Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
9/10/2006 | Atualizado às 21:57
Sylvio Costa *
O debate de ontem à noite na TV Bandeirantes foi, por vários motivos, histórico. Pela primeira vez, um presidente da República em exercício participou de programa semelhante (em 1998, candidato à reeleição, Fernando Henrique se recusou a debater com seus adversários). Foi também o primeiro debate, nestas eleições, a contar com a participação de Lula, que no primeiro turno repetiu o comportamento de FHC. Para completar, durante mais de duas horas, os dois candidatos ao Palácio do Planalto ofereceram doses inéditas de agressividade e de troca de acusações em um encontro público entre presidenciáveis.
Pobre em discussão de propostas, o programa certamente teve grande valia para revelar as estratégias de Lula e Alckmin para o segundo turno. Abandonando a postura tô-nem-aí adotada desde o ano passado, quando seu governo foi abalado pelo escândalo do mensalão, o presidente-candidato partiu para o ataque. Sustentou a tese de que os casos de corrupção hoje afloram porque as coisas são investigadas, não são "jogadas para debaixo do tapete".
Lula trouxe à lembrança as 69 CPIs que seu oponente, o ex-governador Geraldo Alckmin, não permitiu que a Assembléia Legislativa de São Paulo instalasse. Apresentou como contraponto a atuação independente do Ministério Público e o trabalho desenvolvido pela Polícia Federal hoje. E responsabilizou o PSDB e o PFL por boa parte dos grandes escândalos que seu governo enfrentou. Deu como exemplos o valerioduto e as máfias dos vampiros e dos sanguessugas, cujas origens remontam à era FHC.
Lula parecia empenhado em ser Alckmin, ou seja, o político que se propõe a atuar em nome da ética. Já o ex-governador paulista, por vezes muito nervoso, radicalizou nos ataques ao petista. Acusou o presidente de mentir e o chamou de "arrogante". Explorou com eficiência os casos de corrupção envolvendo ministros e aliados do presidente. Determinado a "desconstruir" Lula, fez análises muito negativas dos resultados administrativos do governo, no qual não reconheceu nenhum mérito.
E, em estilo consagrado no passado por políticos como Jânio Quadros ou Carlos Lacerda, emprestou tons sisudos e grandiloqüentes à defesa da moralidade. Tudo acompanhado de um discurso em que não faltou o compromisso com a preservação da propriedade privada, da lei, da ordem, do ajuste das contas públicas... e, outra novidade, a promessa de vender o avião presidencial e usar o dinheiro para construir cinco hospitais.
Vale-tudo
A declaração de Alckmin sobre o Aerolula acentua a suspeita de que o tucano pleiteia a herança, até mesmo, de certos componentes demagógicos do moralismo udenista. Afinal, como médico, o candidato deve saber que, mais do que construir hospitais, o Brasil precisa hoje fazer funcionar a contento a rede pública de saúde já existente. Por trás da defesa da propriedade privada, está implícita a insinuação de que Lula a colocaria em risco, preocupação que a ultraconservadora política econômica dos últimos anos não chancela.
Mas o comportamento dele e de Lula no debate provam que o segundo turno da disputa presidencial virou um imprevisível vale-tudo. Alckmin parece ter absorvido agora a lição que estrategistas políticos respeitáveis, como o prefeito do Rio, César Maia (PFL), pregavam há muito tempo: a necessidade de "destruir Lula", vinculando-o à corrupção, ao despreparo e à incompetência, como único caminho possível para levar a oposição à vitória.
Lula, mais tardiamente ainda, tenta explicar por que seu governo foi envolvido em tantos casos escandalosos. Sua resposta de que a corrupção não aumentou, mas apenas passou a vir à tona porque os órgãos de investigação passaram a funcionar melhor, talvez seja suficiente para conservar os votos que já tem. Mas dificilmente servirá para reconquistar os setores da classe média que se afastaram do PT ao ver a condescendência com que o presidente da República tratou correligionários e aliados acusados de cometer atos ilegais. Se não melhorar suas explicações, Lula pode ter sérios problemas para conquistar o patamar de 1,5 milhão de votos a mais (em relação à votação de primeiro turno) que lhe garantiria a reeleição.
