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Congresso em Foco
13/7/2005 20:57
Edson Sardinha |
Na prática, diz ele, o STF terá mais poder para legislar do que o próprio Congresso. De acordo com o texto que será promulgado nos próximos dias, os juízes e a própria administração pública serão obrigados a seguir o entendimento do Supremo sobre temas que tenham sido objeto de muitas ações. A medida, combatida por magistrados das instâncias inferiores, procuradores e advogados, teria como objetivo reduzir o número de causas repetitivas. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, relutou contra a súmula vinculante até o último momento, mas foi derrotado pela área econômica do governo, que entende que a novidade pode atrair investidores para o país, na medida em que torna as decisões da Justiça mais previsíveis. A adoção desse mecanismo faz parte das recomendações do Banco Mundial às economias em desenvolvimento. Nesta entrevista ao Congresso em Foco, o vice-líder do PT na Câmara critica a postura da bancada petista no Senado, que, em sua maioria, acabou apoiando a proposta que fortalece o Supremo. "Os nossos senadores romperam com uma posição histórica do PT. A súmula vinculante é um grave equívoco do ponto de vista político e pragmático. Ela vai trazer mais confusão para o sistema judiciário do que resolver problemas", considera. Presidente da Comissão Especial da Reforma do Judiciário na Câmara, o deputado diz que a vinculação da súmula acaba com a oxigenação do sistema, despreza a capacidade de interpretação dos juízes das instâncias inferiores e vai provocar efeito contrário ao pretendido, atolando o STF de processos. "É a afirmação de um superpoder que desequilibra a relação entre os poderes. Quando se fala numa ditadura do Judiciário, acho que é essa a dimensão. Dá-se um poder supremo ao Supremo, o que me parece ruim para o equilíbrio num Estado de Direito", diz. Apesar de enaltecer a aprovação do controle externo do Judiciário, por meio da criação do Conselho Nacional de Justiça, Cardozo é cauteloso em relação aos efeitos das mudanças em curso. Para ele, a verdadeira reforma do Judiciário não é a constitucional, mas a que virá na seqüência, com a aprovação de leis ordinárias e complementares. "É através dela (reforma infraconstitucional) que você vai atacar a morosidade da Justiça de uma forma mais firme, através da eliminação de recursos, da maior racionalidade na distribuição dos processos, com a criação de mecanismos inovadores que permitam a melhor destinação de verbas para o Judiciário", considera. Um dos motivos apontados para a crise na base aliada seria a pressão de alguns partidos para serem os parceiros preferenciais do PT em 2006. Como está essa conversa no seu partido? Mas o PMDB não está pressionando o governo por causa disso? A polarização entre PT e PSDB no cenário nacional está consolidada ou está sendo superdimensionada por causa da vitória tucana em São Paulo? Existem outras forças políticas que têm posições ora alinhadas com o PT, ora com o PSDB, de acordo com a dimensão específica do exercício de um determinado governo. Essas forças estão vivas e não podem ser ignoradas como muita gente faz. É um equívoco o PT eleger o PSDB como seu único adversário, como se outras forças políticas não existissem no cenário brasileiro. Isso é subestimar a existência de outras forças, que podem ser nossas aliadas ou adversárias, até com maior ferocidade do que o PSDB. "Tenho visto companheiros de partido apresentarem uma visão maniqueísta da realidade. O PT contra o PSDB. Ou seja, nós somos o bem e eles o mal" Como essas forças se posicionam ideologicamente em relação ao PT? Recentemente ouvi uma entrevista de um companheiro petista em que ele falava o seguinte: numa eleição em São Paulo só há duas forças, o PT e o PSDB. Isso é absolutamente uma inverdade. Mesmo que em decadência, ainda temos o malufismo vivo na cidade de São Paulo. Isso é perigoso. É fazer um reducionismo da realidade que só nos fará tropeçar no futuro. "Esse 'tucano-estrelo-centrismo', permita-me