Pela primeira vez desde o surgimento das primeiras denúncias, o advogado Rogério Tadeu Buratti acusou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de negociar pessoalmente o pagamento de propina para uma empreiteira em Ribeirão Preto (SP) e de se beneficiar, diretamente, do esquema de corrupção supostamente montado durante sua administração.
Segundo trechos de um novo depoimento prestado por Buratti à Polícia Civil ao qual a revista Veja teve acesso, o ex-secretário municipal de Ribeirão contou aos policiais que foi o próprio prefeito quem negociou o mensalão de R$ 50 mil com a Leão&Leão.
Em depoimentos ao Ministério Público, à Polícia Federal e à CPI dos Bingos, Buratti havia dito que Palocci sabia do pagamento da propina e que o dinheiro tinha como destino o caixa de campanha do PT. De acordo com a reportagem, Buratti relatou, desta vez, que, embora a maior parte do dinheiro fosse repassada para o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, o então prefeito sempre reservava uma parcela para si.
Segundo o ex-secretário, que se tornou diretor da Leão&Leão logo depois de deixar a prefeitura, Palocci era tão próximo da diretoria da empreiteira que tinha à sua disposição uma reserva financeira para usar quando bem entendesse. Em troca da propina, diz Buratti, Palocci organizou um sistema contábil fraudulento pelo qual a empresa sempre ganhava da prefeitura valores maiores que os fixados no contrato inicial de varrição de lixo.
No depoimento, prestado no último dia 4 de fevereiro, o advogado sustentou que, mesmo depois que Palocci deixou a prefeitura para se tornar ministro, a propina de R$ 50 mil continuou a ser paga pela Leão&Leão com o conhecimento de seu sucessor, o prefeito Gilberto Maggioni.
De acordo com a reportagem, assim que soube teor do depoimento de seu ex-auxiliar, o ministro tomou duas providências. Negociou com o Ministério Público de São Paulo que as partes do depoimento que o envolviam fossem mantidas em sigilo e pediu a seu amigo Juscelino Dourado, ex-chefe de seu gabinete no Ministério da Fazenda, que tentasse convencer Buratti a fechar sua boca de uma vez por todas.
O advogado, que chegou a ser preso acusado de cobrar propina da multinacional Gtech, se tornou o principal algoz de Palocci há sete meses, quando começou a fazer denúncias contra o ex-chefe. O ministro da Fazenda tem negado todas as acusações. Em depoimento à CPI dos Bingos, Palocci admitiu que poderia até ter ocorrido algum ato de corrupção isolado na prefeitura, mas que, se fosse o caso de corrupção sistemática, ele teria tomado conhecimento.