Nesse vale-tudo, no programa transmitido ao vivo pela Bandeirantes, não faltou sequer a inútil claque dos acompanhantes dos candidatos, que em vários instantes desrespeitaram as regras do debate e aplaudiram seus preferidos. Nesse contexto, de radicalização extrema do debate político, aumentam as dúvidas sobre a herança que o eleito, seja lá quem for, receberá. Como nem governo nem oposição tem maioria do novo Congresso, um ambiente de hostilidades recíprocas tende a dificultar muito o trabalho do Executivo a partir de 2007.
Até lá, os dois candidatos parecem fadados a ser flagrados em contradição. Lula defendeu a discussão de planos de governo, mas em nenhum momento apresentou de forma clara uma proposta sequer para um eventual segundo mandato.
Alckmin cobrou várias vezes de Lula uma resposta para a origem do R$ 1,7 milhão apreendido em um hotel de São Paulo com militantes do PT que haviam negociado a compra do chamado dossiê Vedoin. Não respondeu, contudo, por que as 69 CPIs citadas pelo adversário não entraram em funcionamento.
Pontos fortes e fracos
Cada um deu mostras, ainda, de seus pontos fortes e fracos. Alckmin cresce quando fala das lambanças patrocinadas pelo governo, pelo PT e partidos aliados. Também se sai bem ao defender seu desempenho como governador de São Paulo. É pouco claro, no entanto, ao tratar de suas propostas de governo. E demonstrou não estar preparado para enfrentar as provocações de Lula quanto à participação do PSDB e do PFL em escândalos.
O tucano também toma um caminho arriscado, cuja eficácia só poderá ser avaliada a partir dos resultados da votação do dia 29, ao negar ao governo Lula qualquer mérito, em qualquer área que seja. Arriscado porque se trata de um governo que desfruta até agora de bons índices de aprovação popular.
Lula, por outro lado, ganha pontos quando trata das realizações do seu governo. Também demonstrou possuir maior equilíbrio emocional que o adversário para enfrentar a tensão de um debate presidencial. E mostrou que dispõe de munição para atacar a oposição no que diz respeito ao compromisso com a ética.
Mas encolhe ao ser questionado sobre o mensalão e outros episódios que macularam seu mandato. Nesse terreno, tudo leva a crer que as provocações de Lula quanto ao envolvimento de tucanos e pefelistas em corrupção não têm o mesmo efeito que as denúncias feitas contra o governo e o PT. Neste caso, as acusações foram objeto de investigações conhecidas, que resultaram em afastamento de próceres petistas e na abertura de processos já em andamento na Justiça. No outro, pouco mais há a dizer senão que os fatos não foram investigados. E aí cabe até a pergunta: por que Lula, como chefe da nação, não mandou os órgãos de fiscalização do Executivo apurarem?
Vale repetir que Lula também nada explicita em relação às suas propostas para um segundo mandato. Finalmente, é de estranhar a pouca propensão do candidato do PT para reconhecer erros após tantos fatos negativos que seu governo protagonizou.
Quem ganhou o debate é uma pergunta que não se pode responder com objetividade, já que a conclusão fatalmente será influenciada por preferências ideológicas e simpatias pessoais. Para ajudar você a formar livremente suas opiniões, o Congresso em Foco apresenta a seguir os principais momentos do debate promovido ontem à noite pela Bandeirantes. Um debate que, sem exagero, pegou fogo em várias ocasiões.
Principais momentos do debate
O dinheiro do dossiê
"De onde veio o dinheiro sujo, R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo, reais e dólar, para comprar o dossiê fajuto?", perguntou Alckmin a Lula, logo no início do debate, referindo-se aos recursos que seriam usados para adquirir o dossiê Vedoin. "Não teve nem a curiosidade de perguntar para o seu churrasqueiro de onde veio o dinheiro?", provocou o tucano.
Lula respondeu que o assunto está em investigação porque, em seu governo, os fatos denunciados são apurados. Disse, no entanto, que Alckmin não demonstrou o mesmo comportamento quando governou o estado de São Paulo.
