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ATA DO COPOM
Congresso em Foco
23/9/2025 10:37
O Banco Central, que na semana passada manteve a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano, sinalizou que esse patamar deve perdurar por um "período bastante prolongado". O recado veio na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (23), e indica que a autoridade monetária não vê espaço para cortes no curto prazo.
A meta da instituição é assegurar a convergência da inflação para 3%, objetivo que tem se mostrado cada vez mais difícil diante do que os diretores chamam de "vetores inflacionários adversos".
Inflação mais baixa, mas ainda resistente
A ata reconhece que as leituras recentes de preços foram mais favoráveis do que o previsto, com queda nos bens industrializados e nos alimentos. Esse movimento foi atribuído à valorização do real e à redução no preço das commodities.
Mas o alívio não é generalizado. O BC destacou que a inflação de serviços segue resiliente, sustentada por um mercado de trabalho aquecido e pela demanda ainda firme. Além disso, os núcleos de inflação, indicadores que excluem itens voláteis e mostram a tendência de médio prazo, continuam acima do nível compatível com a meta há vários meses.
"Os núcleos de inflação têm se mantido acima do valor compatível com o atingimento da meta, corroborando a interpretação de uma inflação pressionada pela demanda e que requer uma política monetária contracionista por um período bastante prolongado", diz a ata.
Expectativas desancoradas
Se a inflação corrente mostra algum alívio, o mesmo não ocorre com as expectativas. O Boletim Focus prevê alta de 4,83% em 2025, 4,29% em 2026, 3,90% em 2027 e 3,70% em 2028 - sempre acima do centro da meta de 3%.
A desancoragem preocupa especialmente porque influencia salários, contratos e investimentos. "Em um ambiente de expectativas desancoradas, como o atual, exige-se uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado", concluíram os diretores.
O recado indica que o Copom vê a necessidade de manter os juros elevados não apenas para controlar a inflação presente, mas para reconquistar a confiança de que ela ficará sob controle nos próximos anos.
Economia perde fôlego
A política de juros altos tem efeito direto sobre a atividade econômica. Segundo a ata, as pesquisas setoriais e os dados de consumo mostram moderação no crescimento, em linha com o esperado. O crédito, mais sensível às condições financeiras, já dá sinais claros de arrefecimento, enquanto o mercado de trabalho resiste mais.
O Copom considerou esse arrefecimento essencial para reduzir a pressão da demanda sobre os preços. "O arrefecimento da demanda agregada é um elemento essencial do processo de reequilíbrio entre oferta e demanda da economia e convergência da inflação à meta", diz o documento.
O peso do cenário internacional
Embora o Federal Reserve (Fed) tenha iniciado cortes de juros nos Estados Unidos, a conjuntura externa ainda inspira cautela. O Copom destacou que o ambiente segue incerto devido à política econômica americana sob Donald Trump, com novas tarifas sobre importações e aumento dos gastos fiscais.
Esses fatores podem sustentar a inflação global e complicar o ambiente para países emergentes como o Brasil. Por outro lado, a recente apreciação do real, atribuída ao diferencial de juros e à queda do dólar frente a outras moedas, ajudou a conter parte da inflação doméstica.
Projeções do BC e compromisso com a meta
O Banco Central projeta que o IPCA chegará a 3,4% no primeiro trimestre de 2027, ainda acima da meta de 3%. A defasagem mostra que o processo de convergência será lento e custoso em termos de atividade econômica.
A ata reforça o tom vigilante: "O Comitê seguirá atento () e não hesitará em retomar o ciclo de alta se julgar apropriado. Reafirmou-se o firme compromisso com o mandato do Banco Central de levar a inflação à meta."
Impactos e leitura política
Manter os juros em 15% por tanto tempo deve ter efeitos diretos: crédito mais caro, consumo contido e investimento represado. Ao mesmo tempo, a decisão coloca o BC novamente no centro do debate político. De um lado, pressiona o governo, que aposta em estímulos fiscais para sustentar o crescimento; de outro, reforça a percepção de que a autoridade monetária atua de forma independente para preservar a credibilidade do regime de metas.
O impasse entre crescimento e estabilidade de preços tende a marcar a agenda econômica nos próximos meses. E, pelo que sinalizou o Copom, a inflação ainda falará mais alto do que o ritmo da economia.
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