Reportagem da Folha de S. Paulo revela que 45 ex-assessores de sete deputados que deixaram a Câmara envolvidos no escândalo do mensalão foram alocados, sem concurso público, em outros gabinetes. A matéria, assinada por Ranier Bragon, mostra ainda que o ex-líder do PMDB José Borba (PR) continua a despachar semanalmente na liderança do partido na Casa.
Borba renunciou ao mandato no ano passado para escapar do processo de cassação depois de ser acusado de ter recebido R$ 2,1 milhões do empresário Marcos Valério Fernandes. Dois de seus três filhos e outros seis ex-assessores de seu gabinete mantiveram o emprego no Legislativo com salários de até R$ 7.500.
Para a maioria dos sete deputados federais que perderam o mandato devido à crise (três foram cassados, e quatro renunciaram antes da abertura do processo), a punição não significou o afastamento do Congresso ou da vida pública, de acordo com a reportagem. Dos 19 deputados suspeitos de envolvimento com o mensalão, 11 foram absolvidos pela Câmara; só falta julgar José Janene (PP-PR).
Cruzamento feito pela Folha entre o nome dos funcionários que trabalhavam nos sete gabinetes e a atual lista de pessoal da Câmara mostra que 45 ex-assessores dos acusados foram alocados, sem concurso público, em gabinetes de correligionários, de suplentes ou em órgãos da Câmara sob influência dos partidos.
"Estou acompanhando alguns projetos, tenho saldo das emendas remanescentes. Vou aos ministérios aonde estão os projetos, já que tenho tido algumas liberações", explica-se Borba. As "liberações" são relativas às emendas que cada parlamentar faz anualmente ao Orçamento da União (em geral, destinando recursos a obras em seus redutos eleitorais). Borba está em campanha para se reeleger.
Dos 18 funcionários de seu gabinete, oito permaneceram na Câmara após sua renúncia. Quatro foram para a liderança do PMDB, incluindo seu filho Fabio Rodrigues Borba. Outros dois - entre eles, outro filho, Marcelo Rodrigues Borba - foram para a Coordenação de Registro Funcional da Câmara, órgão famoso por abrigar parentes de deputados.
Nem todos os 45 assessores escaparam da degola por influência. Tudo indica que há funcionários que buscaram novo emprego por conta própria e, pelo currículo, foram admitidos sem ajuda do ex-chefe, pondera a reportagem. Em alguns casos, não há qualquer vínculo político entre o gabinete anterior e o ocupado hoje pelos assessores.
O "campeão" na tarefa de emplacar ex-assessores foi Carlos Rodrigues (sem partido-RJ), que renunciou para escapar da cassação. Sete ex-funcionários continuaram trabalhando para Reinaldo Gripp (PL-RJ), que assumiu a vaga. Todos, porém, já foram exonerados.
Um deles, Lidio Couto Amorim, migrou para o gabinete de Wanderval Santos (PL-SP), acusado de envolvimento com o mensalão que acabou absolvido. Vieira Reis (PRB-RJ) e Zelinda Novaes (PFL-BA) também abrigaram ex-funcionários de Rodrigues.
O ex-deputado está preso, acusado de envolvimento no escândalo das ambulâncias.
Roberto Jefferson (PTB-RJ), autor da denúncia sobre o mensalão e um dos três cassados, teve oito ex-assessores "reaproveitados": quatro no gabinete de Fernando Gonçalves (PTB-RJ), que assumiu sua vaga, dois na liderança do PTB e dois na 2ª secretaria da Câmara, controlada por seu aliado Nilton Capixaba (PTB-RO).
Já Pedro Corrêa (PE), que continua na presidência do PP mesmo após ter sido cassado, em março, viu seis ex-assessores manterem seus empregos.