Alckmin voltou várias vezes ao tema dossiê. Numa delas, afirmou: "Não precisa torturar para saber de onde veio o dinheiro. É só perguntar para o PT. É só chamar os seus amigos de 30 anos e perguntar". Sobre o assunto, Lula disse: "Eu quero saber mais. Quero saber quem arquitetou esse plano maquiavélico, quero saber o conteúdo do dossiê, quero saber de onde veio o dinheiro, quem fez essa negociata porque o único ganhador nesse trambique todo foi a candidatura do meu adversário. O conceito mais importante da ética não é dizer que não tem corrupção, é admitir que tem e punir".
Corte de gastos
"Eu vou cortar gastos, sim", disse Alckmin. Segundo o tucano, os cortes seriam feitos nos R$ 3,5 bilhões das "compras superfaturadas" e dos mais de 20 mil "companheiros de partido em cargo comissionado". "A única coisa que eles sabem fazer é cortar gastos daquilo que não poderia se cortar, que é o salário do trabalhador", declarou Lula, sugerindo que o corte dos gastos públicos prometido pelo adversário virá da redução dos investimentos sociais.
Alckmin e Barjas Negri
Lula questionou Alckmin pelo fato de ter nomeado o ex-ministro da Saúde Barjas Negri, que ocupou o cargo durante o governo Fernando Henrique, secretário de estado.
Segundo Lula, Barjas Negri já sofreu "102 condenações provisórias do Tribunal de Contas". Ele também atribuiu ao ex-ministro e ao governo Fernando Henrique a origem da máfia dos sanguessugas. E lembrou que Alckmin impediu que fossem instaladas na Assembléia Legislativa de São Paulo 69 comissões parlamentares de inquérito (CPIs). "A que preço eu não sei", completou.
Alckmin reagiu no mesmo tom, embora sem responder à questão das CPIs: "Não meça as pessoas pela sua régua. Eu não tenho, no meu governo, ministro condenado, não tenho indiciado pela polícia, não tenho assessor condenado. O escândalo do vampiro, do sanguessuga, é do seu governo. O que o presidente Lula deve explicar é como é que compra ambulância superfaturada. No meu governo, não tem absolutamente nada. Se tiver, vou ser o primeiro a apurar. Se há alguém que não tem moral para falar de ética, é o governo Lula".
"Eu não tenho no meu governo ministro denunciado pela Justiça. Tenho 32 anos de vida pública honrada", completou o ex-governador.
Alckmin: Lula mente
"Quanta mentira. Como o Lula mudou. As CPIs só saíram porque o Roberto Jefferson contou a verdade", disse Alckmin após Lula afirmar que não fez nada para impedir a apuração de irregularidades durante o seu governo.
Segundo Lula, a diferença entre o seu governo e o de Alckmin é que ele jamais abafou escândalos. Ao contestá-lo, o ex-governador paulista falou que "o governo foi derrotado, a CPI saiu pela força dos fatos".
O presidente solicitou direito de resposta, alegando que tinha sido chamado de mentiroso. A produção da Bandeirantes negou o pedido.
Dose certa com dinheiro federal
Reiterando que o candidato tucano Geraldo Alckmin tenta vender à sociedade uma imagem que não corresponde à realidade, o presidente Lula o acusou de fazer propaganda sobre o programa Dose certa, voltado para a distribuição gratuita de medicamentos, sem dar crédito à importância dos recursos federais na implementação do projeto.
Lula afirmou que o governo federal já investiu em R$ 64 milhões no projeto, "embora o governo federal não seja sequer citado". Alckmin não contestou a informação.
Políticas sociais
Lula criticou duramente a ação de Alckmin na área social, como governador de São Paulo, e afirmou: "Quem cuida das políticas sociais aqui somos nós". Ele reforçou: "Quem cuidou da educação em São Paulo foi o governo federal".
O presidente disse que colocou à disposição do estado de São Paulo 35 mil vagas para cadastramento de jovens carentes que seriam apoiados por programas federais. "Cadastraram pouco mais de 7 mil", afirmou.
Alckmin contestou, corrigindo um dado errado mencionado antes pelo presidente. "São 170 mil famílias no Renda Cidadã e não 170", retificou. Também destacou o fato de o governo Fernando Henrique ter criado o Bolsa Escola e outros benefícios à população de baixa renda que o governo Lula reuniu no Bolsa Família.
