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Congresso em Foco
20/10/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 17:31
*Para o Brasil, agosto de 2020; demais países, projeções do FMI para dezembro de 2020. ** Países latino-americanos de renda média, de acordo com classificação do FMI. Fonte: Brasil, BCB, séries temporais; demais países, FMI, Fiscal Monitor, out. 2020[/caption]
Para o mercado e a elite do sistema político brasileiro, déficits fiscais aliados ao rápido crescimento da dívida levam ao descontrole de preços e à explosão de juros. Mas a realidade mundial é outra, fartamente documentada desde pelo menos a crise de 2008: déficits fiscais e emissões recordes de moeda seguidos de pressões deflacionárias e taxas de juros negativas.
Por aqui observa-se praticamente o mesmo. Com a estagnação do triênio 2017-2019 e a depressão deste ano, a inflação vem rodando abaixo do centro da meta de 4,0% a.a. fixada pelo Conselho Monetário Nacional, seguindo um patamar bastante baixo para os padrões históricos. As altas recentes nas taxas mensais de agosto e setembro não decorrem de excesso generalizado de demanda puxada pelo gasto público, mas dos impactos da desvalorização cambial sobre os preços dos alimentos e do desmonte das políticas de estoques reguladores. As expectativas FOCUS seguem apontando IPCA de 2,65% em 2020 e de 3,02% em 2021.
IPCA
(% acumulado em 12 meses)
[caption id="attachment_462155" align="alignnone" width="567"]
Fonte: BCB, séries temporais[/caption]
Já o custo de novas emissões da dívida interna do Tesouro caiu entre março e agosto de 2020, tal qual ocorria antes. O gráfico seguinte mostra a proximidade entre a taxa de juros obtida nos leilões de títulos do Tesouro e a taxa Selic fixada pelo Banco Central. Como a política monetária respondeu às pressões deflacionárias deste ano ofertando liquidez ao sistema financeiro e reduzindo a Selic, as emissões de títulos do governo também se tornaram mais baratas: a Selic acumulada em 12 meses em agosto, descontada a inflação, foi de 1,5% a.a., enquanto o custo do novo endividamento do Tesouro foi de 2,5% a.a., um dos mais baixos já registrados.
Custo Médio da Emissões da Dívida Pública Mobiliária Interna
(acumulado em 12 meses, % a.a.)
[caption id="attachment_462156" align="alignnone" width="574"]
Fonte: STN, Relatório Mensal da Dívida[/caption]
Nem a inflação explodiu, muito menos as taxas de juros do governo, mas o mercado insiste no enredo de terror: o encurtamento de prazos e a concentração de vencimentos da dívida em 2021 colocariam em dúvida sua capacidade de rolagem. Realidade ou chantagem?
No Brasil, a proibição legal de emissões diretas de dívida do Tesouro para o Banco Central obriga o primeiro a recorrer ao mercado para recompor o caixa. Em condições como as atuais, de incerteza global e crise, é esperado que os detentores de títulos pressionem por encurtamento de prazos e subida de taxas (especialmente prefixadas), mas o governo possui instrumentos para reagir. Primeiro, o planejamento da gestão da dívida inclui reserva de liquidez, a qual confere alguma flexibilidade aos leilões. Segundo, o Tesouro não precisa chancelar a alta das taxas prefixadas podendo emitir a taxas flutuantes indexadas à Selic, que se encontra no mínimo histórico. Terceiro, ao Banco Central é facultado atuar no mercado secundário onde se influenciam as taxas prefixadas. Por fim, sempre há possibilidade de alteração legal ou de decisão administrativa que permita ao Banco Central financiar diretamente o Tesouro, como ocorrido em agosto quando o Conselho Monetário Nacional autorizou a transferência de R$ 325 bilhões de lucros das reservas cambiais à gestão da dívida.
Não é o governo quem quebra na moeda que emite. É a solidez do sistema financeiro e as grandes fortunas que correm riscos, não com um calote do governo na própria moeda, mas devido às incertezas globais e ao colapso de empresas, da produção e da renda na crise.
Governo e cúpula do Congresso fazem coro ao script de chantagem do mercado desenhado para 2021, uma agenda regressiva que hipoteca o futuro da economia e da população em troca de ganhos de curto prazo dos detentores de riqueza. Acabar com o orçamento de guerra antes do fim da batalha contra o vírus, o desemprego, a pobreza e a miséria é escolha de poucos para muito poucos.
Bráulio Santiago Cerqueira é mestre em Economia, Auditor Federal de Finanças e Controle, Secretário Executivo do UNACON Sindical.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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