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Congresso em Foco
2/9/2017 11:20
[fotografo]Elza Fiúza / Agência Brasil[/fotografo][/caption]
*Por Patrícia Figueiredo, para a Agência Pública
O debate sobre a adoção de um novo sistema eleitoral no Brasil causou um impasse entre deputados da base governista e da oposição. No modelo previsto na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 77/2003, os eleitos para a Câmara dos Deputados em 2018 e 2020 serão necessariamente aqueles com mais votos em cada estado. Pelo esquema em vigor hoje, os votos dos candidatos e da legenda são somados, e o total de cada coligação determina quantas cadeiras cada grupo poderá ocupar.
Ao criticar o novo formato, o deputado federal Alessandro Molon (Rede-RJ) alegou, no plenário da Câmara, que o distritão dificultaria a renovação do parlamento, aumentando as taxas de reeleição. O parlamentar disse ainda que o modelo desperdiça votos e dificulta a representação de mulheres e negros. O Truco - projeto de checagem de fatos da Agência Pública - analisou estudos internacionais e consultou cientistas políticos brasileiros, que confirmaram como desvantagens reais do distritão as consequências levantadas por Molon em seu discurso. Por isso, a frase foi classificada como verdadeira.
Procurado pela reportagem, o deputado forneceu uma justificativa por e-mail, citando reportagens e entrevistas, para comprovar a sua afirmação, além de dados oficiais que refletem a participação feminina na Câmara. Uma das matérias mencionadas por Molon inclui um estudo, feito pelo cientista político Jairo Nicolau, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que mostra que 30,6 milhões de votos teriam sido desprezados em 2014 caso o distritão fosse o modelo eleitoral adotado nas eleições proporcionais daquele ano. O número é resultado da soma dos votos recebidos por candidatos que não foram eleitos, utilizados em 2014 no cálculo do quociente eleitoral que ajudou a eleger outros deputados federais dos mesmos partidos ou coligações.
Relativo apenas às eleições brasileiras de 2014, o dado não é suficiente para comprovar a afirmação de Molon, que avalia o distritão como um sistema que sempre desperdiça votos. O Truco buscou outras fontes para saber se isso já ocorre em países que adotam esse modelo de escolha dos parlamentares.
Um dos bancos de dados consultados foi a Rede de Conhecimento Eleitoral ACE. Desde 1998, o grupo composto por oito organizações independentes de análise eleitoral possui um dos mais completos bancos de dados sobre eleições do mundo. Além de informações sobre os sistemas eleitorais usados em mais de 200 países, o projeto reúne também detalhes do funcionamento de cada um deles e destaca suas vantagens e desvantagens.
O distritão é chamado, em inglês, de Single Non-Transferable Vote (SNTV) - ou voto único não-transferível. De acordo com os dados do ACE, trata-se de um modelo adotado em poucos países no mundo. Apenas Afeganistão, Ilhas Pitcairn e Vanuatu utilizam o sistema para a totalidade das eleições legislativas; na Jordânia, Indonésia e em Taiwan, o modelo é usado apenas para parte das cadeiras disponíveis no parlamento.
Segundo a enciclopédia do ACE, o sistema SNTV "dá origem a muitos votos desperdiçados, especialmente se os requisitos de nomeação forem abrangentes, permitindo que muitos candidatos se apresentem". Isto ocorre porque os votos creditados aos candidatos que não são eleitos não têm influência no resultado final, ou seja, não contam para o partido ou coligação, como ocorre no sistema proporcional em vigor hoje no Brasil.
Um estudo feito pela Universidade de Estocolmo em parceria com a União Interparlamentar (UIP) e o Instituto Internacional para Democracia e Assistência Eleitoral (IDAE) também aponta que sistemas como o SNTV tendem a desperdiçar mais votos. O documento relaciona, ainda, o melhor aproveitamento dos votos à maior representação feminina nos parlamentos. "Se uma fórmula eleitoral leva a menos votos desperdiçados [.] os partidos terão mais incentivos para apresentar candidatos mais diversos e balanceados, o que leva à inclusão de mais mulheres nas listas", atesta a publicação Atlas of Electoral Gender Quotas.
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