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Indústria
2/10/2025 15:00
O Brasil projeta liderar a transição energética e climática global, uma ambição que será o centro das atenções na COP30. No entanto, enquanto a diplomacia constrói a imagem de uma potência verde, ruídos na política econômica interna emitem sinalizações contraditórias, gerando uma insegurança que preocupa investidores e executivos. O microcosmo perfeito desse dilema é um objeto do nosso cotidiano: a lata de aço.
Por trás dela, opera um dos ecossistemas de economia circular mais eficientes do planeta. A indústria brasileira de embalagens de aço estruturou um modelo de logística reversa que é referência. O trabalho da Prolata Reciclagem, entidade gestora criada pelo setor, resultou na destinação correta de quase 82 mil toneladas de embalagens pós-consumo em um ano, um crescimento de 29%. O impacto climático é igualmente notável: evitou-se a emissão de 123 mil toneladas de CO. É um modelo de negócio circular, escalável e que fortalece o elo social da cadeia, apoiando diretamente mais de 2 mil catadores em 87 cooperativas.
Este é o tipo de ativo que deveria ser celebrado e potencializado pela estratégia de neoindustrialização do país. Contudo, na prática, ele é penalizado. O mesmo governo que cobra metas de sustentabilidade impõe uma sobretaxa antidumping para a importação de folhas de aço, matéria-prima fundamental para a indústria.
Embora a defesa comercial seja um instrumento legítimo, sua aplicação descoordenada da política ambiental cria uma disfunção sistêmica. Ela restringe a concorrência e eleva os custos para um setor que já cumpre, com excelência, seu dever de casa na agenda ESG. Em última instância, onera-se a competitividade da indústria nacional e o bolso do consumidor, que paga mais caro pelo produto na gôndola.
Chegamos a uma encruzilhada estratégica. O Brasil precisa decidir se sua política industrial será um conjunto de ações fragmentadas, que protege um elo da cadeia em detrimento de outro, ou um projeto integrado e coerente. Qual sinalização o país quer dar ao capital que busca investir na economia verde? Uma que preza pela segurança jurídica e recompensa a performance ambiental ou uma que pode, a qualquer momento, anular os ganhos de sustentabilidade com uma decisão comercial?
A coerência entre as agendas comercial, industrial e ambiental não é um detalhe, mas o pilar de uma economia verde confiável. Uma política industrial moderna deve usar métricas de desempenho, como as taxas de reciclagem, para criar um ambiente de negócios que favoreça quem inova e investe na circularidade.
A indústria da embalagem de aço já provou que o caminho da sustentabilidade é rentável e gera impacto social positivo. Cabe aos formuladores de políticas públicas garantir que essa jornada não seja interrompida por contradições internas.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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