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11/2/2021 | Atualizado 10/10/2021 às 17:01

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Quadra Portela vazia. Desfiles em 2021 foram cancelados por causa da pandemia [fotografo] Mariana Maiara [/fotografo]

Quadra Portela vazia. Desfiles em 2021 foram cancelados por causa da pandemia [fotografo] Mariana Maiara [/fotografo]
E, enfim, chegou o Carnaval! Nesses tempos de pandemia não teremos blocos na rua, nem escolas de samba desfilando ou afoxés e maracatus trazendo nossos tambores que falam ao coração. No Rio de Janeiro, as escolas de samba, no decorrer de sua existência, têm revelado a história do povo para todos nós. Chamo este processo de descobrimento do Brasil, já que em nossas escolas, universidades e a mídia se destacam sempre pela valorização da cultura de outros lugares ditos de primeiro mundo. Contar histórias sempre foi o método utilizado na tradição africana para educar, transmitindo ideias e valores. Desta forma, as escolas de samba ao apresentar histórias, ilustradas por fantasias, alegorias, adereços e canto, cumprem este papel de educar a comunidade, permitindo o encontro de cada espaço com sua história e seus antepassados. Levar um desfile de escola de samba para a sala de aula é dar uma amostra de uma outra forma de viver e de entender o mundo, além de permitir o encontro de cada brasileiro com suas origens. [caption id="attachment_481045" align="alignleft" width="360"] O ano de 2020 foi muito difícil para as escolas por conta da falta de apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro. Crédito Mariana Maiara[/caption] A função das escolas de samba é agregar pessoas, sendo um ponto de aglutinação e aceitação da diversidade por ser um espaço para todas as etnias, idades e profissões. Elas refletem a concepção das comunidades-terreiro de candomblé que recria um território de origem num dado espaço, onde harmoniza todos os orixás, que representam diferentes formas de ser e estar na natureza. Assim pensando, se constata que as escolas de samba são negras, independentemente do enredo que apresentem, pois são movidas pelos tambores das baterias que tocam no ritmo dos orixás, unindo e integrando a todos que a formam. A escola de samba Acadêmicos do Salgueiro fez uma verdadeira revolução cultural nos anos 1960 do século passado. Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues realizaram o enredo sobre o Quilombo dos Palmares, falando de Zumbi, herói desconhecido na época pela maioria dos brasileiros. A escola mudou o foco de apresentação de seus enredos, deslocando o processo civilizatório europeu para os valores civilizatórios africanos, enfatizando a luta pela liberdade e dignidade humanas, que busca reunir as pessoas de um mesmo território com um mesmo objetivo, acumulando gente e não bens. Pensar no desfile de Chica da Silva, em 1963, é sentir um transbordar de emoções. É ver a valorização de uma mulher negra, Francisca da Silva de Oliveira, num país profundamente racista, que, em pleno Século XVIII, revoluciona Diamantina, Minas Gerais. A força de Chica da Silva é tão grande que sua história permanece cantada-contada nos séculos 20 e 21, dando o primeiro lugar ao Salgueiro no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, além de inspirar a criação de filme, novela para a televisão, poemas e livros. O Salgueiro ainda mostrou neste desfile, para o Brasil e o mundo, a arte de uma bailarina negra, Mercedes Baptista, que fez a coreografia de 12 pares de nobres dançando uma polca em ritmo de samba dentro do desfile de uma escola de samba. Fernando Pamplona levou para o universo do samba artistas plásticos como Arlindo Rodrigues, Maria Augusta, Rosa Magalhães, Renato Lage, Joãozinho Trinta e muitos outros, além de lidar com novos materiais em sua arte em função das dificuldades econômicas, usando a famosa frase: Temos que tirar da cabeça aquilo que não se tem no bolso. O Salgueiro vem lutando contra o racismo por meio de esforços diplomáticos e de alianças com outros grupos, buscando atingir os objetivos de manter a continuidade de seus valores civilizatórios, que promovem coesão grupal, propiciando identidade e afirmação existencial.  