O tucano foi questionado por Lula sobre os motivos pelos quais as escolas públicas de nível médio de São Paulo não participaram do Enem, programa de avaliação do governo federal. Alckmin disse que o exame não é "obrigatório". "Faz o Enem quem quer", declarou. E voltou ao ataque: "Lula, quando entrou, parou todas as escolas técnicas de São Paulo, de forma pequena, mesquinha. O governo anterior universalizou o ensino fundamental. O que o governo Lula fez? Não fez nada! Tem maioria para absolver mensaleiro, mas não tem maioria para aprovar o Fundeb", disparou.
Lula contra-argumentou afirmando que, na verdade, São Paulo decidiu não participar do exame "por temer que se mostrasse que o ensino no estado mais rico do país não está tão bom quanto deveria estar, quando comparado com os outros estados". Também disse que, em São Paulo, várias escolas públicas funcionam precariamente. "Você esqueceu de dizer do problema da educação e que tem escola de lata aqui em São Paulo", destilou.
"São Paulo não tem uma escola de lata mais", reagiu Alckmin. "Inverídica a colocação. Criticou o estado sem ajudar. Falo aos prefeitos do Brasil: Lula tirou dinheiro da cota do salário-educação. Foi tão vergonhosa a mudança que Lula não teve coragem de aprovar a lei". Ele reiterou, ainda, o compromisso de manter o Bolsa Família.
Febem
Lula declarou que a Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem) "é tratada como um sistema prisional para castigar a meninada".
Alckmin defendeu seu programa de recuperação dos menores infratores e condenou o uso de demagogia para abordar os problemas por que passou a Febem em seu governo (a instituição foi envolvida no período em diversas rebeliões).
"Trabalhamos na Febem desde o Mário Covas. O último grande complexo já está sendo desativad, alías, sem nenhuma ajuda do governo federal. O problema da Febem não é para demagogia. É um problema dos pais, da família, do governo da sociedade, da escola. É um problema para todos nós", afirmou.
Privatização
"Esse governo [do PT] tem uma qualidade que vocês não tem, porque a de vocês é privatizar, privatizar, privatizar. A nossa é investir no social, no social, no social", disse Lula. Em outro momento do debate, ele completou: "Aliás, aqui em São Paulo, vossa excelência acabou de privatizar uma empresa pública de linha de transmissão. Porque é a única coisa que vocês sabem fazer: ou é aumentar imposto ou é vender o patrimônio público para ter dinheiro."
Alckmin o acusou de fazer "boataria", alardeando que a coligação PSDB/PFL pretende retomar as privatizações. Alckmin disse que distribuiria para a imprensa a cópia das declarações de Lula a rádios sobre as supostas privatizações de um governo Alckmin, envolvendo inclusive a Petrobras. O tucano afirmou: "Eu não vou privatizar porque não é necessário".
Lula reagiu: "Ora, tenho o direito de pensar que vocês planejam fazer isso. Essa é a história do PSDB e do PFL, a privatização está até no programa do PFL". Para Lula, o programa de privatizações do PSDB fracassou por se desfazer de patrimônio público sem realizar a prometida redução da dívida pública, que aumentou durante a era FHC.
Cartão corporativo
Alckmin acusou o governo Lula de aumentar os gastos com cartão de crédito corporativo. "O cartão de crédito do seu gabinete teve um crescimento exponencial", afirmou, desafiando Lula a abrir o sigilo de suas contas.
Lula rebateu: "A única coisa boa que o Fernando Henrique Cardoso criou no governo dele foi exatamente esse o cartão corporativo". E questionou o tucano sobre a presença do ex-presidente Fernando Henrique no debate, que foi acompanhado pelos principais assessores e líderes que apóiam as duas candidaturas. "Pergunte ao Fernando Henrique. Aliás, não trouxeram ele aqui hoje por vergonha? Ele prejudica a campanha?", provocou.
"Vá com cuidado, vá devagar. Na frente dessa câmera tem gente inteligente assistindo. Está na hora de discutir o que vamos fazer com o Brasil", declarou Lula.
Ética do PT X ética tucana
Lula foi questionado sobre as denúncias contra os ex-ministros José Dirceu (Casa Civil), Luiz Gushiken (Comunicação e Gestão Estratégica), Humberto Costa (Saúde), Anderson Adauto (Transportes) e Antonio Palocci (Fazenda). Observou que o governo foi "violento no caso do caseiro". E arrematou: "Eu não jogo nas costas dos amigos os problemas do governo".
