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Parábola 34: liberdade para a fala nativa

Emanuel e Oxalá aguardavam Jaci terminar uma reunião marcada com Sumé. Ela queria ouvir a opinião do sábio deus sobre o desaparecimento dos saberes transmitidos pelos povos indígenas

Cezar Britto

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28/11/2021 | Atualizado 27/12/2021 às 15:25

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Crianças brincam no museu da Língua Portuguesa. Foto: Menina Yui via Flickr

Crianças brincam no museu da Língua Portuguesa. Foto: Menina Yui via Flickr
Emanuel e Oxalá aguardavam Jaci terminar uma reunião marcada com Sumé. Ela queria ouvir a opinião do sábio deus sobre o desaparecimento dos saberes transmitidos pelos povos indígenas de sua Pindorama. Os dois sabiam da preocupação de sua iluminada amiga, ainda mais quando o atual governo brasileiro não disfarçava o seu desprezo para com as comunidades tradicionais, não medindo qualquer esforço para destruir as suas culturas e histórias. E aguardavam, pacientemente, o término do encontro, quando das sombras da Lua, surgiu a presença exuberante do deus da sabedoria e das leis. - Tîa nde pytuna! - cumprimentou Sumé, em educado boa noite. - Bom saber que vocês estão aqui. Jaci está muito triste e vai precisar do aconchego da amizade. - Boa noite Sumé! - respondeu Emanuel. - Claro que pode contar conosco, Oxalá e eu animaremos a nossa pequena Lua. - Disso eu tenho certeza, a amizade de vocês é para a toda a eternidade - concordou Sumé, para logo se despedir. - Tupã t'-o-ikó nde irunamo. - Axé! - retribuiu Oxalá, enquanto Emanuel ia ao encontro de Jaci. - E que meu pai Olorum nos proteja! - Eîkobé xe anam! - saudou coletivamente Jaci, ao perceber a chegada de seus amigos. - Olá, Jaci! - retribuiu Emanuel. - Sumé estava muito preocupado com você. - Xe aruru - assentiu Jaci, cabisbaixa. - Estou mesmo muito triste. - Olá minha Oshupá! - iniciou Oxalá. - Aconteceu alguma coisa? - Sumé tem as mesmas preocupações que eu tenho - respondeu Jaci. - O nosso velho sábio também acha que a política de aniquilamento da nossa cultura passa pela destruição das nossas línguas. - E ele também tem a mais absoluta razão - concordou Oxalá. - E como a tradição oral é a nossa forma de contar a nossa própria história, sem o registro da nossa língua, não há o que se transmitir, tudo se perde, tudo é destruído. - Frei Caneca tinha razão quando disse: "Que liberdade é essa, se a língua é escrava?" - reforçou Emanuel. - A língua de um povo é a expressão de sua luta, é a forma com ele se eterniza. - Então vocês sabem muito bem o que estou passando - pontuou Jaci. - Estou cansada dessa política de promover o esquecimento das contribuições de meu povo para a história brasileira, inclusive na construção da linguagem usada diariamente. Vários nomes de estados, cidades, ruas, rios e pessoas, assim como da fauna, da flora, da natureza e do dicionário foram retirados das nossas falas, mas são propositadamente invisibilizadas como originárias de nossos povos. - Verdade! - concordou Oxalá. - É o que ensinou ao meu povo africano, o grande libertador Modibo Keita: "A linguagem é uma ferramenta sobre a qual nenhuma nação pode exercer monopólio". - Esse é o ponto central, Oxalá! - prosseguiu Jaci. - Impuseram o europeu português como linguagem monopolizada em nossa terra, não se reconhecendo as línguas faladas por nossos povos como também oficiais. - O Brasil, infelizmente, não seguiu o exemplo de vários países americanos e africanos que fizeram oficiais as línguas nativas - anotou Oxalá. - Aqui a política do aniquilamento é que é oficial. - Lembrem-se de que Tiago já registrou em nosso Livro: "Toda espécie de animais, aves, répteis e criaturas do mar doma-se e tem sido domada pela espécie humana; a língua, porém, ninguém consegue domar" - acresceu Emanuel. - É por ser indomável que também se reage violentamente contra a linguagem inclusiva, não é? - constatou Oxalá. - Os monopolistas da linguagem, do machismo e do moralismo não querem, conscientemente, reconhecer a pluralidade da vida, dos sonhares, dos quereres e dos amores. - Não sem razão meu Pai já registrou: no princípio era o Verbo - exprimiu Emanuel. - Bem lembrado, Emanuel, a Palavra é o começo de tudo! - concordou Oxalá. - Mate a Palavra e nada dela renascerá. - Precisamos denunciar essa política de aniquilamento da nossa língua e, através dela, o extermínio da nossa presença na terra que originou a própria humanidade - retomou. - Posso contar com vocês? - Claro que sim! Hoje mesmo conversarei com o Caboclo Tupinambá sobre essa nossa conversa - assentiu Oxalá. - O nosso papa Francisco tem advogado essa causa - também concordou Emanuel. - E isso ficou muito claro no Sínodo da Amazônia. Conte comigo! - Xe r-oryb! Xe r-orykatu nh?! - arrematou Jaci. - Estou muito feliz! Muito feliz! O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]. > Leia mais textos do autor
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