a expressão, é absolutamente equivocado (...) É fazer um reducionismo da realidade que só nos fará tropeçar no futuro" Em relação à crise na base aliada, há um problema de falta de liderança no Congresso? "Enquanto não se abandonar esse projeto (emenda da reeleição), dificilmente o equilíbrio e a recomposição voltarão a existir na base governista" Falta ainda a iniciativa dos presidentes da Câmara e do Senado de abrirem mão da reeleição? A emenda, então, não incomoda apenas o PMDB? "Seria um gesto de grandiosidade dos presidentes da Câmara e do Senado se eles afirmassem publicamente Por que esse assunto incomoda tanto? É incorreto politicamente dizer mais uma vez que as pessoas valem mais do que as instituições. Essa é a minha avaliação. Há, na Câmara, quem se incomode com o assunto por questões políticas maiores e outros que se prendem a avaliações casuísticas de que esse ou aquele presidente não deve continuar. Outro problema enfrentado pelo governo advém da demora na liberação das emendas parlamentares. O governo não está se submetendo ao tradicional jogo do "toma-lá-dá-cá", que o PT sempre condenou? Na medida em o candidato é eleito individualmente, os governos acabam enfrentando situações em que o parlamentar tem vida própria independentemente do partido. Com isso, o governo é obrigado a fazer negociações individuais para atender aos pleitos individuais dos parlamentares. Mas, às vezes, esses pleitos colidem com as linhas programáticas do governo. Quando se coloca a coisa nessa dimensão, do ponto de vista da maioria, você acaba tendo uma negociação que não é a melhor pra ninguém. Não é boa para o Parlamento nem para o Executivo. "Na medida em o candidato é eleito individualmente, Qual a melhor maneira de mudar isso? Uma reforma que tenha, além do financiamento público de campanha, o voto em lista, de maneira que os parlamentares não tenham mais aquela relação clientelista com sua base eleitoral, mas uma relação de formulação política partidária. Para se eleger, o candidato precisará ter presença partidária e não o voto de uma clientela. Quais as mudanças práticas? "Teremos, com a reforma política, uma relação entre governo e partido e não mais entre governo e parlamentar. O modelo atual está exaurido" O modelo pode estar exaurido, mas muitos parlamentares ainda tiram proveito dele... "O parlamentar fica como co-partícipe do Executivo Como convencer os demais parlamentares de que esse modelo está exaurido? Alguns partidos da base governista já se posicionam contra a reforma política. Não há o risco de se criar uma crise nessa base - a exemplo do que ocorre com a emenda da reeleição -, assim que a proposta for levada a plenário? É um paradoxo que partidos da base aliada sejam contra uma reforma política que fortalece os partidos. Parece-me estranho que um partido não queira ser fortalecido. É uma questão que só se explica do ponto de vista cultural. As pessoas aprenderam a ver esse sistema e têm dificuldade em deixá-lo. Falam como se ele fosse uma realidade histórica e atemporal. Esse tipo de cultura é que impede as pessoas de terem a segurança de perceber que a mudança será melhor para a democracia, a governabilidade e o fluxo do debate de idéias e ideologias. "É um paradoxo que partidos da base aliada sejam A principal crítica que se faz à lista fechada é que ela vai dificultar a renovação dentro do partido e beneficiar apenas a cúpula partidária. Não há esse risco? Há quem diga que não há partidos, com uma ou outra exceção, no Brasil... Passada uma década após essa reforma, o Brasil terá outro patamar democrático, muito mais elevado, com os partidos fortalecidos. Não teremos mais essas coligações que não têm sentido ideológico nenhum e que são fruto de um sistema em que prevalece a pessoa e não a idéia. Em que prevalece, na verdade, a figura vendida na campanha eleitoral como um produto em vez das propostas políticas. Isso tudo vai implicar uma radical mudança, inclusive no comportamento do parlamentar, da relação do parlamentar com a sociedade, da relação do