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Tecnologia

A nova fronteira da conectividade: data centers distribuídos para um Brasil digital para todos

Descentralizar o processamento de dados é o caminho para fortalecer a soberania, reduzir desigualdades e ampliar a inclusão digital.

Aníbal Diniz

Aníbal Diniz

23/10/2025 13:23

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O país precisa de uma política nacional de data centers que aproveite a infraestrutura regional já instalada e descentralize o processamento de dados, garantindo soberania, competitividade e inclusão digital. Durante anos, o debate sobre conectividade no Brasil concentrou-se em expandir o acesso à internet, levando banda larga a mais cidades e reduzindo desigualdades no uso de serviços digitais. Essa etapa foi essencial, mas já não é suficiente. Mas o desafio de agora é outro: garantir que o processamento dos dados - e, portanto, o coração da economia digital - também ocorra dentro do território nacional, de forma sustentável, segura e distribuída. É nesse ponto que a criação de uma Política Nacional de Data Centers atualmente em discussão no governo se torna decisiva para o futuro do país, tanto sob a ótica da soberania digital quanto da competitividade econômica.

O Brasil dispõe de uma infraestrutura que poucos países emergentes podem ostentar: uma vasta malha de fibra óptica e dezenas de milhares de Pontos de Presença (POPs) espalhados por todas as regiões, resultado direto do esforço de milhares de prestadoras regionais de banda larga que, com investimento próprio e atuação local, levaram conectividade de alta qualidade a mais de 5 mil municípios. Essa rede capilar, construída silenciosamente ao longo dos últimos anos, é o alicerce de uma nova etapa de desenvolvimento - a transformação dos POPs em micro e mini data centers regionais, capazes de processar informações mais perto dos usuários, reduzir a latência das aplicações e fortalecer a resiliência da infraestrutura digital nacional.

Nos Estados Unidos, esse movimento já é realidade: políticas públicas federais e estaduais de incentivo fiscal e energético impulsionaram a criação de mais de 4 mil data centers distribuídos por todo o território, incluindo pequenas e médias cidades, o que reduziu a concentração de infraestrutura e aumentou a autonomia tecnológica regional. Em contraste, o Brasil conta atualmente com menos de 200 data centers, concentrados em sua maioria nas regiões Sudeste e Sul - uma assimetria que evidencia a urgência de políticas voltadas à descentralização e ao aproveitamento da infraestrutura existente.

A importância dessa descentralização vai muito além de questões técnicas. Hoje, cerca de 60% da carga digital brasileira é processada no exterior, principalmente em grandes centros de dados localizados nos Estados Unidos. Isso significa que boa parte dos serviços públicos e privados usados por milhões de brasileiros depende de infraestrutura estrangeira, sujeita a riscos econômicos e geopolíticos. A soberania digital, nesse contexto, deixa de ser um conceito abstrato e se converte em uma necessidade concreta de segurança nacional.

Outro aspecto crítico é a forte concentração geográfica dos data centers instalados no país. Mais de 70% deles estão no eixo Rio-São Paulo, enquanto vastas regiões do Norte, Nordeste e Centro-Oeste seguem desassistidas. Essa assimetria limita a eficiência da economia digital e perpetua desigualdades regionais. Uma política pública que estimule a interiorização do processamento de dados, aproveitando a infraestrutura já existente das redes regionais, pode inverter essa lógica, transformando o Brasil de um importador de serviços digitais em um exportador de soluções tecnológicas.

Aproveitar a rede de provedores regionais pode transformar o país em referência em conectividade, eficiência e sustentabilidade.

Aproveitar a rede de provedores regionais pode transformar o país em referência em conectividade, eficiência e sustentabilidade.Freepik

Os POPs regionais são o ponto de partida mais inteligente para essa mudança. São estruturas compactas, de baixo consumo energético, muitas vezes alimentadas por fontes renováveis, e que já operam com padrões técnicos avançados. Com incentivos adequados - como linhas de crédito específicas, desoneração de equipamentos, regras claras de licenciamento e metas de eficiência energética -, esses pontos podem se converter em uma rede nacional de data centers de borda (edge), capaz de atender desde aplicações industriais e sistemas públicos até plataformas de inteligência artificial e cidades inteligentes.

Além da descentralização, a sustentabilidade deve estar no centro da nova política. O Brasil tem uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, com predominância de fontes renováveis. Essa vantagem pode ser decisiva para que o país se torne referência em data centers verdes, com baixo impacto ambiental e alto desempenho energético. A incorporação de práticas ESG, certificações de eficiência e estímulos à autogeração solar descentralizada não é apenas uma exigência ambiental: é uma oportunidade econômica para atrair investimentos internacionais e gerar empregos qualificados nas regiões que mais precisam de desenvolvimento.

Mas uma política nacional de data centers não se limita à infraestrutura física. É também um projeto de autonomia tecnológica. Nenhum país é verdadeiramente soberano se depende de softwares estrangeiros para operar suas redes. Por isso, o Brasil precisa investir em sistemas operacionais de rede abertos e auditáveis, desenvolvidos em território nacional, que garantam segurança cibernética, interoperabilidade e independência tecnológica. Dominar essa camada lógica é o passo que transforma a infraestrutura em poder estratégico.

O país tem, portanto, todos os elementos necessários para liderar essa transformação: base instalada, energia limpa, capacidade técnica e uma rede de provedores regionais que provaram ser os verdadeiros motores da conectividade no Brasil. Falta agora uma política de Estado que articule esses ativos de forma inteligente, conectando inovação, sustentabilidade e desenvolvimento regional.

A história recente mostra que, quando o Estado atua de forma estratégica, os resultados são inequívocos. Foi assim com a regulação pró-competitividade que abriu espaço para milhares de pequenos provedores transformarem a banda larga fixa brasileira. Agora, é chegada a hora de dar o próximo passo. Instituir uma Política Nacional de Data Centers que valorize o potencial regional e reduza a dependência externa não é apenas uma escolha técnica - é uma decisão política de grandeza nacional. É apostar em um Brasil que controla sua própria infraestrutura digital, protege seus dados, gera oportunidades onde antes havia exclusão e projeta seu protagonismo no mundo conectado do século XXI.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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