Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
16/4/2008 | Atualizado 17/4/2008 às 6:56
Antonio Vital*
Em Roraima, agricultores e índios ameaçam entrar em conflito em uma reserva de 1,7 milhão de hectares. Em Mato Grosso do Sul, aumentou quase 200% o número de assassinatos de indígenas, sem contar os suicídios e os casos de morte de crianças por desnutrição. No Amazonas, tribos do Vale do Javari padecem com malária e hepatite. No Xingu, a soja ameaça as nascentes dos rios.
O avanço da fronteira agrícola e a necessidade cada vez maior de hidrelétricas e recursos minerais em um país que está crescendo tornam mais atual do que nunca o impasse em relação aos índios. Ainda é possível preservar a cultura, a saúde e o modo de vida desses primeiros brasileiros? A questão indígena foi discutida no programa Expressão Nacional, da TV Câmara, na noite de terça-feira (15).
Na mesa, o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira; os deputados Francisco Rodrigues (DEM-RR) e Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB), da CPI da Subnutrição de Crianças Indígenas; e, representando os índios, Marcos Terena.
A maior parte do debate girou em torno da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, onde arrozeiros, apoiados por índios, ameaçam entrar em conflito com índios apoiados pela Funai e por entidades como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
A reserva foi homologada em 2005 pelo presidente Lula e há uma determinação federal de retirada dos produtores rurais. Isso só não aconteceu até agora porque o Supremo Tribunal Federal concedeu liminar ao governo de Roraima suspendendo a ação da Polícia Federal, que tem ali 500 homens de prontidão, sob a alegação da ameaça de uma carnificina.
Declarações feitas por ministros do Supremo e oficiais do Exército sugerem a possibilidade de uma revisão no tamanho da reserva, de modo a criar "ilhas" de propriedades rurais em seu interior, como reivindicam os arrozeiros. Mas a Funai não admite isso. "A posição do governo é a de cumprir o decreto de demarcação. Essa idéia de fazer ilhas nunca foi colocada. A reserva foi delimitada depois de considerados todos os aspectos culturais e econômicos da região", disse Márcio Meira.
Meira é paraense, trabalhou no museu Emílio Goeldi, em Belém, é formado em Língua e Literatura Francesa pela Universidade de Nancy, em História pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e é mestre em Antropologia Social pela Unicamp. À frente da Funai, tem como desafio imediato ultrapassar a média de 14 meses de seus antecessores no cargo – falta um.
Mas tem outros, mais difíceis. Além de sustentar a posição em relação à reserva Raposa Serra do Sol e de enfrentar as críticas de parlamentares como Francisco Rodrigues, que é de Roraima e defende uma flexibilização das reservas indígenas que ocupam quase a metade do estado e, segundo ele, prejudicam seu desenvolvimento, o presidente da Funai tem outra polêmica pela frente: a questão da mineração em terras indígenas.
Um projeto em tramitação na Câmara autoriza a mineração nas reservas. Meira não é contra a atividade. "A Constituição diz que os índios têm o usufruto do território, com exceção do subsolo. Mas tem que regulamentar", disse. "Eu sou pessoalmente favorável à regulamentação da exploração de diamantes na reserva dos cinta-larga, em Rondônia, para que eles tenham renda para sair do estado de dependência em que se encontram", concluiu. Os cinta-larga, três anos atrás, assassinaram 18 garimpeiros que trabalhavam ilegalmente na reserva.
O Estatuto dos Povos Indígenas, há 14 anos em tramitação no Congresso, poderia tratar desse e de outros assuntos, que por falta de uma discussão profunda sobre os diversos impasses relativos aos índios, são analisados de forma isolada. "O problema é que não temos representantes no Congresso para reformular o Estatuto do Índio", resumiu Terena, que atualmente administra o Memorial dos Povos Indígenas em Brasília. Terena é piloto de avião e obteve licença para pilotar em um curso no qual o instrutor pensava que ele era japonês.
Os casos de Raposa Serra do Sol e da mineração são bons exemplos do novo patamar em que se discute a situação do índio no Brasil de hoje: o econômico. O debate na TV Câmara, com grande confronto entre Meira e Rodrigues em torno do tamanho das reservas em Roraima e seus impactos na economia local, abordou também casos como o da reserva de Dourados, no Mato Grosso do Sul, onde 13 mil índios vivem em uma área de pouco mais de 3 mil hectares – coincidentemente o local onde mais ocorrem assassinatos de índios entre si, suicídios e mortes por desnutrição.
Segundo Vital do Rêgo, o índio ali se ressente da proximidade com a cultura do chamado "homem branco" e da impossibilidade de manter seus costumes e tradições em um território exígüo.
O programa sobre a questão indígena será reprisado sexta (18), às 4h e às 11h30; sábado (19), às 12h; domingo (20), às 9h30; e segunda (21), às 6h e às 10h.
Na próxima terça-feira (22), às 22h, o Expressão Nacional vai debater ao vivo o resultado das eleições presidenciais do Paraguai e o discurso dos principais candidatos de rever o Tratado de Itaipu. Sugestões e perguntas podem ser enviadas pelo email [email protected] ou pelo telefone gratuito 0800-619619.
*Antonio Vital é apresentador do programa Expressão Nacional.
Tags
DEFESA DO CONSUMIDOR
Lula sanciona lei que cria novos direitos para clientes de bancos
RESOLUÇÃO DERRUBADA
Veja como cada deputado votou no projeto sobre aborto em crianças
PROTEÇÃO À INFÂNCIA
Governo critica projeto que suspende norma sobre aborto legal infantil