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Paulo José Cunha
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Redes sociais
22/7/2025 13:00
O que é mais assustador no episódio da tornozeleira é que, ao contrário do que se poderia esperar, a percepção de metade - eu escrevi METADE - dos internautas, segundo pesquisas que mediram a intensidade e a posição dos autores das postagens desde que Jair Bolsonaro passou a usar aquele adereço, saiu EM DEFESA do ex-presidente. De novo e com detalhes, para não haver dúvida: 49,7% das postagens CONDENAM a decisão tomada pelo ministro Alexandre de Moraes, de monitorar com a tornozeleira os movimentos do ex-presidente. Isso apesar da carrada de indícios de que, com apoio do filho que está nos Estados Unidos ajustando as baterias de Donald Trump contra a economia brasileira para salvar a pele do pai, Bolsonaro, sim, fez movimentos muito claros de que pretendia se evadir do Brasil diante de uma inevitável condenação que pode levá-lo ao cárcere por algumas dezenas de anos.
Segundo levantamento da AP Exata, que verificou postagens que circularam pelo X e pelo Instagram, 50,3% das manifestações são contra o ex-presidente. Ou seja: a polarização não apenas se manteve, como também se tornou ainda mais aguda a partir da instalação da tornozeleira.
E é assustador porque deixa evidente que, apesar das carradas de provas contra a atuação devastadora do ex-presidente nas mais diversas áreas durante seu (des)governo - desde a ambiental até a da saúde pública, passando pela negação das políticas de inclusão e de combate aos preconceitos de gênero, cor e origem - metade dos internautas ativos nas redes sociais apoia e defende Jair Bolsonaro.
O quadro assusta ainda mais quando se olha para trás e se observa que a luta em todas essas frentes ganhou impulso planetário há 80 anos, a partir do armistício assinado em 1945, que pôs fim à Segunda Guerra Mundial. Ali, as forças alemãs renderam-se incondicionalmente aos aliados, marcando o fim das hostilidades na Europa. O saldo das atrocidades praticadas por Hitler e seus asseclas foi a eliminação por gás ou fuzilamento de mais de 6 milhões de judeus, a maioria nos mais infectos e horripilantes campos de concentração. E outras 69 milhões de pessoas de várias nacionalidades, entre militares e civis.
Parece extemporâneo e exagerado fazer uma comparação entre o que aconteceu há 80 anos nos campos de guerra da Europa com o que está acontecendo hoje no Brasil, mas a comparação se justifica, sim. Tudo indicava que ali se estava colocando um ponto final numa ideologia, o nazismo, irmã do fascismo, que defendia a depuração da raça e assim justificava o assassinato em massa como o perpetrado contra os judeus em nome da supremacia ariana.
Parece que os ecos dos gritos dos torturados nos campos nazistas de concentração não serviram para absolutamente... nada! A mesma ideologia, atualizada para os novos tempos, permanece intacta, e defende os mesmos privilégios para algumas castas em detrimento da ampla maioria da população. Agora, a devastação se alarga para a área da saúde, quando se recordam as 700 mil vidas perdidas para a covid-19 graças ao cinismo de um governo que simplesmente negou a existência de uma pandemia, combatendo as vacinas e apoiando tratamentos cientificamente ineficazes para o enfrentamento da "gripezinha". Passa pela devastação ambiental em nome da produção que só favorece os grandes conglomerados econômicos. E fecha os olhos para toda sorte de preconceito.
Retrocedemos. Sim, aqui no Brasil retrocedemos muito. Se no Tribunal de Nuremberg em 45 parecia que a humanidade finalmente havia tomado a história nas mãos e seguiria rumo a um planeta mais igualitário e respeitoso, de repente engrenamos uma solene marcha-à-ré. Pois Bolsonaro é a encarnação do retrocesso em todos os aspectos, basta fazer um levantamento da atuação de cada um dos seus ministérios ao longo do desgoverno que protagonizou. Não houve uma - UMA - área na qual se tenha verificado algum avanço ou crescimento. Tudo andou pra trás.
Ainda assim, metade do país conectado não percebe o tamanho do buraco onde o país foi enfiado por Bolsonaro e seus comparsas. Seja por desinformação ou simples oportunismo, um em cada dois brasileiros ligados na internet o apoia e o defende. Preso à convicção rasteira de que o "mito" é infalível e tudo o que se diz - e se prova - contra ele é pura e simples intriga da oposição, metade dos brasileiros que usam as redes sociais o defende cegamente.
Ao mesmo tempo em que o país precisa de alguma forma escapar da polarização em que se encontra - e infelizmente não há qualquer personalidade de centro que seja confiável e tenha destaque no horizonte político - fica cada vez mais urgente a adoção de medidas concretas visando à oferta de uma "educação para a democracia". Pois, quando se observa não só na população mas em centenas de lideranças políticas a confiança numa intervenção externa (como a que vem sendo aplicada por Donald Trump) para livrar a pele de um ex-presidente golpista é sinal de que falhamos fragorosamente na educação política, que deveria ser disciplina obrigatória num regime democrático. Metade da população simplesmente aceita e aplaude a chantagem de Trump, normalizando-a. Sinal claro de que alguma coisa está MUITO errada.
Ninguém nasce democrata. Democracia é fruto de educação. Assim como ninguém nasce patriota. Patriota na essência mais pura do termo, e não a patriotada de fancaria capaz de rezar para pneu e pedir ajuda a extraterrestres com lanternas de celular. Precisamos zerar o taxímetro e começar tudo de novo, engrenando uma primeira com aulas de educação política, democracia e importância do respeito aos direitos humanos e às desigualdades. Além, é claro, dos princípios básicos de soberania nacional.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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