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20/11/2021 | Atualizado às 9:38

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Fotografia realizada por Januário Garcia no dia 20 de novembro em 1982 na Serra da Barriga no Quilombo de Palmares e presente em seu livro 25 anos de Movimento Negro no Brasil. Da esquerda para a direita: Lélia Gonzalez, Abdias do Nadcimento, Edialeda, Deputado José Miguel e Helena Theodoro. Foto: Januario Garcia

Fotografia realizada por Januário Garcia no dia 20 de novembro em 1982 na Serra da Barriga no Quilombo de Palmares e presente em seu livro 25 anos de Movimento Negro no Brasil. Da esquerda para a direita: Lélia Gonzalez, Abdias do Nadcimento, Edialeda, Deputado José Miguel e Helena Theodoro. Foto: Januario Garcia
Muniz Sodré afirma que os mitos, as lendas e os contos populares são vias de acesso ao inconsciente de um povo. A lenda do Boi Bumbá, tão presente em todo o país aponta diretamente para o universo mítico da cultura afro-brasileira. para a fé e liberdade de ser. Nele temos como personagens centrais Pai Francisco e Mãe Catirina, um casal de negros trabalhadores de uma fazenda. Quando Mãe Catirina fica grávida ela tem desejo de comer a língua de um boi. Para saciar o desejo de sua esposa grávida Pai Francisco mata o boi de estimação do senhor da fazenda. Percebendo a morte do boi, o senhor procura Pai Francisco, que chega com o pajé de uma tribo e ressuscita o boi para a alegria de todos. O Boi neste auto representa a resistência de descendentes de africanos e de povos originários para a preservação de sua identidade e de seus sonhos, que se revelam no Bumba meu Boi do Maranhão, nos Bois de Parintins, nos Bois de Mamão, enfim em de todos os lugares em que se encontrem o povo preto e indígena. Da mesma forma, no livro Contos Crioulos da Bahia, de Mestre Didi, também encontramos histórias que situam bem as regras de coesão social da comunidade preta quilombola e a preocupação com a estrutura da personalidade de seus integrantes. O conto "A fuga de Tio Ajayi" conta como um escravizado foge da fazenda com outros para poder fazer suas obrigações religiosas. Perseguido pelos soldados, sobe morros e anda em becos com o seu grupo, sempre cantando, dançando e fazendo de cada acontecimento do cotidiano uma forma de contar a vida do grupo e de criar arte. No final, após muita perseguição, consegue chegar com o seu pessoal num espaço de liberdade, onde os soldados não poderiam mais alcançá-los, criando ali a sua comunidade, conhecida como QUILOMBO, segundo as normas e as tradições de seu povo. Nesse espaço chamado quilombo eram acolhidos todos aqueles que buscassem a liberdade: pretos, indígenas e brancos. Este conto mostra bem a solidariedade no grupo, a divisão morro - asfalto e trata da resistência dos descendentes de africanos ao processo escravagista. O Quilombo dos Palmares foi o maior e mais duradouro dos quilombos registrados pelos estudos historiográficos. Estima-se que a sua formação tenha durado cerca de 100 anos e abrigado entre 20 mil e 30 mil habitantes. A localização territorial do Quilombo dos Palmares era na região da Serra da Barriga, atual estado de Alagoas. O 20 de novembro surge na comunidade preta por ser a data de morte de Zumbi dos Palmares, no dia 20 de novembro de 1695. Zumbi foi o maior líder do Quilombo dos Palmares. Subir até a Serra da Barriga passou a ser uma proposta de luta e identidade para a comunidade preta brasileira. O Quilombo dos Palmares representa uma experiência exitosa do ponto de vista político, social, econômico e cultural. Sua localização era estratégica, num lugar com vista privilegiada da natureza e para defesa dos quilombolas, além de optar pelo revezamento de plantio na terra, criar um conselho deliberativo para auxiliar a governança na tomada de decisões e criar reservas econômicas que permitiram trocas rendáveis com outros grupamentos para benefício de seus membros. [caption id="attachment_523543" align="aligncenter" width="1080"]Vista da Serra da Barriga e de sua localização estratégica para a resistência do Quilombo de Palmares às invasões portuguesas durante um século. Foto: Mariana Maiara Vista da Serra da Barriga e de sua localização estratégica para a resistência do Quilombo de Palmares às invasões portuguesas durante um século. Foto: Mariana Maiara[/caption]   A concepção dos quilombos se liga ao entendimento africano do território como espaço a ser cuidado, como lugar para se construir e preservar, além de ser o lugar que aglutina a todos que