O presidente-candidato respondeu que estranho não é ter corrupção. "O estranho não é ter um ministro envolvido, é ter um governo que pune os ministros", disse. "Antigamente o que se faria nesse país era levantar o tapete e jogar toda a sujeira embaixo. Eu desde pequeno ajudava a minha mãe a limpar a casa e a gente levantava o sofá para varrer. No governo de vocês não faziam isso."
Lula justificou o afastamento dos ministros. "É importante saber que esses ministros cometeram erros, foram convidados a vir para o governo porque tinham um passado". O presidente declarou que um governo comprometido com a ética tem que "cortar na carne".
O presidente disse ainda que o valerioduto "começou em Minas Gerais" e voltou a falar sobre as privatizações: "Até hoje nós não sabemos para onde foi tanto dinheiro das privatizações". Mencionou ainda os métodos usados para aprovar a emenda da reeleição, durante o governo FHC: "Ali que começou a podridão e não foi permitida CPI para investigar". "O fato de ter começado em outro estado não justifica", respondeu o tucano.
"O conceito mais importante da ética não é dizer que não tem corrupção, mas quando ver, punir. Eu tenho muito orgulho de não vacilar e investigar". "Eu não escolho engavetador", disse Lula, ao se referir ao procurador-geral da República durante o governo tucano, Geraldo Brindeiro. "Escolho pessoas que cumprem suas funções com independência, e as instituições estão funcionando plenamente". E concluiu: "Eu quero discutir governo, eu quero discutir política econômica", concluiu Lula.
Alckmin rebateu dizendo que os ministros foram afastados por falta de condições políticas para permanecerem no cargo. "Nenhum deles foi demitido", enfatizou.
Segurança pública
Acusado por Alckmin de reduzir os recursos para a segurança pública e o Exército, Lula disse que o seu governo gastou bem. "Gastamos no Pronaf [Programa Nacional de Agricultura Familiar] R$ 10 bilhões e R$ 23 bilhões em políticas sociais. Nunca se criou tanto crédito nesse país", afirmou.
"Você cortou 15% no orçamento da segurança. Somente na inteligência, o corte foi de R$ 68 milhões", disse Lula ao questionar o trabalho feito pelo ex-governador Geraldo Alckmin no campo da segurança pública. "O choque de gestão não aconteceu", complementou, referindo-se à promessa de Alckmin de dar um "choque de gestão" no país.
Questionado em relação à segurança pública, Alckmin afirmou que Lula se "comporta como comentarista". "Tiramos da rua 90 mil bandidos, reduzimos em 50% o número de homicídios em São Paulo. Nós temos hoje 130 mil policiais no estado de São Paulo. Polícia trabalhando, protegendo a população".
Alckmin afirmou que Lula liberou apenas 9% do orçamento para a segurança. "Não tem um estado que não tenha hoje problema grave de segurança. Todas as grandes cidades têm problema de segurança. Essa é uma questão nacional", disse.
Sobre os investimentos na área, Alckmin declarou: "Nós investimos R$ 10 bilhões em segurança pública. Os 130 mil policiais de São Paulo são o triplo da Marinha, mais que o dobro da Aeronáutica e quase maior que o Exército brasileiro, dez vezes a Polícia Federal".
"Quando ele precisou, não tinha onde pôr o Fernandinho Beira-Mar, veio pedir para mim", acrescentou, referindo-se ao pedido feito na época pelo Ministério da Justiça. "Era para ele ficar 30 dias, ficou dois anos". Alckmin concluiu: "Eu vou fazer aquilo que o presidente tem que fazer, combater o tráfico de drogas".
Alckmin declarou ser contra a redução da maioridade penal, mas afirma que apresentou na Câmara uma proposta para que o menor que completa 18 anos não fique mais na Febem. "Infelizmente, a lei é federal e o governo do PT piorou a lei para crime organizado", afirmou.
Política externa
"A política externa brasileira é ousada", disse Lula. "Este país conquistou autoridade moral. Nós temos que negociar. Eu sei o que é uma pessoa autoritária. O Brasil tem que ser justo com a Bolívia", defendeu o candidato do PT após ser questionado sobre a atitude do governo brasileiro em relação à administração de Evo Morales. Lula ainda comparou o tucano ao presidente dos Estados Unidos, Geroge Bush: "Se o Bush tivesse o bom senso que eu tenho, não haveria a guerra do Iraque. Ele poderia ter seguido o conselho do Brasil. Ele pensava que nem você, Alckmin".
