Os campeões de mudanças

Guillermo Rivera

Trocas de partidos feitas pelos parlamentares são, de fato, freqüentes em todas as legislaturas. Alguns deputados e senadores, porém, parecem extrapolar o uso dessa prerrogativa. Muitos deputados trocam três ou quatro vezes de partido em quatro anos de mandato. Mas, para Alceste Almeida (PTB-RR) e Zequinha Marinho (PSC-PA), uma troca por ano é pouco. Ambos já mudaram de partido em nada menos do que sete oportunidades em três anos de legislatura.

O deputado Alceste Almeida foi eleito pelo PL em 2002. Antes mesmo de assumir o cargo, trocou de partido e foi para o PPS, mas ficou lá pouco mais de um mês e meio. No dia 24 de março de 2003, Alceste Almeida foi para o PMDB.

Alceste parecia ter encontrado definitivamente o seu lugar na legenda. Mas, no começo deste ano, faria novo périplo partidário. Em 14 de fevereiro, o deputado amazonense eleito por Roraima foi para o PTB. No dia seguinte, voltou para o PMDB. Sua filiação ao partido foi cancelada uma semana depois, em 22 de fevereiro. Seis dias depois estampava de novo o símbolo do PMDB em seu gabinete. Com o fim do prazo eleitoral, em setembro, o deputado voltou outra vez ao PTB.

A história do deputado Zequinha Marinho (PSC-PA) em muito se assemelha à de Alceste Almeida. Há apenas uma pequena diferença. Enquanto o roraimense foi desligado compulsoriamente da bancada peemedebista, o paraense teve sua filiação ao PMDB cancelada duas vezes, em 28 de fevereiro e 9 de março de 2005.

Em 23 de janeiro de 2003 - antes, portanto, de tomar posse - a Câmara dos Deputados já registrava em seus arquivos a migração do deputado, do PDT para o PTB. Em 9 de setembro daquele ano, Zequinha foi para o PSC. Assim como Alceste, ele só voltaria a trocar de partido no começo deste ano. Foi para o PMDB em 2 de fevereiro de 2005, mas teve de deixar o partido três semanas depois. No dia seguinte, tentou voltar à legenda. Não conseguiu: já no dia 9 de março foi novamente impedido de ficar no PMDB. Assim, optou pelo PSC novamente em 30 de março.

Os dois deputados foram insistentemente procurados pela reportagem do Congresso em Foco ao longo do último mês, mas não foram encontrados nem deram retorno.

Fazendeiro comunista

No Senado, o campeão das trocas surpreendeu até mesmo os colegas com sua última incursão partidária. Mais conhecido pelas terras que tem do que pelos discursos que faz, o senador Leomar Quintanilha (TO) virou comunista há pouco mais de um mês. Em menos de três décadas, presidiu o diretório municipal da Aliança Renovadora Nacional (Arena), o partido do regime militar, comandou o PP, do ex-prefeito Paulo Maluf, e representou o PFL, do senador Jorge Bornhausen (SC), e o PMDB, do ex-presidente José Sarney (AP).

Disposto a disputar em 2006 o governo de seu estado com o apoio do PT, que administra a prefeitura de Palmas, decidiu se filiar ao PCdoB, do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (SP). "Mudei para o PCdoB convidado pelo líder do partido na Câmara (Renildo Calheiros) porque achei no partido um ambiente adequado para discutir, em meu estado, um programa de desenvolvimento estratégico. A definição maior foi o cenário político de meu estado", explicou o senador ao Congresso em Foco.

Que não se diga que Quintanilha e o PCdoB não são velhos conhecidos. Nos anos 1970, ainda nas Forças Armadas, o tocantinense combateu a guerrilha do Araguaia, organizada pelos comunistas nas matas da região conhecida como Bico do Papagaio, entre o Tocantins (na época, Goiás) e o Pará. Agora, sem as velhas armas, estão do mesmo lado.