas um paradoxo econômico; é uma bomba-relógio política, cujos estilhaços podem determinar o destino da disputa presidencial. Esta coluna argumenta que, sem uma redução rápida, abrangente e estrategicamente comunicada dos juros, capaz de criar expectativas positivas para o investimento produtivo já a partir do primeiro trimestre de 2026, o governo poderá colher, nas urnas, os frutos amargos de uma recessão técnica por ele mesmo gestada.
A manutenção da taxa básica de juros em 15% sob a gestão Galípolo e demais membros do Comitê de Política Monetária nomeados por Lula pode desmontar, de forma definitiva, o discurso político que durante anos atribuía o custo do crédito proibitivo à existência de um "adversário" ou de um "ente autônomo e hostil" à frente do BC. Esse discurso, outrora uma válvula de escape política conveniente, evaporou-se. Agora, a ortodoxia monetária veste as cores do governo. Sob o comando do "menino de ouro" o Banco Central opera sob a lógica técnica do Comitê de Política Monetária (Copom), supostamente priorizando o ancoramento de expectativas inflacionárias e a estabilidade financeira, ainda que ao custo de estrangular o crédito, desestimular investimentos e frear a atividade econômica no curto e no médio prazos. Para o setor produtivo - das grandes indústrias aos pequenos comerciantes -, a mensagem é cruel: nenhuma atividade lícita consegue garantir, de forma segura, um retorno que cubra um custo de capital de 15%. O dinheiro migra, naturalmente, para a rentabilidade segura dos títulos públicos e aplicações financeiras, em um processo de "financeirização" que esvazia a economia real. O governo, que elegeu o desenvolvimento e o emprego como suas bandeiras centrais, encontra-se paradoxalmente amarrado pela própria âncora que indicou.
O perigo iminente, contudo, não reside apenas na contradição retórica, mas no descompasso catastrófico entre o ciclo monetário e o ciclo político. Os efeitos recessivos de uma política de juros altos não são imediatos; eles se propagam pela economia com um espaço temporal considerável, estimado entre seis e dezoito meses. Demissões em cadeia no setor privado, aumento da inadimplência das famílias e das empresas, cancelamento de projetos de expansão e um clima generalizado de pessimismo são consequências que, uma vez deflagradas, demoram a ser revertidas. Se o BC mantiver seu compasso de espera e só iniciar um ciclo de cortes tímidos ou tardios a partir de março ou abril de 2026, os piores efeitos recessivos atingirão seu ápice justamente no segundo e terceiro trimestres de 2026 - o coração da campanha eleitoral. Este timing é eleitoralmente desastroso. Será durante os comícios, os debates televisivos e a definição do voto do eleitor indeciso que a economia estará sentindo o baque mais agudo.
Para piorar este cenário, fatores externos convergem para amplificar o tombo. A estimativa do IBGE de uma safra agrícola em 2026 pelo menos 3% menor do que a de 2025, devido a fatores climáticos, atuará como um choque adverso de oferta. Isso pressionará os preços dos alimentos no mercado interno, complicando a trajetória da inflação, e reduzirá as exportações do agronegócio, afetando a balança comercial. A combinação de estagnação produtiva (devido aos juros altos) com pressão inflacionária pontual (devido ao choque da safra) criará um cenário econômico complexo e de difícil comunicação para o governo, que poderá ser acusado simultaneamente de asfixiar a economia e de perder o controle dos preços. Ademais, essa queda na safra agrícola terá um efeito estatístico negativo sobre o cálculo do PIB no primeiro semestre de 2026, o que aumenta o risco real do governo registrar uma recessão técnica às vésperas das eleições, caso continue o cenário de aperto monetário, como já mencionado.
É neste contexto que a crítica se desloca da economia pura para a estratégia política e a gestão de expectativas. Ao colocar um nome de sua inteira confiança à frente do BC, e nomear a maioria dos membros do Copom, o governo assumiu a propriedade total da política monetária. O "risco Galípolo" transformou-se no "risco Lula". A "festa" do crescimento e da distribuição de renda, prometida e esperada pela base eleitoral, corre o risco de ser "estragada" não por um opositor externo, mas por uma decisão interna percebida como subordinada aos interesses da alta finança - a "Faria Lima". Esta percepção é politicamente tóxica. Ela alimenta a narrativa oposicionista de que o governo é incoerente, que fala em povo nas praças mas governa para o mercado nos gabinetes, e que sacrifica o trabalhador e o empresário nacional no altar dos ganhos do sistema financeiro. A imagem do "menino de ouro" em especial, como um "agente duplo" técnico, insensível ao desemprego, é um presente para os adversários. A insistência do BC no discurso do mercado de trabalho resiliente como uma das justificativas para a manutenção da Selic em nível tão alto reforça a ideia, entre o setor produtivo, de uma influência anormal de parte do mercado financeiro sobre as decisões do BC, que parece desconhecer o funcionamento da economia no mundo real. O desemprego não cresce no momento devido a dois fatores: no Brasil, quando ocorre um aperto da política monetária, as empresas postergam ao máximo a dispensa de mão de obra devido ao seu alto custo legal, esperando ao máximo algum sinal de reversão da política monetária que facilite a captaçã
Portanto, a resposta não pode ser apenas técnica; deve ser política e estrategicamente antecipatória. O governo não pode mais se dar ao luxo de ver a política monetária como uma ilha isolada de tecnicismo. Ela se tornou, inevitavelmente, o epicentro do debate político-eleitoral que se avizinha. Para desarmar a bomba-relógio, é imperativo que o Banco Central, sob a liderança de Galípolo, execute uma guinada clara e vigorosa. É necessária uma redução de juros rápida, abrangente e sinalizada com antecedência, iniciada o mais cedo possível e com meta explícita de aliviar significativamente o custo do crédito até o final do primeiro trimestre de 2026. Essa medida não pode ser tímida ou gotejada. Deve ser um movimento estratégico, acompanhado de uma comunicação eficaz que vincule explicitamente a queda dos juros à retomada dos investimentos, à geração de empregos e à proteção da renda das famílias.
Ou o governo cria um ambiente de expectativas positivas que antecipe os efeitos benéficos da flexibilização monetária, ou o projeto de reeleição poderá naufragar. Empresários precisam se sentir confiantes para retomar planos de investimento ainda no primeiro semestre de 2026, acreditando que o ciclo de custo mais baixo será duradouro. O mercado de trabalho precisa receber sinais de que a demanda se manterá aquecida. Esse "espírito animal" da economia, se bem conduzido, pode começar a produzir indicadores positivos - ou, ao menos, a interromper a deterioração - justamente no período crítico da pré-campanha.
Sem essa ação corretiva de rumo, o governo caminha para um dos piores cenários possíveis: ser derrotado nas urnas não por uma oposição forte, mas por sua própria incapacidade de harmonizar seus instrumentos de política econômica. O eleitorado, especialmente a parcela mais vulnerável que depende do emprego formal e do dinamismo da economia, poderá responsabilizar não um fantasma do passado, mas as escolhas concretas do presente governo. O principal argumento de sucesso do lulismo - a conexão literal entre o crescimento e a melhoria material da vida dos mais pobres - estaria minado por dentro. A janela de oportunidade para evitar esse desfecho está se fechando. Cabe ao "menino de ouro" do BC, e ao presidente que o nomeou, decidir se querem ser lembrados como os arquitetos de uma consistente estabilização de longo prazo ou, ironicamente, como os coveiros do próprio projeto político que juraram defender. A redução dos juros já não é uma questão apenas econômica; é a mais urgente das agendas políticas.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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