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13/4/2021 | Atualizado 10/10/2021 às 16:06

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[fotografo] Elsemargriet PxHere [/fotografo]

[fotografo] Elsemargriet PxHere [/fotografo]
Jaci estava muito feliz naquela noite. Logo cedo ela recebera a visita de Ceuci, a protetora das lavouras e das moradias indígenas. Ela trouxera para Tupã uma enorme quantidade de frutas nativas e plantas medicinais. Na grande mesa da cozinha de sua casa, Jaci expôs uma boa diversidade deles. Certamente Emanuel e Oxalá ficariam encantados com a qualidade dos produtos presentados. Jaci sabia que eles chegariam em alguns minutos, como sempre faziam nos dias em que Ceuci e seu filho Jurupari apareciam na redondeza. Enquanto os aguardava, Jaci preparava para os amiguinhos um refrescante suco do recém-chegado guaraná. Ela sabia que Oxalá nunca recusaria a possibilidade de sorver do poder revigorante e energético do guaraná, assim como Emanuel não deixaria de descrever as propriedades medicinais do fruto amazônico. - Ô de casa! - escutou-se as vozes de Emanuel e Oxalá, acompanhadas de ritmadas palmas. - Pois não? - gritou Jaci da cozinha, fingindo não saber quem eram os visitantes - Quem mais poderia ser? - respondeu Emanuel, entrando na casa, em sorriso largo. - Os destinatários do suco que você está fazendo. Você sabe que nunca perdemos a oportunidade de apreciar as coisas que Ceuci colhe e compartilha com a humanidade. - Sei! Mas me tire uma dúvida que sempre esqueço de esclarecer - mostrou-se intrigada Jaci. - Como vocês sabem quando Ceuci nos visita? - Você lembra da história de Sansão e Dalila? Está lá em Juízes 16:4-6 - gargalhou Emanuel. - É arriscado quebrar um segredo do Senhor. - Tudo bem! Com segredo e sem suco - fingiu-se zangada Jaci. - Esse negócio cerimonioso com o segredo é coisa de Emanuel - interveio, alegremente, Oxalá. - Não abro mão do seu suco por nada, Jaci. - Ótimo! Vá contado Oxalá. O seu suco está super garantido - divertiu-se Jaci. - É muito simples Jaci. Quando a estrela mais brilhante da constelação de Plêiades aparece radiante no céu, é sinal de que Ceuci está aqui - explicou Oxalá. - E nunca erramos uma vez sequer. - E eu pensando que vocês estavam com segredinhos com Anhum - confessou Jaci. - Eu achava que tocava alguma música no Sacro Taré para avisar a vocês. - Segredos revelados, o que Ceuci trouxe dessa vez? - perguntou Emanuel. - Além do guaraná, elas nos brindou com açaí, bacuri, buriti, cupuaçu, castanha amazônica, caju, jabuticaba, abacaxi, goiaba, maracujá, pequi, ouricuri, ingá, carambola, mangaba, graviola e tudo que se possa imaginar no tabuleiro do Brasil - exibiu-se Jaci. - Mas você quer saber das plantas medicinais, não é Emanuel? - Ela trouxe copaíba? - apressou-se Emanuel. - Você sabe que eu gosto muito de plantas medicinais. - Claro que sei! - riu Jaci. - E já separei para você uma arupemba cheia de copaíba, andiroba, urucum, cipó miraruira, cipó unha de gato, marapuama, quebra-pedra, boldo, aroeira, cajazeiro, pindaíba e jurubeba. - E para mim? Nada? Adoro alecrim, camomila e girassol - interveio Oxalá, fingindo-se zangado. - Os orixás também gostam de plantas medicinais. Iansã até me pediu para trazer, caso tenha, romã e bambu. Oxóssi e Exu querem cana-de-açúcar e Oxum quer camomila também. - Ainda bem que Ceuci é generosa e trouxe tudo em grande quantidade. Acho até que ela já deixou tudo separado para vocês - esclareceu Jaci, bem-humorada. - Emanuel, você sabia que muita gente acha