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Cezar Britto
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Memória
12/9/2025 15:00
A pergunta título é a mesma formulada no documentário produzido pelo Departamento de Jornalismo da TV Cultura, exibido em 14 de setembro de 2021. O tema central tem relação com o terrível atentado terrorista patrocinado pela Al-Qaeda, liderada por Osama bin Laden, antigo aliado dos EUA. Reporta-se, portanto, ao fatídico dia 11 de setembro de 2001, quando bilhões de atônitos espectadores acompanharam ao vivo a queda das Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque, após serem atingidas por dois mortais aviões sequestrados.
Como consta na sinopse do documentário, relembra as ações dos jornalistas e das jornalistas que estavam no local naquele dia e que, como se registrou, "sentiram, de perto, o cheiro da morte". No mesmo programa documental, também perguntava-se aos jornalistas brasileiros onde eles estavam e quais lembranças guardavam do maior atentado terrorista já executado em solo estadunidense. Todos, sem exceção, sabiam com precisão e detalhes impressionantes o que faziam, onde estavam e como tais fatos impactaram em suas vidas.
Mas o dia 11 de setembro também marcou outra tragédia histórica: o golpe de Estado imposto ao povo chileno, em 1973, comandado pelo general Augusto Pinochet e apoiado pelos EUA. Ao derrubar, depor e assassinar o presidente chileno Salvador Allende, o golpe impôs ao Chile, por mais de dezesseis anos, um longo, cruel e tenebroso período de ditadura. O Chile passava, então, a integrar o rol das ditaduras apoiadas pelos EUA que assolavam a América Latina, inclusive o Brasil de 1964.
Ainda hoje, os chilenos sabem exatamente onde estavam no trágico dia 11 de setembro de 1973. Especialmente os familiares das 3.227 pessoas mortas ou desaparecidas durante a ditadura militar de Pinochet, segundo a Comissão Nacional de Verdade e Reconciliação (Comissão Rettig). Também sabem onde estavam aquelas mais de 40.000 vítimas de tortura e prisão política, reconhecidas pela Comissão Valech.
Assim como as Torres Gêmeas do World Trade Center se desmancharam em uma tétrica cortina de fumaça, a democracia chilena ardeu queimada no Palácio La Moneda. Em ambos os casos, não se estava quedando a Bastilha, para no seu lugar vazio se edificar a esperança de um mundo fraterno, igualitário e livre. Ao contrário, o que se transportava nas metralhadoras chilenas e nos aviões-bombas era o ódio transfigurado na proposta de humilhar, assassinar, amedrontar e reduzir a vida a um mero instrumento de barganha política. Simbolizavam a absurda ideologia do caos pelo caos, do terror pelo terror.
Agora, o dia 11 de setembro ingressa, diretamente, na memória coletiva dos brasileiros e das brasileiras. Mas não em razão dos discursos que exaltam golpes de Estado, tortura, intolerância, mortes em massa ou ataques aos direitos humanos. Ao contrário! O dia 11 de setembro de 2025 se fará inesquecível por ter o Brasil, de forma inédita, se livrado do hábito de varrer para debaixo do tapete da História as suas abjeções.
O julgamento da Ação Penal 2668, pelo STF, ao condenar os réus que participaram da cúpula que pretendia golpear a Democracia no Brasil, tatuará na vida de cada brasileira e brasileiro, o mesmo sentimento que o mundo experimentou nos outros 11 de setembro: a marca de um acontecimento que não se esquece.
Eu, de antemão, registro que estava assistindo à TV Justiça, acompanhando o histórico julgamento que, pelas punições aplicadas, poderá inibir novos pensamentos golpistas no Brasil. No meu Instagram, celebrei o fato de que o voto garantidor da maioria fora proferido pela ministra Cármen Lúcia, a única mulher membra do STF. E que, sem fraquejar, ela relembrou que "o que há de inédito, talvez, nessa ação penal, nela pulsa o Brasil que dói. A presente ação penal é quase um encontro do Brasil com o seu passado, o seu presente e com o seu futuro".
Com a decisão judicial histórica contra o golpismo, a pergunta ecoará para sempre: onde você estava no dia 11 de setembro de 2025?
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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