Tucanos que aparecem como beneficiários de um esquema de caixa dois na estatal Furnas negaram ontem ter recebido o dinheiro e acusaram o governo de explorar politicamente o fato. "Se existe um laudo da Polícia Federal atestando aquilo, é mais uma escroquice (sic) do governo, com o carimbo do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos", disse à Folha de S. Paulo o vereador José Aníbal (SP), chamando o ministro da Justiça de "guarda do governo" e negando ser beneficiário de R$ 500 mil.
A Polícia Federal confirmou a autenticidade da assinatura do ex-diretor da estatal Dimas Toledo na chamada "lista de Furnas, documento de cinco páginas que registra supostas contribuições de campanha, num esquema de caixa dois, a 156 políticos durante a disputa eleitoral de 2002. No total, eles teriam recebido R$ 40 milhões. A PF informou, contudo, que não tem como atestar a veracidade do conteúdo da lista. Os papéis citam empresas que teriam colaborado para um caixa dois administrado por Dimas Toledo.
"Essa lista é uma farsa que estava morta e sepultada. Aí, reaparece. Deve ter uma razão, a de colocar tudo no mesmo patamar", disse o ex-deputado Silvio Torres (PSDB-SP), que figura na lista como beneficiário de R$ 50 mil.
Para o deputado Walter Feldman (PSDB-SP), "hoje existe uma investida do PT contra o PSDB" e a lista é o único instrumento de que o governo federal dispõe para tentar nivelar os dois partidos. "É a nova carga do pessoal do PT para tentar começar o jogo eleitoral mostrando que todo mundo foi igual", afirmou Feldman, que, pela lista, teria recebido R$ 100 mil.
Procurados pela Folha, o governador de Minas, Aécio Neves, e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que também aparecem como beneficiários do caixa dois da estatal, não foram encontrados.
O advogado de Dimas Toledo, Rogério Marcolini, informou ontem que não comentaria os resultados da perícia realizada pela Polícia Federal num conjunto de papéis originais entregues à PF pelo lobista Nilton Monteiro. "A defesa de Dimas Toledo não teve acesso nem ao suposto documento original nem ao laudo que teria sido realizado pela Polícia Federal, o que impede maiores considerações sobre o tema", informou, em nota, o escritório Felipe Amodeo Advogados Associados.
O ex-diretor de Engenharia de Furnas prestou depoimento sobre a lista à Polícia Federal no último dia 10 de fevereiro e à CPI dos Correios cinco dias depois. Negou ter assinado os papéis e também ter captado ou destinado recursos de empresas doadoras para campanhas eleitorais. Dos 156 políticos referidos na lista, assumiu conhecer 33.