Juíza diz não saber onde errou

Eduardo Militão
Aos 61 anos, a juíza titular da 9ª Vara Criminal de Cuiabá, Maria Cristina Simões, está de licença em Tupã, no noroeste de São Paulo. Diz que não tem condições psicológicas de trabalhar. Ela é uma dos dez magistrados acusados de desviar mais de R$ 1 milhão do Tribunal de Justiça do Mato Grosso (TJMT), e que podem ser condenados à aposentadoria compulsória no julgamento de terça-feira (23) no Conselho Nacional de Justiça.

Muito abalada, ela chorou diversas vezes ao telefone - "Estou abrindo o meu coração" - ao explicar sua situação. "Eu não consigo enxergar onde eu errei", repetia ela, ao Congresso em Foco. Ex-funcionária do Tribunal de Justiça de São Paulo, Maria Cristina passou no concurso para juíza no Mato Grosso há 15 anos.

Ela diz que recebeu os valores dos créditos do TJMT a que tinha direito por licença-prêmio e férias indenizadas. "Recebi crédito a que tinha direito e que ainda tenho perante o tribunal", revela Maria Cristina, que desconhece se eventualmente recebeu valores a mais do que merecia.

A juíza foi procurada por dois colegas magistrados. "Eles me falaram que estavam socorrendo irmãos", conta. Os maçons chamam uns aos outros de irmãos. Maria Cristina, porém, reforça que o dinheiro era dela e que ela poderia fazer o que quiser com ele.

Além disso, o valor foi todo devolvido, mas sem a cobrança de juros. "Não aceitei juros. São meus amigos." Com a devolução da verba, Maria Cristina comprou um apartamento que estava procurando à época do empréstimo.

A titular da 9ª Vara Criminal teme que ninguém no CNJ considere sua história de vida e profissão ao julgar seu caso. "Eu não sei o que esperar. Não sou conhecida em Brasília e as pessoas não sabem a minha história."

Para Maria Cristina, o risco é ser punida por usar o seu próprio dinheiro como quiser. "Estou correndo o risco de ser condenada com uma penalidade por uso de um dinheiro que é meu. Eu poderia não emprestar se não quisesse."

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