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MUNDO
Congresso em Foco
21/7/2025 19:07
Enquanto a crise diplomática Brasil-Estados Unidos toma conta dos noticiários brasileiros, o presidente americano Donald Trump enfrenta uma crise interna que assombra seu governo. Controvérsias envolvendo o inquérito policial que apurou os crimes do empresário Jeffrey Epstein, coletânea de documentos que ficou conhecida como "Epstein files", colocam o republicano na mira de seus antigos aliados.
Trump havia prometido, ainda durante a campanha de 2024, que traria à tona uma suposta lista de clientes do milionário acusado de tráfico sexual. A promessa, no entanto, foi colocada em xeque após o Departamento de Justiça divulgar que tal lista não existe. A frustração entre eleitores e aliados de Trump acirrou a disputa interna no movimento conservador.
A revelação, feita por meio de memorando divulgado neste mês, motivou reações explosivas. Figuras próximas a Trump passaram a questionar a condução do caso pela procuradora-geral Pamela Bondi, aliada próxima do presidente. Ela também se tornou alvo de desconfiança entre os seguidores mais radicais do ex-presidente.
Trump e Epstein: uma relação de altos e baixos
Jeffrey Epstein era um financista americano com conexões em círculos políticos e empresariais de alto nível. Condenado por abuso sexual de menores, morreu em 2019, na prisão, em circunstâncias oficialmente tratadas como suicídio. A relação dele com Donald Trump remonta aos anos 1980. Durante ao menos 15 anos, os dois frequentaram os mesmos círculos sociais e foram vistos juntos em eventos, festas e jantares.
Trump chegou a dizer que Epstein era "um cara divertido" e que "gostava de mulheres jovens" frase registrada em entrevista à New York Magazine em 2002. Embora afirme nunca ter visitado a ilha particular do empresário nas Ilhas Virgens, Trump aparece sete vezes nos registros de voos do jatinho particular de Epstein.
Em 2024, a ex-modelo Stacey Williams acusou Trump de tê-la apalpado na frente de Epstein, em uma visita à Trump Tower nos anos 1990. Ela relatou que o empresário falava frequentemente sobre Trump e que se sentia usada como parte de um "jogo doentio" entre os dois. O caso reacendeu críticas sobre a relação do presidente com o condenado.
Promessa eleitoral
Durante a corrida presidencial de 2024, Trump usou o caso Epstein como ferramenta política. Em entrevistas, declarou que "não teria problema" em divulgar os arquivos restantes do inquérito, incluindo uma lista de supostos clientes. Chegou a afirmar que essa publicação "provavelmente aconteceria" caso fosse reeleito.
A retórica de campanha reforçou o discurso do movimento QAnon, que desde 2019 vê nos "Epstein files" uma chave para revelar um suposto esquema de pedofilia envolvendo políticos democratas e celebridades. Trump, ao flertar com essa narrativa, mobilizou sua base, incluindo seus rivais do Democratas na teoria de conspiração.
A promessa, no entanto, virou uma armadilha. O relatório oficial divulgado neste mês pelo Departamento de Justiça frustrou apoiadores: não há lista de clientes nem indícios de que Epstein tenha chantageado figuras públicas. Os registros, segundo a procuradora Bondi, incluem material sigiloso e imagens de abuso infantil que não podem ser divulgadas por lei.
Virada de jogo
Sob pressão de figuras conservadoras como Elon Musk, Alex Jones e deputados do próprio partido, Trump determinou na última semana que Bondi solicite à Justiça a liberação de todos os depoimentos do grande júri relacionados ao caso. A decisão, no entanto, foi considerada tardia por setores de sua base, que agora veem o presidente como parte de um suposto encobrimento.
A crise interna expôs rachaduras na base republicana. Influenciadores de direita acusam Bondi de trair promessas anteriores, ao garantir que tinha acesso a documentos inéditos que jamais vieram à tona. O clima de desconfiança se instalou mesmo entre nomes próximos a Trump, que se viu obrigado a defender publicamente sua aliada.
O próprio presidente reagiu com hostilidade aos críticos. Chamou de "fracos" os que ainda insistem no assunto, rotulando o caso Epstein como uma "fraude fabricada pelos democratas". A retórica, contudo, não arrefeceu os ataques. O descompasso entre o discurso de campanha e a prática no governo alimenta teorias conspiratórias e ameaça corroer sua base ideológica.
Cortina de fumaça?
A escalada da crise interna coincidiu com uma série de ações do governo americano contra autoridades brasileiras. Em 18 de julho, os Estados Unidos revogaram os vistos de entrada do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e de seus familiares. A medida foi anunciada pelo secretário de Estado, Marco Rubio, que acusou o magistrado de violar direitos constitucionais americanos.
A ofensiva foi celebrada por aliados de Jair Bolsonaro, investigado por tentativa de golpe de Estado. Seu filho, Eduardo Bolsonaro, agradeceu publicamente a Trump e Rubio. Intencionalmente ou não, a manobra ocupou os resultados brasileiros do Google nos dias seguintes, conforme aponta a ferramenta Google Trends. Nos Estados Unidos, porém, o termo "Epstein Files" se manteve atrelado às buscas por Trump".
Eleições parlamentares em cena
A crise envolvendo os Epstein Files atinge Trump na etapa mais frágil de qualquer governo americano: em 2026, em meio ao seu segundo ano de mandato, o país realizará suas próximas eleições parlamentares. Se mantida a rachadura em meio aos seus próprios aliados, o republicano corre o risco de perder sua base de apoio no Congresso.
O cenário que aguarda Trump no próximo pleito é pouco favorável, em especial no Senado: os Republicanos governam em maioria apertada, com 53 assentos contra 45 dos Democratas e mais dois oposicionistas sem partido: Bernie Sanders e Angus King. A perda dessa vantagem de seis deputados pode custar sua capacidade de governar.
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