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Violência

Um ataque à democracia

O ataque à Professora Melina Fachin é também um ataque à democracia brasileira.

Adriana Cecilio

Adriana Cecilio

Adriana Monteiro

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Juliana Izar Soares da Fonseca Segalla

Juliana Izar Soares da Fonseca Segalla

Luciana Almeida da Silva Teixeira

Luciana Almeida da Silva Teixeira

16/9/2025 17:29

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Em 09 de setembro de 2025, a professora Melina Fachin sofreu um ataque violento em frente à Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, da qual ela é a Diretora do Curso. Um homem cuspiu em seu rosto e a atacou dizendo "lixo, comunista". O gesto não foi apenas uma agressão física: foi um ato simbólico de silenciamento e humilhação de uma mulher que ousa ocupar um espaço público de prestígio intelectual e político.

Esse triste episódio se insere em um contexto mais amplo de violência política, que já vitimou Marcelo Arruda e Marielle Franco letalmente, de forma brutal. Trata-se de uma escalada preocupante da violência que tem alcançado figuras da política e da área cultural em nosso país. Podemos citar episódios como os que envolveram Chico Buarque, um dos maiores artistas vivos de nosso País que foi hostilizado enquanto almoçava em um restaurante com Edu Lobo e Cacá Diegues (outros dois gigantes da nossa cultura) e Fernanda Torres, ao ganhar o Oscar de melhor filme internacional, foi alvo de ataques na internet por brasileiros que a chamaram de comunista.

Da redemocratização até 2017, as divergências políticas existiam, mas eram disputadas por meio de argumentos, campanhas e debates. O pluralismo político - fundamento da República Federativa do Brasil - garante diversidade de visões. Esse princípio fundamental proporcionou uma ampla gama de partidos com visões de mundo diversas e estratégias de governança diferentes. Mas havia urbanidade e respeito mútuo. A partir de 2018, no entanto, o ódio passou a ser instrumentalizado como ferramenta política.

Essa política do ódio gerou frutos.

Estamos acompanhando a instauração do "nós" contra "eles". Como bem explica Hannah Arendt, a criação da figura do inimigo, aquele que não tem direito a ter direitos. Contra o inimigo vale tudo. É a banalidade do mal se manifestando em atos cometidos por pessoas comuns que foram cooptadas pelo discurso de ódio e perderam o senso crítico, passando a acreditar que a violência é legítima (quando é usada para defender aquilo que EU penso).

E é a isso que estamos assistindo, estupefatos, sem conseguir reagir. Um país que sempre foi reconhecido pela alegria de seu povo, hoje convive com ameaças terroristas e atentados. Importante lembrar que o atentado realizado em frente ao Supremo Tribunal Federal foi realizado por um homem comum, alguém que até pouco tempo atrás não se interessava por política.

Importantíssimo repisar que o problema não é a política, mas sim o ódio disfarçado de discurso político.

A falsa ideia do comunismo, criada na Ditadura, como inimigo imaginário para justificar a violência do estado, com uma nova roupagem, ainda mantém um suposto escudo na promoção de violência contra quem luta por direitos e garantias.

Estamos assistindo pessoas sequestradas por discursos extremamente violentos, passando a acreditar que aqueles que pensam diferente devem ser combatidos e, até exterminados. Vemos famílias destruídas por força desse suposto antagonismo político, mas que não passa de um discurso de ódio violento e sem sentido, que precisa urgentemente ser desmascarado.

Nossa jovem e ainda vulnerável democracia segue tentando sobreviver ao seu maior teste, desde 1988. Nossas instituições estão garantindo sua manutenção e aplicação do Direito, mas precisamos nos mobilizar, como sociedade civil organizada, para conseguirmos nos comunicar com quem se perdeu no personagem de justiceiro, porque isso é muito perigoso para todos nós.

O contexto social indica a urgente necessidade de ativar o respeito pelas diferenças de ideias, gênero, raça, no caminho de garantir os direitos fundamentais e o pensamento crítico de todas as pessoas sem o atravessamento da violência. Romper esse mecanismo de controle de corpos, seja do estado ou de qualquer pessoa pelo uso da força, na tentativa de dominação,requer cooperação, solidariedade e união no sentido fraterno. Tal condição pode ocorrer com o uso do conhecimento e da sabedoria africana "eu sou porque nós somos" (Ubuntu).

Nesse passo, precisamos destacar que a violência perpetrada por esses grupos não atinge a todos da mesma forma. As mulheres, especialmente as negras, indígenas, periféricas e LGBTQIA+, estão na linha de frente dos ataques. Dilma Rousseff, Benedita da Silva, Maria do Rosário, Erika Hilton, Manuela DÁvila, Marina Silva - a lista é longa e revela um padrão: quando a mulher ocupa espaço de poder, questiona desigualdades e defende direitos, passa a ser alvo preferencial da intolerância.

A agressão sofrida por Melina Fachin não é um caso isolado, trata-se de mais um capítulo dessa política de ódio que se vale de mecanismos de intimidação e que tem gerado uma consequência extremamente danosa à democracia, o afastamento das mulheres da vida pública. Melina foi mais uma vítima dessa grande tragédia que a sociedade brasileira está enfrentando.

Por todas essas razões, é correto afirmar que o ataque à Professora Melina Fachin é também um ataque à democracia brasileira. E nós mulheres, que há tanto tempo resistimos, continuaremos lutando para proteger o ambiente democrático, defendendo que o mínimo civilizatório para coexistência é dever de todas as pessoas, afinal, é objetivo de nossa República a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, e só construiremos essa nação que sonhamos com união, fraternidade, empatia e respeito, não com divisão, ódio, preconceito e violência.

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