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Violência de gênero

A escalada da violência contra mulheres em São Paulo expõe uma crise nacional

Recorde de feminicídios na capital revela falhas na prevenção, fragilidade das redes de proteção e a urgência de políticas públicas mais eficazes.

Lourival Figueiredo Melo

Lourival Figueiredo Melo

4/12/2025 10:00

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A série de episódios recentes de violência extrema contra mulheres na capital paulista expõe uma realidade que o país não pode mais tratar como exceção. Em um único fim de semana, duas trabalhadoras foram alvo de agressões brutais — uma atropelada e arrastada por cerca de um quilômetro após sair de um bar; outra baleada diversas vezes pelo ex-companheiro enquanto trabalhava. Ambos os casos foram registrados como tentativa de feminicídio.

Essas ocorrências não são fatos isolados. Em 2025, a cidade de São Paulo alcançou 53 casos de feminicídio consumado, o maior número da série histórica, mesmo sem ter encerrado o ano. Levantamento do Instituto Sou da Paz mostra que a capital concentrou um em cada quatro feminicídios do estado, com alta de 23% nos dez primeiros meses deste ano em comparação ao mesmo período de 2024. Em relação a 2023, o aumento chega a 71%.

Os padrões se repetem: 67% dos feminicídios ocorrem dentro de casa, frequentemente cometidos por parceiros ou ex-parceiros. Em mais da metade dos casos, são utilizadas armas brancas ou objetos contundentes, o que evidencia um ciclo contínuo de violência que evolui até o ataque letal.

A legislação brasileira avançou ao reconhecer o feminicídio como qualificadora do homicídio, mas a norma sozinha não tem impedido a escalada da brutalidade. Especialistas apontam que muitos crimes são o desfecho de um ciclo prolongado de controle, humilhações e ameaças. E reforçam que a prevenção depende não apenas de punição, mas de identificação precoce dos sinais, fortalecimento da rede de proteção e ampliação de políticas públicas efetivas.

A violência contra a mulher, porém, não se limita ao espaço doméstico. Ela atravessa o mundo do trabalho, impactando diretamente a vida profissional, a renda e a saúde física e emocional das vítimas. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), mulheres que sofrem violência têm maior probabilidade de faltar ao serviço, perder produtividade e abandonar o emprego. A ONU Mulheres aponta que 55% das brasileiras já sofreram assédio no ambiente de trabalho.

Explosão de casos em São Paulo mostra redes de proteção fragilizadas e o papel decisivo do mundo do trabalho no combate à violência.

Explosão de casos em São Paulo mostra redes de proteção fragilizadas e o papel decisivo do mundo do trabalho no combate à violência.Freepik

No setor de comércio e serviços — onde predominam mulheres —, esses impactos são ainda mais visíveis. A autonomia econômica, muitas vezes, é justamente o caminho que permite romper o ciclo de violência. Por isso, quando o ambiente profissional falha em acolher, orientar ou proteger, ele contribui para perpetuar o problema.

O Brasil também enfrenta o avanço de discursos de ódio contra mulheres nas redes sociais, o que alimenta comportamentos violentos e normaliza a misoginia. Dados da SaferNet indicam que denúncias de conteúdos misóginos cresceram mais de 200% nos últimos anos. Além disso, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública estima que os custos anuais da violência doméstica ultrapassam R$ 1 bilhão, considerando saúde, previdência e justiça — sem incluir perdas de produtividade.

Diante desse cenário, empresas, sindicatos e entidades representativas não podem adotar uma postura de neutralidade. É necessário criar protocolos de acolhimento, treinar equipes para reconhecer sinais de risco, orientar trabalhadoras sobre medidas protetivas e estabelecer canais internos seguros de denúncia. O ambiente de trabalho é, para muitas vítimas, o único lugar onde elas podem pedir ajuda.

Também é papel do setor produtivo cobrar do poder público a ampliação de delegacias especializadas, equipes de atendimento humanizado, programas de prevenção, campanhas permanentes e políticas de educação que abordem desigualdade de gênero desde a infância.

A violência contra mulheres no Brasil tem raízes profundas — culturais, sociais e estruturais —, mas isso não pode servir de justificativa para a inação. Cada agressão é uma ruptura coletiva. Cada feminicídio interrompe uma vida, uma família, um futuro e uma trajetória profissional.

Se a violência cresce, não é porque mulheres se tornaram mais vulneráveis, mas porque a sociedade ainda falha em garantir proteção, autonomia e igualdade. O enfrentamento ao feminicídio precisa ser prioridade nacional. E o mundo do trabalho — que molda rotinas, oportunidades e relações — tem responsabilidade direta nesse processo.

Combater a violência contra mulheres é proteger vidas, fortalecer direitos e assegurar que nenhum ambiente, seja doméstico ou profissional, seja palco de medo. É uma tarefa de todos.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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