que Ceuci é a sua mãe. - Claro que sei, Jaci. E gosto muito dessa comparação. Mas não sei direito a razão - respondeu Emanuel, fingindo não ser onisciente. - Qual é mesmo a razão? - As pessoas dizem que ela ficou grávida de Jarupari quando comeu o fruto de cucura-purumã - esclareceu Jaci. - Quando ela mordeu a fruta, o sumo desceu pelo corpo da nossa deusa da lavoura, deixando-a grávida. - A natureza que criamos para os homens é mesmo poderosa, não é? - refletiu Emanuel. - Basta ler a Bíblia e ver como ela está presente. - Na Bíblia? - mostrou-se curioso Oxalá. - Não está em Gênesis 2:9, que "Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal"? - respondeu Emanuel. - E também em Êxodo 25:6, quando descrito o uso das plantas para a fabricação de óleo, temperos e incensos: "Azeite para a luz, especiarias para o óleo da unção, e especiarias para o incenso"? Será que a cucura-purumã que Jaci falou não é a Árvore da Vida para a cura as nações, como diz o Apocalipse 22:1-2? - Sei lá! Mas acho que pode ser. Acho que ouvi um debate de Jeová com Ossaim sobre o uso de ervas medicinais na Bíblia - lembrou-se Oxalá. - Acredito que sim. Eles conversam muito. E com Ceuci também - concordou Emanuel. - Você sabia, Jaci, que a Bíblia menciona várias outras plantas extraídas da natureza? Vou dizer apenas algumas: salgueiro, lírio da água, violeta, tulipa, sálvia, rosa, ranúnculo, peoni, nigela, narciso, açafrão-da-pradaria, malva, lupina, narciso, mostarda, menta, malva, mandrágora, alho poró, cebola, coriandro, cominho, hissopo e tantas outras. - Claro que sim, Emanuel. Esqueceu das minhas leituras noturnas sobre os livros sagrados de todas as religiões? - devolveu Jaci, para logo recitar de cor. - O hissopo era utilizado para a purificação (Salmos 51:7), para impedir que o sangue coagulasse (Êxodo 12: 22) e com uso medicinal atestado por João (19: 29 - 30). E não foi mirra o presente que você recebeu de Baltazar assim que nasceu? - Verdade, Jaci - reconheceu Emanuel. - Você lembra que em Reis 20:7, Salmos 51:7 e 45:8, Gênesis 43:11 e Cantares 2:5 Deus falou dos ilimitados poderes de cura das plantas? - Lembro sim! - concordou Jaci. - É o que também nos ensinou Ceuci. - E já escutei Ossaim dizendo que sem ervas não há candomblé ou umbanda - seguiu na mesma linha Oxalá. - Mas sabe o que é grave? - indagou Jaci. - É que nós colocamos as plantas no mundo e a ganância do homem não permite que todos a usem? - Como não? - estranhou Oxalá. - A natureza não é de todos? - Em tese sim. Mas surgiram os grandes laboratórios farmacêuticos e mudaram tudo - concluiu Jaci. - Foi a minha tia Guaipira quem me contou essa história, após receber uma carta escrita por tia Açuti. - E se Açuti escreveu, não tem erro - concordou Oxalá. - Ela sabe como narrar a ganância humana. - Pois é, essa turma diz que as plantas não curam e são inofensivas crendices populares - seguiu Jaci em seu raciocínio. - Só vale o que é lucrativo enquanto droga sintética autorizada. - Infelizmente é verdade, amigo! - interveio Emanuel. - Retiram o princípio ativo de tudo que criamos, patenteiam como se fossem criações deles e só permitem o uso para quem possa pagar. - A ganância do homem é de preço ilimitado mesmo - encerrou, tristemente, Jaci. - Eles conseguiram comercializar até mesmo os nossos ensinamentos sobre as plantas. E para o mal da ganância ainda não achamos a cura. O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]. > Leia mais da coluna de Cezar Britto
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