partido com a sociedade, da relação do governo com o parlamento e do governo com a sociedade. O governo está empenhado nessa reforma política? A questão da reforma política é a mais importante desta legislatura. Se não conseguirmos aprovar uma reforma política, seremos profundamente derrotados na perspectiva de transformar as relações governamentais e parlamentares no Brasil. "Se não conseguirmos aprovar uma reforma política, seremos profundamente derrotados na perspectiva de transformar as relações governamentais e parlamentares no Brasil" Ela é mais importante do que a reforma do Judiciário? É bom que se diga que apenas uma parte da reforma está sendo concluída. A reforma do Judiciário passa por uma dimensão constitucional, infraconstitucional (lei complementar e ordinária) e por questões relativas a gestão. O que o Senado concluiu foi apenas uma etapa da reforma constitucional. Uma parte dessas mudanças ainda terá de voltar para a Câmara, em que pese que coisas importantes já possam ser promulgadas, algumas para o bem e outras para o mal. O senhor se refere a que pontos? "Os nossos senadores romperam com uma posição Por quê? O STF vai poder tudo em relação às leis. Não só em casos concretos, mas genéricos também. Vou dar um exemplo. Vamos imaginar que a Câmara aprove o seguinte: aqueles que comprarem telefone cinza terão de pagar 5% de imposto. O Supremo, então, baixa uma súmula vinculante dizendo: entende-se por cinza tudo aquilo que não é preto ou branco. Vai valer a decisão do STF, por mais que o Legislativo não quisesse estabelecer aquilo. Isso, a meu ver, implica uma distorção democrática. Então, pode-se dizer que essa é uma interpretação que precisa ser revista. Mas quem vai revê-la? O próprio Supremo. Pode-se dizer que a interpretação é inconstitucional. É preciso entrar com uma ação de inconstitucionalidade. Quem vai julgá-la? O próprio Supremo. Quer dizer, os que vão fixar a interpretação da lei serão os mesmos que poderão rever e dizer que o que eles disseram é inconstitucional. "Eles (ministros do STF) acabarão tendo um poder Na prática, a súmula vinculante transforma o Judiciário, mais especificamente o Supremo, em um superpoder? Outro aspecto que também me parece grave é o processual mesmo. Caso um juiz descumpra uma súmula vinculante, a parte que se sentir atingida pelo descumprimento do juiz poderá apresentar uma reclamação direta no STF. Isso vai atolar o STF de processos, exatamente ao contrário que se alega. Em vez de simplificar, vai complicar as coisas. Acho isso um desastre processual. Há ainda uma outra questão. O juiz, diante de um caso concreto, apresenta novos argumentos e invoca novas realidades para que os tribunais superiores mudem suas decisões. Quando se cristalizar a súmula vinculante, o Supremo sequer vai conhecer as razões que vêm debaixo até para refletir melhor sobre o que já foi decidido. Vai retirar um oxigênio importante para a jurisprudência, que é o argumento em contrário. Uma súmula que foi dada 30 anos atrás talvez hoje não se mostre adequada à realidade. Como fazer com que os tribunais superiores percebam a necessidade de rever as súmulas se não tivermos essa oxigenação do sistema? Por isso, sou favorável à súmula impeditiva de recursos. "É a afirmação de um superpoder que desequilibra a relação entre os poderes. Quando se fala numa ditadura do Judiciário, acho que é essa a dimensão" Qual a vantagem da súmula impeditiva, que está, inclusive, na PEC que virá para a Câmara? Parte da solução estaria na reforma infraconstitucional? O grosso da reforma passa por mudanças na legislação infraconstitucional. A Secretária Especial da Reforma do Judiciário já encaminhou alguns projetos, mas ainda há muito o que se fazer. É ilusão imaginarmos que a parte constitucional faz a reforma do Judiciário. A reforma do Judiciário é muito mais ampla do que essa mudança que está sendo feita. "É ilusão imaginarmos que a parte constitucional Qual o alcance prático dessa reforma infraconstitucional? |
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