nele residem, dentro da filosofia ubuntu: minha existência está conectada à do outro. Temos quilombos criados em todo o país e principalmente na Amazônia. Nela encontramos o Quilombo Barranco de São Benedito da Praça 14, em Manaus, bem como o Quilombo Tambor, em Novo Airão. Existem cerca de 400 outros quilombos na região, que tiveram uma importante ação para a abolição da escravatura e que são muito pouco conhecidos. Encontram-se em algumas toadas referências aos quilombolas, como em Quilombolas da Amazônia do Boi Garantido, que afirma ter a África em seu coração. MEU CANTO É ALTIVO E LIBERTÁRIO RITMADO A TAMBORES E XEQUERÉS TOADA DE LUTA PELA IGUALDADE RACIAL EMANCIPAÇÃO DO POVO MEU. CELBRA A VIDA DOS GRIÔS DO SABER VOA, VOA MEU CANTO, CANGOMA VOA, VOA NESSA BATUCADA DO MEU BOI BUMBÁ VOA, VOA TEU VERBO ALADO É SANSA CROMA VOA, VOA PÁSSARO DA LIBERDADE IORUBÁ. SOMOS QUILOMBOLAS DA AMAZÔNIA NEGROS E CAFUZOS DESSA REGIÃO O BOI GARANTIDO FESTEJA SEU POVO PULSANDO A MÃE ÁFRICA NO CORAÇÃO. MOCAMBO É MORADA DO SONHO CABANO NAVEGA NAS ÁGUAS DO NOSSO RIO MAR IREPECURU, MADEIRA, TROMBETAS NEGRO, TAPAJÓS, ANDIRÁ. SOU DE SÃO JOSÉ, SÃO BENEDITO, VEREQUETE SOU DO CARIMBÓ, LUNDUM E SIRIÁ RETUMBÃO, CORDÃO DE PÁSSARO MARAMBIRÉ, MARABAIXO E BOI BUMBÁ. VOA, VOA BEM ALTO E FAZ BRILHAR VOA, VOA NO NEGRO CÉU DA CONSCIÊNCIA VOA, VOA, A CONSTELAÇÃO DA RESISTÊNCIA VOA, VOA REFLETIDA EM CADA OLHAR. TRAGO A CANÇÃO HERDADA DE GERAÇÕES OPRIMIDAS VOZES QUE DANÇAM DE MÃOS DADAS A FORÇA BRASILEIRA DA MATRIZ AFRICANA CONSTRANGENDO OPRESSORES COM SEU DESTINO DE CONQUISTA E ANUNCIANDO AO MUNDO A NOVA COR DA ESPERANÇA. Essa toada busca valorizar, de forma inédita, uma das mais importantes figuras típicas da região, o quilombola. Um típico afro-amazônico que até pouco tempo era invisibilizado na historiografia oficial, que começa a ser estudado pelos historiadores e sociólogos da atualidade. A mensagem poética desta toada tem música e poesia inspiradas na saga de luta e resistência dos quilombolas amazônicos. Toada filha da canção herdada de gerações oprimidas que se transforma em Cangoma (canto ancestral de tribos africanas), solto no ar num verdadeiro voo de liberdade, como se fosse Sansa Croma (pássaro sagrado da mitologia Iorubá), guardião da liberdade. Os quilombos e mocambos são um dos principais tipos de comunidades tradicionais da Amazônia, assim como as indígenas e ribeirinhas. Os principais quilombos amazônicos ficam nos estados do Amazonas, Pará, Rondônia e Amapá, nas calhas, cabeceiras e afluentes dos rios Amazonas, Irepecuru, Madeira, Trombetas, Negro, Tapajós e Andirá, onde os quilombolas são canoeiros, castanheiros, pescadores, seringueiros, mateiros, artesãos, festeiros, curandeiros, etc. A Lei 12.519 de 2011 instituiu oficialmente o 20 de novembro como Dia da Consciência Negra. Apenas 5 estados promulgaram leis estaduais que tornaram o 20 feriado: Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso e Rio de Janeiro. Cabe lembrar que os quilombos foram criados pela Rainha Nzinga de Angola, conhecida nas Congadas Brasileiras como Rainha Ginga, Nzinga Mbandi Kiluanji que foi Rainha do Ndongo (Angola) em 1623 e que se celebrizou por sua luta contra a escravização dos portugueses, sendo uma exímia guerreira e estrategista, que usou a tática de abandonar a capital do reino e promover movimentação de tropas e mudanças de acampamentos, conhecidos pelo nome de Kilombo, tornando-se assim praticamente invisível quando perseguida pelas tropas portuguesas. A Rainha Nzinga, bem como Cleópatra ou a Rainha de Sabá moldam o tipo de mulher negra, guerreira, batalhadora e rainha, sem submissão aos homens, que se diferencia dos papéis atribuídos às mulheres europeias. Muito quilombos notabilizaram mulheres como Dandara no Quilombo de Palmares, Teresa de Benguela no Quilombo de Quariterê, Aqualtune, princesa africana e líder quilombola que esteve à frente de 11 mocambos do Quilombo de Palmares além de inúmeras outras, de ontem e de hoje, que se tornaram iyalorixás, como Mãe Beata, Mãe Stella, Mãe Senhora, Mãe Meninazinha da Oxum, verdadeiras rainhas em seus quilombos de fé. Com a vida difícil e pouco assistida da comunidade preta do país, os quilombos modernos, liderados por mulheres pretas, proliferam nas periferias, favelas e no interior, buscando uma prática efetiva da liberdade de ser, criar, participar e construir um bom viver. O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]. Leia outros textos da coluna Olhares Negros
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