Lula acrescentou que "é difícil discutir com quem está na época da guerra fria". "Vocês pensavam pequeno. Vocês só pensavam o Brasil exportando para os Estados Unidos e para a União Européia", atacou o petista.
Para Alckmin, o presidente é "fraco". Na sua opinião, na crise boliviana, "o Brasil foi submisso". "O presidente do Brasil tem que defender o povo do Brasil", acrescentou. Alckmin também criticou o reconhecimento da China como economia de mercado pelo governo federal.
Infra-estrutura
Lula lamentou a falta de conhecimento de Alckmin em assuntos energéticos. "O que fica claro aqui é que Alckmin não estudou bem esse assunto. No nosso governo, a Petrobras atingiu auto-suficiência. Nós criamos o biodisel e o H-Bio", declarou o candidato do PT.
No governo passado, completou Lula, o dinheiro das estradas foi dado para os governadores e "eles preferiram pagar 13º salário".
Em relação ao saneamento básico, Lula provocou o tucano. "Pegue de 1995 a 2002, você terá a surpresa de ver que nós investimos mais".
Alckmin disse que o risco de um apagão energético é real e existe por conta da "falta de investimento" do governo federal. "O Brasil não tem investimento em geração de energia importante", afirmou, acrescentando que sua meta é gerar em 4 mil megawatts a mais por ano. "As hidroelétricas do Norte não saíram do papel, não temos investimentos novos. O Brasil, como precisa crescer e vai crescer, vai ter problema de energia", continuou o tucano.
"Hoje não tem um projeto na geração de energia na área de hidrelétrica. Nos vamos ter um problema sério em 2009 pela inoperância do governo", ressaltou, prometendo "investir e investir para valer" na geração de energia. Também criticou as estradas brasileiras. "É preciso ter obras definitivas, preço melhor e concorrência pública".
A avaliação do governo Lula
Fazendo um retrato bastante negativo do governo petista, Alckmin disse que "o mundo de Lula é o mundo virtual". Alckmin terminou o terceiro bloco fustigando Lula. "Ele sabe tudo sobre o governo Fernando Henrique. É pena que não saiba nada do seu governo", ironizou.
Lula apelou ao seu adversário: "Eu não esperava que você viesse aqui para elogiar o meu governo. É como Corinthians e Palmeiras. Um corintiano não vai elogiar um palmeirense e um palmeirense não vai elogiar um corintiano. Mas procure se informar sobre o que fizemos, reconheça o que está sendo feito. Não se apequene, Alckmin. Tenha visão de Brasil. Veja o que foi feito e diga que a partir daí você vai fazer mais".
O Aerolula
Criticando os gastos feitos pelo governo petista com o Aerolula, Alckmin prometeu que, se for eleito, venderá o avião presidencial e usará o dinheiro para construir cinco hospitais. O tucano disse que "o presidente da França não tem avião, o primeiro-ministro da Inglaterra não tem avião, até o papa não tem avião".
"Ele não vendeu nenhum [avião] que herdou", contestou Lula. Alckmin rebateu: "Mais uma vez, vejo que o presidente do meu país está mal informado. Quando assumi o governo, o estado de São Paulo tinha dois aviões, e vendi os dois. Tinha dois helicópteros. Vendi um e outro doei para a polícia".
Os rumos da economia
Lula afirmou que o governo do PT fez o país crescer como nunca em 20 anos. "Este país estava totalmente falido, não tinha crédito, não tinha credibilidade. Nós conseguimos, em três anos e meio, fazer com que o país chegasse agora, no final do ano, a quase US$ 135 bilhões de exportação. Este é um país que está dando certo", declarou. Acrescentou ainda que o PSDB no poder só sabe "fazer imposto ou vender o patrimônio público".
