A lista dos parlamentares que, no entender da CPI dos Sanguessugas, devem responder a processos por quebra de decoro parlamentar traz implícito um verdadeiro mapa da corrupção. Ele mostra quais são os partidos e regiões nos quais se concentram os congressistas acusados de envolvimento com a máfia das ambulâncias.
Os resultados da análise por região colocam em xeque um mito largamente repetido sobre a representação política nacional: a idéia de que a corrupção política no país se concentraria nas regiões Norte e, sobretudo, Nordeste. Desafiando a antiga tese, nada menos que 30 dos 72 nomes lançados no cadafalso pela CPI (ou seja, 42% do total) são do rico e poderoso Sudeste.
Como já era notório, o Rio de Janeiro se destaca, com 13 deputados. São Paulo tem nove representantes na lista. Minas, seis; e o Espírito Santo, dois. Outro fato curioso: apenas quatro estados (Goiás, Rio Grande do Norte, Piauí e Amazonas) não estão representados na relação dos sanguessugas
A região Sul é quem tem menos nomes na relação divulgada hoje: cinco (7%). Para as demais regiões, os números são os seguintes: Nordeste, 17 (23%); Norte, 12 (17%); e Centro-Oeste, oito (11%).
Distribuição por partidos
PL, PTB e PP, os chamados "três porquinhos", encabeçam a lista, com dois terços dos congressistas (e ex-congressistas, já que a relação traz um suplente de deputado, Ricardo Rique, do PL paraibano, que atualmente não exerce o mandato). O PL, com 19 nomes; o PTB, com 16; e o PP, com 13.
A dimensão do envolvimento do trio no caso é mais um problema para a administração Lula, já que os três partidos são da base governista. A lista não sai barata, porém, para a oposição.
Os dois principais partidos oposicionistas estão devidamente representados; o PFL, com sete parlamentares, empatando com o PMDB; e o PSDB, com um representante, Paulo Feijó, do Rio de Janeiro.
Eis os números dos demais partidos: PSB, quatro; PT e PRB, dois cada; PSC, um. Dos partidos com representação no Congresso, não têm integrantes na lista o PCdoB, o PDT, o Psol, o Prona, o PPS e o PV. Coincidência ou não, com exceção do Prona, todas essas agremiações situam-se à esquerda do espectro partidário.
Os números relativos à distribuição dos sanguessugas por partido e região fornecem ótimo material de análise tanto para os cientistas políticos e os pesquisadores em geral quanto para os eleitores. Mas devem ser compreendidos à luz de uma fato que não se deve ignorar.
Embora ampla, a lista aprovada pela CPI é produto de intensas negociações de bastidores envolvendo a inclusão (ou não) dos nomes afinal atirados na lama, e não pode ser vista como uma verdade fiel e absoluta. Não se pode descartar a possibilidade de alguns parlamentares listados serem inocentes. Assim como, muito provavelmente, alguns envolvidos nas fraudes ficaram de fora da relação, seja por falta de provas, seja por conta das citadas negociações. (Sylvio Costa)