Seus enredos Zumbi, Chica da Silva, Chico Rei, Aleijadinho, Festa para um rei negro, Valongo, Do Iorubá à Luz: A aurora dos Deuses, Templo Negro em Tempo de Consciência Negra, Candaces, Tambor, A Opera dos Malandros, Senhoras do Ventre do Mundo e Xangô, revelam a participação num processo de resistência cultural numa luta que já dura cinco séculos. Todas as escolas de samba sempre demonstraram o seu papel de elemento preservador da memória e da cultura de sua comunidade, de nossas raízes africanas e indígenas, além de utilizar materiais do cotidiano em sua arte. Em 1988, a Unidos de Vila Isabel causa uma outra revolução no Sambódromo ao trazer Kizomba, a Festa da Raça e por não usar brilhos nem paetês nas fantasias, adereços e carros alegóricos, lidando com tecidos africanos, muita palha e informação sobre Angola, país africano que nos trouxe um legado cultural imenso desde o século XVI. O samba carioca é resultado da junção de nossa herança cultural banta, proveniente de Angola - que nos legou os quilombos, o jongo e a capoeira - com o samba de roda da Bahia - herança iorubá que nos foi trazida da Nigéria - a que se integraram com as tradições indígenas. Muitos são os desfiles que tratam dessas heranças. Todos esses saberes deveriam nos ser oferecidos no ensino fundamental, já que somos o segundo país do mundo de população preta, que se constitui em mais de cinquenta por cento do povo brasileiro. Somos a maioria da população do país, mas são as escolas de samba que revelam nossa história, nossas raízes. O ano de 2020 foi muito difícil para as escolas por conta da falta de apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro. Graças a revista Roteiro dos Desfiles, publicação oficial do Sambódromo do Rio, editado por Marcos Roza há 12 anos, temos o registro destes desfiles, o que nos permite relembrar alguns elementos fundamentais da  história negra e indígena, que confirmam nossas colocações. Começamos com escolas do grupo A, que desfilaram na sexta-feira de Carnaval de 2020, destacando a Acadêmicos da Rocinha, que trouxe como enredo A Guerreira Negra que Dominou Dois Mundos. A escola prestou homenagem à Maria da Conceição, negra que se tornou a guerreira Maria Conga, heroína do quilombo que leva o seu nome, localizado em Magé, na Baixada Fluminense. Já a Unidos da Ponte com o enredo Elos da Eternidade, mostrou como a população de São João de Meriti, local de muitos terreiros de candomblé e de umbanda, considera a preservação do samba como fundamental para a preservação da humanidade. Em seguida temos a Unidos de Porto da Pedra com o enredo O que a Baiana Tem? Do Bonfim à Sapucaí, que traz a homenagem de São Gonçalo, município do Rio de Janeiro, às mães do samba. Para finalizar, mais uma homenagem feita pela Acadêmicos do Cubango para Luiz Gama por sua luta antirracista no país. No sábado de Carnaval, destacamos o desfile da Acadêmicos do Sossego que levou para a Sapucaí a história Tambores de Olokum, que celebra as raízes sagradas, históricas e personagens do cortejo negro que nasceu em Pernambuco: o maracatu. Uma outra escola, a Unidos de Bangu, contou a origem do continente africano através da visão de um Griô, senhor sábio contador de história da Velha África que fala da escravidão. E, para concluir nosso passeio, no desfile do Grupo A temos a Unidos de Padre Miguel que apresentou o enredo Ginga, falando da trajetória histórica da capoeira - manifestação cultural de matriz africana, hoje praticada e conhecida em todo o país e em diversos lugares do mundo. Quanto às escolas do Grupo Especial, destacamos a Unidos do Viradouro que narrou a história da bravura e da liberdade conseguida pelas mulheres negras, as baianas ganhadeiras de Itapuã, que atuaram até o final do século 19 e atuam até hoje com o samba de roda do mar. A escola foi a vencedora do Carnaval de 2020. Muitos enredos merecem destaque como o da Acadêmicos do Grande Rio, que contou a história de Joãozinho da Goméia, Pai de Santo que nasceu na Bahia e fez história como um dos maiores líderes religiosos do país, atuando em Duque de Caxias, município onde se localiza a escola. A Portela desfilou com uma história indígena, o enredo Guajupiá, terra sem males, que fala dos indígenas que habitavam a cidade do Rio de Janeiro antes da chegada dos portugueses. A Unidos de Vila Isabel também trouxe um conto indígena sobre a formação dos povos de diversas regiões do país, com o enredo Gigante pela própria natureza: Jaçanã e um índio chamado Brasil. Finalmente, não posso deixar de citar a Mocidade Independente de Padre Miguel que prestou homenagem a uma das maiores artistas negras brasileiras que com sua voz peculiar continua sendo sucesso no país e no mundo: Elza Soares. Os desfiles das escolas de samba provam que elas desfilam porque existem, e fazem sucesso porque falam desse seu existir, de sua história. Fazem isso de uma maneira muito própria de construir e viver com todos num dado território, com alegria e muita fé, ensinando como criar um mundo melhor, mais colorido, pleno de arte e poesia. O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br. > Leia mais textos da coluna Olhares Negros
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