Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara, confirmou que sua mulher, a jornalista Márcia Regina Milanésio, sacou R$ 50 mil da conta do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza na agência do Banco Rural em Brasília (DF). O ex-presidente da Câmara negou, no entanto, que soubesse que o recurso era originário do empresário.
O relator, deputado Cezar Schirmer (PMDB-RS), apresentou cópia de um recibo assinado por Márcia em que aparece o nome da SMP&B, agência de Valério. "Minha mulher não tem obrigação de saber o que é SMP&B", reagiu João Paulo. Segundo ele, o dinheiro foi usado para pagar pesquisas eleitorais em quatro cidades da região de Osasco (SP). "Não peguei dinheiro escuso nem de origem indeterminada ", enfatizou.
O petista responsabilizou o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares pelo saque. "Onde um político deve buscar recursos senão com o tesoureiro do seu partido? Foi por orientação do tesoureiro do PT que eu peguei os recursos no Banco Rural. Eu vou pagar por este episódio, mas não culpem a minha mulher. Ela só foi sacar o dinheiro a meu pedido", afirmou. Segundo ele, se soubesse que o dinheiro era irregular, não teria pedido à mulher que fosse ao banco. "Não sou tão idiota", disse.
João Paulo disse que conheceu Marcos Valério em dezembro de 2002, e que a SMP&B fez a campanha publicitária de sua eleição para a presidência da Câmara, em 2003. O deputado também contestou Valério, que disse, por três vezes, em depoimentos no Congresso, que os dois mantinha uma relação de amizade. Segundo João Paulo, os contatos eram exclusivamente profissionais. "Ele nunca foi à minha casa e nem eu à casa dele. Nunca jantei com ele fora da residência oficial e nunca fiz nenhum passeio, mas sempre fui muito solícito", afirmou.
Sobre as acusações de irregularidades nos contratos da Câmara com a SMP&B, feitos durante sua gestão como presidente da Câmara, João Paulo disse que não há do que se defender. Ele alegou que todos os contratos foram publicados na internet e feitos pela equipe do quadro administrativo da Câmara.
O ex-presidente da Câmara também declarou que não abusou de suas prerrogativas, não fraudou mecanismos para alterar resultados de votações nem omitiu ou mentiu em nenhum processo da Casa, e que, por isso, não pode ser acusado de ter quebrado o decoro parlamentar. "Peço, com humildade, sem nenhum receio, a minha absolvição neste processo", afirmou o deputado.