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RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Congresso em Foco
21/10/2025 12:19
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou que responderá às ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com a mesma postura que, segundo ele, caracteriza os presidentes Lula, do Brasil, e Claudia Sheinbaum, do México: "sem se ajoelhar".
A declaração foi dada em entrevista à Univision Noticias, na Casa de Nariño, sede do governo colombiano, em meio à escalada da crise diplomática com Washington. O embate começou depois que Trump chamou Petro de "líder da droga", anunciou novas tarifas de importação sobre produtos colombianos e afirmou que reduzirá a ajuda financeira ao país.
"Eu sigo o caminho de Lula, meu professor nesse sentido, e de Claudia: fique firme e indignado. Não se ajoelhe. Jamais se ajoelhe", disse Petro, em resposta ao jornalista Daniel Coronell.
Assista a trecho da entrevista:
Segundo o presidente colombiano, o Brasil enfrenta uma situação ainda mais difícil do que a Colômbia em relação às tarifas impostas pelos Estados Unidos a seus produtos - Washington aplicou taxas de até 50% sobre itens brasileiros importados.
Petro destacou que Brasil, México e Colômbia compartilham desafios semelhantes diante das pressões comerciais e políticas vindas dos Estados Unidos, mas que os dois países vizinhos têm conseguido defender seus interesses sem submissão.
"Eu não vou conceder, vou exigir. A Colômbia já concedeu tudo, não tem mais o que conceder", declarou.
Lula e Trump
Após meses de tensão, Lula e Trump se encontraram brevemente na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York, no início do mês, e combinaram de discutir o tarifaço posteriormente. Compromisso que foi reforçado durante conversa por telefone na semana passada entre os dois.
Durante o telefonema, o norte-americano escalou o seu secretário de Estado, Marco Rubio, para tratar do assunto com autoridades brasileiras, como o vice-presidente Geraldo Alckmin e o chanceler Mauro Vieira. Rubio e Vieira se reuniram na última sexta-feira. Lula e Trump podem se encontrar na Ásia nos próximos dias.
As conversas se desenrolam depois de Lula ter reagido com dureza às investidas e críticas ao país desferidas pelo governo dos Estados Unidos. O brasileiro adotou a defesa da soberania nacional como lema, postura que tem ajudado na melhora de sua popularidade, como mostram pesquisas.
Crise com os Estados Unidos
As tensões entre Bogotá e Washington se intensificaram desde o retorno de Trump à Casa Branca, no início do ano. O republicano tem acusado o governo colombiano de não combater o narcotráfico e ameaçou retirar a cooperação em segurança e inteligência. No último domingo, Trump voltou ao ataque e chamou Petro de "traficante de drogas ilegal".
Em reação, Petro classificou as declarações como "chantagem" e ordenou o retorno do embaixador colombiano em Washington para consultas. Ele também exigiu que os Estados Unidos retirem as novas tarifas impostas a 8% das exportações colombianas, que atingem produtos como flores, bananas e café - todos de grande importância para a economia nacional.
"Tirem as tarifas que colocaram nesses 8% das exportações. Tirem-nas. E vamos mais adiante", afirmou Petro. "A Colômbia já fez todas as concessões que podia. Não tem mais o que entregar."
Defesa da soberania e crítica à dependência econômica
Petro argumentou que depender economicamente de um único país, como ocorre com a Colômbia em relação aos Estados Unidos, é "um desastre", e criticou o que chamou de relação assimétrica e colonial.
"O que acontece quando me dizem que vão colocar tarifas na nossa economia? Bom, colocam sobre 8% das exportações. Mas não vão colocar nem no petróleo nem no carbono, porque são viciados em gasolina - junto com a cocaína", ironizou.
O presidente colombiano afirmou que, em vez de impor novas sanções, os Estados Unidos deveriam ajudar na substituição de cultivos ilegais por lavouras sustentáveis, como cacau, chocolate e produtos amazônicos.
"Se querem acabar com a cocaína, que ajudem o pequeno produtor colombiano a ter terra fértil e contratos de longo prazo para outros cultivos. É isso que precisamos", defendeu.
"Trump não é rei na Colômbia"
Petro também reagiu às declarações de Trump de forma direta e desafiadora. O republicano, ao reduzir a ajuda e impor tarifas, afirmou que a Colômbia estava "fora de controle". O presidente colombiano respondeu que, de fato, o país está fora do controle de Trump - e é assim que deve ser.
"Trump não é rei na Colômbia. Aqui não aceitamos reis. Pode falar comigo de igual para igual, entre republicanos de verdade, como falei com Biden quatro vezes. Mas nos dar ordens? Não, senhor", afirmou.
Petro acusou o norte-americano de querer "servos, e não líderes livres", e disse que Trump "não gosta de pessoas livres porque quer ser rei".
"Com a Colômbia, não. Tivemos presidentes ajoelhados durante décadas, que obedeciam como se fosse direito deles. Se acostumaram mal. Isso acabou", completou.
Acusações e respostas
Trump justificou as novas sanções afirmando que Petro incentiva a produção massiva de drogas e que a Colômbia "se tornou o maior negócio de narcotráfico do mundo". Em resposta, Petro exibiu um mapa da ONU mostrando a redução das áreas de cultivo de coca e acusou o republicano de mentir.
"Não é verdade que estejamos inundando o mundo de cocaína. Mentira", disse.
O presidente colombiano também acusou Trump de usar o combate ao narcotráfico como pretexto para intervir militarmente na Venezuela. "É uma desculpa para invadir a Venezuela, porque eles querem ficar com o petróleo. Essa é a verdade", afirmou. "Podem conversar comigo, mas não mandar em mim. A Colômbia está fora do controle deles - e é assim que deve ser", concluiu.
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