O jornalista Joelmir Beting questionou o tucano sobre o corte dos gastos do governo. Alckmin respondeu que o Brasil tem que crescer 7% ao ano. "Hoje, o Brasil cresce a um terço do ritmo de crescimento dos países emergentes. O Brasil tem uma política fiscal ruim. Aumenta gasto, gasta mal, ineficiência no gasto público, gastou mais em propaganda do que em saneamento básico. Eu vou ter uma política fiscal séria, fazer os ajustes necessários, para o Brasil crescer, para melhor a educação, saúde, segurança pública".
O tucano destacou que a eficiência será prioridade em seu governo. O PT é "especialista em bravata", fustigou, acusando o partido de aplicar a mesma política ortodoxa de antes, mas "com doses maiores". E completou: "O povo está empobrecido. Classe média sem dinheiro. O maior juro do mundo. Risco Lula, risco PT. Política fiscal frouxa e política cambial errada".
Arrogância X nervosismo
O tucano abriu o quarto bloco do debate comentando a resposta de Lula à pergunta do jornalista Franklin Martins sobre o fato de o presidente declarar não saber das irregularidades que ocorriam em seu governo. Alckmin chamou Lula de "arrogante".
"A questão do mensalão foi feita no Palácio do Planalto pelo seu ex-chefe da Casa Civil", provocou. O tucano atacou novamente, afirmando que existe "uma lista telefônica de corrupção" no governo do PT. "Onde foram os 11 milhões para as cartilhas que fizeram propaganda do governo?", questionou.
Comentando a resposta do presidente Lula sobre uma pergunta do jornalista José Paulo de Andrade a respeito da corrupção e dos valores éticos do povo brasileiro, Alckmin afirmou ser "bem diferente" do atual presidente da República.
Lula ironizou a agressividade e o nervosismo do seu adversário: "Não sei porque você está assim tão nervoso, Alckmin. Isso nem combina com você".
Lula: os escândalos e "eles"
Nas suas considerações finais, Lula lamentou o fato de a oposição estar mais interessada em fazer acusações do que em discutir programas de governo. Disse que, no segundo mandato, terá a experiência e o conhecimento da máquina administrativa necessários para dar continuidade às transformações a que deu início em 2003. Destacou a educação como prioridade de seu segundo governo. Segundo ele, "cada cidade-pólo deste país deverá ter uma extensão de universidade e escolas técnicas, o Brasil vai exportar inteligência".
Reiterando a linhada adotada ao longo de todo o programa, Lula também procurou mostrar que, embora seja o alvo preferencial de denúncias, os grandes escândalos de corrupção que eclodiram durante seu governo têm origem nos governos do PSDB, aos quais se referiu várias vezes como "eles", expressão abrangente o bastante tanto para designar a era FHC quanto os atuais apoiadores da candidatura Alckmin.
Pouco antes das considerações finais, o candidato tucano encerrou sua fala com uma pergunta: "Qual é autoridade moral do presidente Lula de chegar aqui de forma arrogante e falar sobre ética?". O presidente respondeu: "A autoridade de quem sabe que 60% dos prefeitos envolvidos com a máfia das ambulâncias são do PSDB e do PFL".
Em seguida, afirmou que "os vampiros e os sanguessugas vieram antes de 2003".
Alckmin: "O Brasil pode ir melhor"
Nas considerações finais, o candidato alfinetou Lula ao ressaltar que participou de todos os debates. "Quero dizer aqui do meu compromisso: o primeiro compromisso é com o desenvolvimento". O tucano afirmou que "o PT já teve a sua chance e deixou passar". Segundo ele, "o Brasil está com a receita errada".
Geraldo Alckmin destacou a necessidade de cortar investimentos. "O primeiro compromisso é emprego e renda". O tucano afirmou que vai criar uma nova Sudene. O segundo compromisso, declarou, é com os "serviços públicos de qualidade", com destaque para a educação, sobretudo o ensino fundamental e técnico. O tucano também destacou a atuação do governo federal na área da saúde. "Talvez tenha sido um dos piores governos na área da saúde. Sou médico. Passei a minha vida minimizando o sofrimento das pessoas".
Sobre a segurança pública, Alckmin afirmou que terá "mão firme com a segurança pública". E finalizou: "O Brasil não pode ficar como está. Precisa de ética e respeito com dinheiro público. O Brasil pode ir melhor".
* Colaboraram Rodolfo Torres e Lúcio Lambranho
Temas
PEC da Blindagem
Protestos deste domingo dividem reação de parlamentares nas redes