O conflito iniciado no último sábado (1º) envolvendo três países da América Latina tem movimentado a chuvosa tarde desta segunda-feira no Senado. As diferentes opiniões têm sido emitidas a cada instante dentro ou fora do plenário, com divergências sobre qual deveria ser o papel do Brasil em relação ao episódio.
A
crise diplomática começou com a operação militar na fronteira entre Colômbia e Equador, quando um ataque promovido por aquele país provocou a morte do número dois das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Raúl Reyes – o que aconteceu em território equatoriano. Conhecido por seu relativo apoio às Farc, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, apressou-se em criticar a postura do presidente do Equador, Álvaro Uribe, gerando um mal-estar com direito a expulsão de embaixadores e envio de tropas para as regiões fronteiriças. As relações diplomáticas entre Colômbia e Equador, agravadas pela interferência da Venezuela, estão tensas.
O líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), protestou contra a intromissão de Chávez. “Estou indignado, porque, se não houve nada foi entre Colômbia e Venezuela neste episódio. Se houve alguma coisa teria sido entre colombianos e colombianos, entre governo e Farc – um organismo terrorista que, na minha opinião, tem de ser extirpado, e que poderia até ter transbordado para o território equatoriano”, bradou.
“Houve um incidente diplomático. Agora, a virulência com que o presidente Chávez voltou-se para o episódio demonstra claramente a preferência dele pelo organismo que foi extirpado”, disse Agripino, apontando um caso de belicismo entre países sul-americanos. “Isso é preocupante, porque o presidente Chávez fala em perspectiva de guerra. Quando se fala em guerra, tem de se falar pela vontade do país. Será que os venezuelanos querem se armar para ir à guerra?.”
Já o senador José Sarney (PMDB-AP) evitou polemizar o assunto, restringindo-se a comentar, em plenário, que “o Brasil deve comandar uma ação diplomática” para solucionar o conflito. O peemedebista destacou que a solução do confronto deve partir do continente sul-americano, e não da Organização dos Estados Americanos (OEA), conforme sugeriu momentos antes José Agripino.
Gravidade
“A maior crise da América Latina, do ponto de vista militar, em mais de cem anos.” Foi assim que o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) definiu o conflito ensejado no último sábado, com a invasão do Equador por parte da Colômbia. Para o pedetista, “pela primeira vez há, de fato, o risco de um conflito armado entre países grandes”. Ele se referia ao fato de que, no final dos anos 60, uma pequena guerra foi travada por Honduras e El Salvador, considerados países pequenos.
“Um país invadiu o outro: a verdade é que Colômbia invadiu Equador, que cria uma reação militar. E a Colômbia tem, do outro, lado, a Venezuela, um país hoje bem armado e em conflito político com a Colômbia. Além disso, dentro da Colômbia há uma guerrilha”, explicou Cristovam, dando gravidade à situação deste país, que considera como “muito difícil, isolada politicamente e imprensada militarmente”.
Já o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) concorda com o perigo que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, representaria para a região: Chávez teria interesse no conflito como forma de encobrir o fracasso de sua gestão, mesmo que isso levasse à guerra. Para o tucano, Chávez é contraditório ao criticar a intervenção dos Estados Unidos em outros países. “É o que ele faz agora”, afirmou, referindo-se ao fato de que a Venezuela interveio no confronto entre Colômbia e Equador.
Para Alvaro Dias, a OEA tem de intermediar o confronto. “O Brasil tem de participar com muita prudência.”
(Fábio Góis e Rodolfo Torres)