Entrar

    Cadastro

    Notícias

    Colunas

    Artigos

    Informativo

    Estados

    Apoiadores

    Radar

    Quem Somos

    Fale Conosco

Entrar

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigos
  1. Home >
  2. Colunas >
  3. O paradoxo do preço | Congresso em Foco

Publicidade

Publicidade

Receba notícias do Congresso em Foco:

E-mail Whatsapp Telegram Google News
LEIA TAMBÉM

Pedro Rodrigues

Data centers e a nova matriz do poder

Energia

O paradoxo do preço

Num mundo de demanda crescente por energia o petróleo está cada vez mais barato.

Pedro Rodrigues

Pedro Rodrigues

30/10/2025 9:00

A-A+
COMPARTILHE ESTA COLUNA

O mercado mundial de petróleo vive um paradoxo e um momento inédito. Com a demanda global crescente por energia, o barril do petróleo segue em queda. Façam um exercício, olhem no seu entorno e imaginem um mundo sem petróleo. Apesar de muito relevante para o nosso bem-estar e muitas vezes com importância silenciosa (diversos produtos do nosso dia a dia só podem ser feitos com o petróleo) esse ouro negro vem perdendo protagonismo, mas não a importância.

Nos anos 1960, o petróleo era hegemônico e sinônimo de progresso. Movia carros, aviões, navios e, em um tempo em que o carvão ainda reinava, começava a iluminar cidades inteiras. O mundo que emergia do pós-guerra, assim como hoje, estava sedento por energia, e o barril era o símbolo máximo da modernidade. Ter petróleo era ter poder. Mas o tempo muda - e a energia muda com ele. O mesmo combustível que ajudou a construir o século XX, passou a perder espaço no XXI.

Na década de 70, o petróleo respondia por quase 20% da geração elétrica global. Um produto abundante e barato, sendo assim, o caminho mais rápido para garantir luz nas casas e fábricas. O Japão, por exemplo, chegou a gerar mais da metade de sua eletricidade com óleo naquela década. No Oriente Médio, o petróleo era praticamente sinônimo de energia. Porém, em 1973 começou uma grande mudança. O barril quadruplicou de preço, o primeiro choque do petróleo fez o mundo entender o preço da dependência. No mais perfeito exemplo de destruição criativa, em poucos anos, surgiram novas tecnologias, governos diversificaram suas matrizes e buscaram alternativas - gás natural, energia nuclear e, mais tarde, fontes renováveis.

A era do petróleo chega ao limite econômico em meio ao avanço da eletrificação e à corrida global por baixo carbono.

A era do petróleo chega ao limite econômico em meio ao avanço da eletrificação e à corrida global por baixo carbono.Freepik

Desde então, o declínio foi constante: em 1965, o petróleo representava 16% da geração de energia elétrica; em 1980, 13%; em 2000, 6%; e, em 2022, apenas 2,7%, segundo dados do Banco Mundial. Hoje, seu uso para geração de eletricidade se restringe a ilhas, regiões isoladas e países exportadores que ainda subsidiam o combustível. No resto do mundo, o petróleo deixou as turbinas para abastecer os tanques. O que antes movia o mundo, hoje apenas o mantém em movimento.

A ironia de hoje é clara: a demanda global por energia nunca foi tão alta, e mesmo assim o petróleo perde fôlego. A Agência Internacional de Energia estima um crescimento médio de 3% ao ano na demanda total de energia entre 2024 e 2026, impulsionado por data centers, eletrificação e urbanização. Mas esse apetite é elétrico - não mais fóssil. Enquanto o consumo de eletricidade dispara, o petróleo enfrenta uma desaceleração. Sua demanda cresceu 0,8 % em 2024, ou seja, menos de um milhão de barris por dia, contra médias de dois a três milhões nos anos de 2021, 2022 e 2023. O barril do Brent, pressionado por oferta abundante e menor ritmo de consumo, ronda os 60 a 65 dólares. E, com base nesse cenário, projeta-se que o preço médio se aproxime dos 50 dólares por barril, no próximo ano.

Apesar de sua perda de protagonismo elétrico, não podemos nos iludir, o petróleo continua sendo a base da mobilidade e da indústria moderna. A demanda, mesmo que de forma mais tímida, continua crescendo e a cada ano o mundo consome mais petróleo. Hoje, quase metade do consumo mundial vai para o transporte rodoviário; outros 7% abastecem aviões e 6% alimentam navios. A petroquímica, que transforma o óleo em plásticos, fertilizantes e tecidos sintéticos, representa cerca de 15% da demanda do planeta. Com esse apetite global, o consumo de petróleo cresceu um total de seis milhões de barris por dia entre 2020 e 2024, puxada principalmente por China, Índia e Oriente Médio.

O fato é que o petróleo já não gera a luz das cidades, mas ainda molda as sombras da geopolítica - e, mais do que isso, continua sendo um dos pilares invisíveis da economia mundial. Mesmo em meio à corrida pela descarbonização, nenhuma outra fonte de energia possui a mesma combinação de densidade, versatilidade e capilaridade. Por isso, o fim da era do petróleo não será físico, mas econômico. Não faltará petróleo; faltará espaço para ele em um mundo que busca eficiência e baixo carbono. Como dizia Sheik Yamani, ex-ministro do Petróleo da Arábia Saudita, "a Idade da Pedra não acabou por falta de pedra, e a do petróleo não acabará por falta de petróleo". O século XX foi movido a petróleo, o XXI movido à elétrons. O barril perdeu o trono - mas não o reinado.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

Siga-nos noGoogle News
Compartilhar

Tags

transição energética petróleo economia

Temas

Energia
COLUNAS MAIS LIDAS
1

Política paulista

Bolsonarismo tem espaço reduzido na gestão Tarcísio em SP

2

Finanças públicas

Por que pagamos tanto e recebemos tão pouco

3

Economia e inovação

Inovação e desenvolvimento: o desafio brasileiro

4

Comunicação

O bom e velho jornalismo: último refúgio contra fake news

5

Energia

O paradoxo do preço

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigosFale Conosco

CONGRESSO EM FOCO NAS REDES