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Uma pomba-do-mato decola a partir da copa de um abacateiro

Congresso em Foco

28/7/2012 | Atualizado às 18:43

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A iminência de uma guerra nuclear no Oriente Médio, a partir de Damasco. A Europa - como diz meu amigo Paulinho de Tharso - pronta para virar geléia. O colapso xavecando o quarto cavaleiro que roda bolsinha nas esquinas de Wall Street: já fizeram contato visual, e parece que vai rolar um programinha barra-pesada. Eu aqui, do alto dessa colina sem nenhuma vontade de dichavar listas nem de fazer qualquer tipo de associação, esgotado. Como se Damasco já tivesse ido - a minha foi - pro beleléu. Se tenho algum sentimento autêntico, é a inveja de mim mesmo, ou melhor: invejo aquilo que eu fui quando, na época em que eu era a bola da vez, me sabotei com tanto empenho e selvageria. Os suplementos culturais do país - jornais, revistas, tevês, Gabis & Gabrielas, etc - me acusavam de ser um gênio. Depois de passar a vida sendo tratado como um imbecil, nada mal. Embarquei. Foi bom. Foi ótimo. Só um imbecil ou um gênio de verdade para não vestir a carapuça. Conheci dezenas de pessoas em questão de poucos meses, fiz um milhão de amigos e passei a acreditar que, além de gênio, eu também devia ser um cara legal. A função precípua de um gênio é realizar desejos. Fui cobrado. E aí descobriram que eu não era nem um gênio nem um imbecil. Me diverti um bocado, e não desperdicei a oportunidade de realizar meus desejos. Zoei demais. Somente sendo um filhodaputa - acredito nisso -, eu não perderia minha alma de uma vez por todas. Hoje estou sozinho. Dei de ombros para a genialidade que não me dizia respeito e, agora, depois de dez anos, percebo que fui muito inocente e ao mesmo tempo muito arrogante: apostei que o talento prevaleceria em detrimento do jogo sujo. Claro não. Além do jogo sujo, o ramerrame de sempre e, da minha parte, a preguiça de acompanhar a história se repetir ao som de Chitãozinho & Xororó. Francisco de Assis voltou desiludido da Síria, Paulo de Tarso se converteu a caminho de Damasco. Eu sei que a roda do mundo vai girar, talvez gire a partir de uma hecatombe. Se eu fosse um megalômano diria que contribuí significativamente para colocar mais um graveto de lenha nesse reator nuclear, como não é 100% o caso, deponho a favor da vida depois da morte, e acredito na vida antes da morte também. Otimista ? Sei lá, eu escrevi meus livros. E chamo a lição de casa de vingança. Cheguei onde queria. À guisa de testamento e roupa suja lavada em público, queria pedir desculpas aos inocentes que destruí no meio do caminho, aos filhosdaputa, porém, aos que mereceram, eu os destruiria e os amaria irrestritamente se fosse o caso, outras mil vezes, portanto fodam-se. O balanço é um desastre, vá lá, mas eu fiz a coisa que devia ser feita, My Way numa versão - muitas vezes - redondamente enganada. Arrependimento nenhum. Assino embaixo de todos os minutos que permaneci pasmo, pelo transe e pelo tesão viveria tudo outra vez. Um muro de diamantes coberto de ervas daninhas, e daí? Quando rezo o Pai Nosso - difícil me livrar dessa mania -, não me atenho mais ao esforço sobrenatural de perdoar nem de ser perdoado, às vezes não consigo passar daquele trecho que diz para ser feita a vontade Dele, assim na terra como no céu. Ou seja. Aguardo. Persisto na espera, e assimilo apenas a parte mais dolorida da lição. Perdi? Se perdi, foi porque voltei para casa de mãos abanando e braços abertos. Não encontrei a garotinha de olhos tristes e amendoados que chorava por mim na porta da escola. Vou fazer de conta que ela é o bem que vai me cobrir e me enterrar junto às outras maldições, e desse modo me reconciliarei com os quarenta e seis anos que a esperei. A verdade, filha, é que não floresci. Escolhi ser o pesticida, e você naturalmente não vingou, eu bem que tentei, mesmo sabendo que minha vocação era o deserto, acreditei que podia fertilizar, se não fosse assim, sucumbiria ao meu próprio veneno e não conseguiria sequer enganar a mim mesmo, e isso, enganar a si mesmo e à distinta platéia, ao menos nisso, logrei êxito, meus poucos leitores são testemunhas dos engodos que, desde meu primeiro livro, eu empenhei como se fossem a última vez. Dessa vez é. Depois de tudo - vejam só -, o máximo que consegui foi chegar até o alto dessa colina e pedir pelo amor de Deus. Ah, daqui de cima eu vislumbro o desastre que foi minha vida. Talvez tenha valido a pena. Quem disse que uma vida não valeu a pena somente porque não deu certo? Daqui de cima a vista é magnífica, o ar é puro e quando eu gritar pelo amor de Deus pela última vez, tenho certeza que uma pomba-do-mato vai decolar a partir da copa de um abacateiro. Deixo os direitos autorais dos meus livros para a Apae. Não tenho mais nada a dizer nem coisa alguma a acrescentar. Ninguém ia dar bola mesmo. Iguais a eles, têm mais de milhão. Iguais a mim, nem tanto. Qual a diferença entre um sujeito se jogar dentro de um caminhão de lixo (Sergio Leone, Era uma Vez na América), e um xarope esperar a próxima pomba-do-mato decolar a partir da copa de um abacateiro?
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