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Cezar Britto
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Soberania
25/7/2025 9:00
Os EUA, como maior potência política, ideológica, bélica e econômica do planeta, cobraram, sem disfarce ou diplomacia, a fatura típica dos donos do pedaço. Onipotente, onisciente e onipresente desde a 2ª Guerra Mundial, o deus terreno resolveu ordenar subserviência explícita aos seus devotos, inclusive aos não convertidos. Para a inquestionável divindade, tudo é possível: países são ameaçados com taxas extorsivas, magistrados amordaçados no decidir, procuradores impedidos de investigar, imprensa censurada no informar, estudantes cassados no saber e imigrantes expulsos em perversão. Parece até que, para eles, como diria Caetano Veloso, "tudo está fora da ordem mundial".
A ameaçadora arrogância do estadunidense Donald Trump, atual comandante do maior império da contemporaneidade, não é novidade nas páginas da História, tampouco nos atos já praticados por vários de seus antecessores. Tanto é assim que se sabe dos crimes e abusos praticados mundo afora, e que os agentes do império não se submetem às jurisdições do Tribunal Penal Internacional (Haia/ Holanda) e da Corte Interamericana de Direitos Humanos (São José/ Costa Rica). Aliás, a apropriação da própria expressão "americano" para designar o estadunidense nascido na América já demonstrava o sentimento de superioridade das pessoas nascidas naquele pedaço do planeta.
O ato de governar olhando para o seu próprio espelho, a se perguntar "quem é mais poderoso do que eu?", não é um conto de fadas compilado pelos irmãos Grimm. A autocracia - o governar por e para si próprio - sempre foi um dos mais graves experimentos da vida em sociedade. Em razão dela, nações já subjugaram nações, e seres humanos dominaram seres humanos. Impérios nasceram, impérios morreram. Em todas as quadras do tempo, o sentimento de superioridade econômica, racial, bélica, esteve presente entre os donos dos povos ditos superiores, não raro causando guerras, holocaustos, tragédias, escravidão e profundos traumas na humanidade. Afinal, os autocratas têm em comum o culto à personalidade, o despotismo, a intolerância, o egocentrismo, a violência e a impunidade. Adolf Hitler (Alemanha), Benito Mussolini (Itália), Francisco Franco (Espanha), Ante Pavelic (Croácia), Pol Pot (Camboja), Hissène Habré (Chade), Augusto Pinochet (Chile), Idi Amin Dada (Uganda) e Papa Doc (Haiti) são alguns espécimes desse nefasto rol.
Também não é novidade a vassalagem dos que se submetem aos caprichos dos "imperadores do mundo". Os vassalos limpam o chão, aplaudem e levantam a bandeira do império como se fosse a de seu próprio país - mesmo quando a sua terra está sendo vandalizada pelo voraz apetite imperial. Oportunistas, acreditam que as migalhas sobradas alimentarão suas próprias ambições, arrogâncias e supremacismos. Os vassalos são os grandes sustentáculos do império, vozes dos imperadores e, simultaneamente, opressores por querer e oprimidos por saber. Não se espera dos vassalos, enquanto parasitarem o império que os privilegia, nenhum gesto de resistência.
Não são incomuns as traições dos aduladores do poder. Nos rodapés das páginas da História, vários deles são anotados - especialmente os que traíram o seu próprio povo, entregando-o de bandeja ao opressor. A indígena asteca Malinche foi decisiva para que o explorador espanhol Hernán Cortés destruísse o Império Asteca de Montezuma II. O marechal Henri Pétain traiu o povo francês e adjudicou a França ao jugo sanguinário de Hitler. Domingos Fernandes Calabar traiu a resistência ao domínio holandês, aliando-se aos invasores liderados pelo príncipe Maurício de Nassau. José Silvério dos Reis traiu a Inconfidência Mineira, impedindo a Independência do Brasil da exploração portuguesa. Esses desleais inimigos de seus respectivos povos, mesmo quando emprestaram seus nomes como sinônimos de traidores, seguem conquistando adeptos.
Na atual quadra do tempo, o Brasil está sendo atacado pelo império comandado pelo estadunidense Donald Trump, incomodado pela recusa brasileira em não aceitar a vassalagem. Como vingança imperial, bradou que destruiria a economia, inferiria no Poder Judiciário e aboliria a Independência conquistada em 1822. Estabeleceu, na voz do dito brasileiro Eduardo Bolsonaro, a única condição para se evitar a sua política de terra arrasada: soltar o vassalo que lhe bateu continência em passado recente. E logo vários traidores passaram a defender, exibir e balançar a bandeira do Tio Sam como se fosse a sua própria. Assim, "a pátria amada" conseguiu reunir, na mesma "terra adorada", o império, a vassalagem e a traição. E certamente assim serão anotados nos rodapés obscuros da nossa História.
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