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Congresso em Foco
Autoria e responsabilidade de Rafael Minatogawa
18/7/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 17:03
Uma das características mais danosas desse imposto é o fato de que ele se acumula ao longo da cadeia produtiva e isso favorece alguns setores em detrimentos de outros. Vamos tentar exemplificar isso e deixar mais palatável. Quanto mais desenvolvida for uma indústria, mais etapas na sua cadeia de produção ela terá e em cada etapa será agregado valor ao produto. As economias mais modernas cobram impostos apenas no que foi agregado em cada fase da produção, o chamado IVA (Imposto sobre Valor Agregado), que em tese é como deveria funcionar nosso ICMS. No caso da CPMF, o imposto se incorpora ao custo e não é possível você gerar um crédito daquele tributo já pago, fazendo com que na próxima etapa de produção você pague imposto sobre imposto.
Setores que exportam tendem a ser prejudicados, pois hoje a exportação é livre de impostos (não faz sentido exportar imposto), mas com a CPMF incidindo sobre a cadeia do produto exportado não será possível desonerar a exportação e o produto brasileiro ficará menos competitivo no mercado internacional. Já setores onde não há uma longa cadeia produtiva, isto é, o produto não vai sendo modificado diversas vezes até chegar ao consumidor final, tendem a ser beneficiados, pois o produto final teria menos impostos acumulados. É o caso de bens primários (o sujeito que colhe banana e vende ao consumidor final, só há uma transação aqui) e serviços (um serviço prestado por um advogado diretamente para o cliente também só será taxado uma única vez, no ato de pagamento). Veja que isso pode distorcer a alocação de recursos da economia, os setores menos onerados conseguirão ter uma taxa de lucro maior e atrair mais investimentos, não por serem mais produtivos ou inovadores, mas simplesmente por terem sido beneficiados pela decisão de um burocrata.
Outro problema é que, assim como as pessoas passaram a concretar suas janelas na Inglaterra no século 17, as pessoas vão reagir a esse imposto deixando de utilizar os meios eletrônicos para transferir dinheiro, voltarão a usar papel moeda, um grande incentivo a desbancarização, que já é elevadíssima no Brasil. A ideia de substituir a arrecadação da folha de pagamentos com a implementação desse imposto é extremamente arriscada, a alíquota terá que ser muito alta para que essa substituição aconteça e quanto mais alta, maior a propensão das pessoas a encontrarem formas de não pagar e a arrecadação cair.
Por fim, também é bom rechaçarmos o engodo de que a alíquota seria pequena e que se todos contribuírem com pouquinho não há mal algum. Pois é, pode até começar assim, mas como bem nos lembrou o ex-ministro Maílson da Nobrega em recente entrevista à CNN, o que a experiência nos mostra é que tributos que são fáceis de arrecadar, como é o caso da CPMF, são justamente as válvulas de escape que o governo procura em momentos de crise. Em 1934 criamos o Imposto sobre Vendas e Consignações (IVC) que era cumulativo, assim como a CPMF.
No início era mísero 0,5%, décadas mais tarde, ao ser extinto, já estava em 10% em alguns estados. Entendo a dificuldade que o governo enfrenta com as contas públicas e a geração de empregos, mas se faz necessário analisar o sistema tributário como um todo, entender onde tributamos muito, onde tributamos pouco e quais as consequências disso. Apelar para a criação de mais um imposto só por ser de fácil arrecadação com certeza não é o caminho. O papel dos governantes é justamente ter habilidade e a coragem de tomar as decisões mais difíceis.

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