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Gisele Agnelli
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Autoritarismo
30/5/2025 8:17
O governo Trump suspendeu entrevistas para vistos de estudantes internacionais, ameaçou com auditorias ideológicas universidades que "falham em promover os valores americanos" e ordenou a rescisão de mais de US$ 3 bilhões em contratos federais com Harvard. A justificativa? A suposta "falta de comprometimento com os princípios da não discriminação, da diversidade de opinião e dos valores nacionais".
Entre as medidas mais alarmantes do governo Trump contra Harvard está a imposição de uma triagem ideológica nas redes sociais de estudantes internacionais. Na prática, antes mesmo de entrarem nos Estados Unidos, estudantes admitidos em universidades como Harvard terão seus perfis digitais vasculhados em busca de opiniões consideradas "hostis aos valores americanos".
Essa prática, caso instalada, representaria uma afronta direta à Primeira Emenda da Constituição dos EUA. A Primeira Emenda protege a liberdade de expressão e proíbe o governo de punir alguém por suas opiniões políticas. Embora estudantes estrangeiros não sejam cidadãos americanos, a Suprema Corte já decidiu que, ao criarem programas oficiais como os vistos de estudo (F-1 e J-1), as autoridades públicas não podem condicionar o acesso a esses programas ao abandono de um direito constitucional fundamental.
"O Estado não pode condicionar um benefício público à renúncia de um direito constitucional." Princípio estabelecido pela Suprema Corte.
A triagem de redes sociais, caso imposta como critério de visto aos estudantes internacionais, não só é inconstitucional, como compromete o ethos democrático dos Estados Unidos. É o retorno da lealdade ideológica como critério de pertencimento, numa lógica que lembra as listas negras do macarthismo ou os exames de pureza política em regimes totalitários.
Theodor W. Adorno, em A Personalidade Autoritária (1950), afirma que o fascismo não se impõe apenas com tanques ou censura explícita, ele germina como uma estrutura de personalidade. Entre os traços dessa estrutura estão: rigidez cognitiva, aversão à ambiguidade; submissão a figuras percebidas como "fortes"; projeção agressiva contra alvos simbólicos: intelectuais, minorias, artistas, professores.
Trump é a encarnação dessa personalidade autoritária. Seu discurso é binário, seu estilo é performático e sua política é orientada pelo desejo de suprimir toda forma de questionamento. Para Adorno, o intelectual é visto como uma ameaça à ordem imaginária do autoritário porque duvida, relativiza, revela contradições.
"O anti-intelectualismo é uma das manifestações centrais da personalidade autoritária. O intelectual é visto como alguém perigoso porque duvida, pensa, questiona."
(Adorno, Educação após Auschwitz)
Nesse sentido, Harvard é um símbolo daquilo que a personalidade autoritária deseja destruir: um espaço onde o saber é fim em si mesmo, onde a dúvida é cultivada, onde a obediência cega é substituída por pensamento crítico. O ódio de Trump a Harvard pode ser lido, à luz de Adorno, como expressão de um narcisismo defensivo: a hostilidade ao mundo intelectual é o reflexo do medo de ser exposto como impostor. Ao invés de construir pontes entre saber e poder, Trump governa pelo ressentimento.
Adorno descreve que a personalidade autoritária precisa projetar em "outros" (os intelectuais, os comunistas, os judeus, os estrangeiros, os professores) aquilo que ela reprime em si mesma: a dúvida, a insegurança, a culpa. "O ódio ao intelectual é, na verdade, uma forma de lidar com o próprio medo do pensamento." Ou seja: o recalque de Trump diante do mundo intelectual é também medo de ser desmascarado como ignorante, como impostor. O narcisismo defensivo se expressa no ataque aos que o expõem simbolicamente.
A escolha de Harvard como alvo não é casual. Ela permite a Trump mobilizar afetos reativos: o anti-elitismo, o ressentimento de classe, o nacionalismo identitário. Ele pinta Harvard como um antro de marxismo cultural, decadência moral, elitismo progressista, e com isso, transforma a universidade em instrumento de mobilização política.
Em seu ensaio Educação após Auschwitz, Adorno afirma que a missão da escola e da universidade não é formar indivíduos ajustados ao sistema, mas sujeitos capazes de resistir à barbárie. A função do saber é libertar, não doutrinar. Por isso, regimes autoritários sempre mirarão as instituições de ensino como ameaças.
Harvard, talvez a maior "Love Brand" de Universidade Global, tornou-se, simbolicamente, a marca de maior Equity de tudo o que o autoritarismo detesta: um espaço de pluralismo, uma instituição que desafia o poder, um santuário da liberdade intelectual. O ataque a ela é parte de uma estratégia mais ampla: minar os pilares da razão para instaurar o império da obediência.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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