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Congresso em Foco
13/5/2007 | Atualizado 21/5/2007 às 15:21
Divulgação
Uma das principais defensoras do governo no Congresso, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) acredita que só o bom senso entre os petistas impedirá o racha da coalizão que hoje apóia o presidente Lula nas eleições de 2010. Bom senso que, segundo a líder do PT no Senado, nem sempre prevalece no partido nas questões eleitorais.
Para Ideli, a falta de um candidato natural dentro do PT à sucessão de Lula estimula a fragmentação da base aliada, a começar pela disposição anunciada de aliados históricos dos petistas, como o PSB, o PDT e o PCdoB, de ter candidatura própria daqui a três anos.
“Quando não se tem uma figura forte, um franco favorito, fica todo mundo alegrinho, fica todo mundo com vontade. Todo mundo com muita vontade. A mosquinha azul do poder se prolifera”, afirma a senadora.
Nesta entrevista exclusiva ao Congresso em Foco, Ideli admite a existência de "fissuras" na coalizão governista e diz que as diferenças entre os 11 partidos que apóiam o governo Lula podem favorecer a oposição eleitoralmente. “A tendência do PT é trabalhar para que haja um consenso, para evitar um racha em 2010, mas tem um grau de imponderabilidade”, afirma.
“Nós temos uma coalizão que não é uma unanimidade. Há diferenças muito grandes entre os partidos que compõem a coalizão. Há um esforço de governabilidade, mas tem trincas, fissuras e a oposição não precisa ser muito esperta para trabalhar com essas fissuras e botar cunha. Eles sabem fazer isso”, completa.
Mas as fissuras partidárias não são exclusividade da coalizão governista, ressalva a líder do PT, ao apontar o distanciamento entre o DEM (ex-PFL) e o PSDB no início do segundo governo Lula. “Os interesses mais imediatos do PSDB e do PFL são muito diferentes agora. Já tivemos várias oportunidades de testemunhar o constrangimento do PSDB de ter que seguir a linha adotada pelo PFL para evitar um racha público. Isso tem um certo grau de barril de pólvora”.
Ideli também acredita que o sucesso do PT nas últimas eleições – com a reeleição de Lula e a votação expressiva recebida pelo partido no Congresso – e o empenho do presidente em construir um governo de coalizão contribuíram para enfraquecer a oposição.
Para a senadora, a situação dos ex-pefelistas é mais delicada do que a dos tucanos. Enquanto o PSDB elegeu governadores em estados importantes – São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul, por exemplo – e tem três pré-candidatos fortes para a disputa presidencial de 2010, o DEM conquistou apenas o governo do Distrito Federal no ano passado, observa a senadora.
“O único lugar em que o PFL teve algum crescimento foi no Senado. Eles não têm mais onde mostrar serviço porque têm apenas dois locais de atuação: o Senado e o Tribunal de Contas da União, eles estão ali no canto”, ironiza. Por isso, avalia, o DEM age no Congresso “como bicho acuado”.
Passados dois anos do escândalo do mensalão, a líder do PT nega que o partido protegido os envolvidos com o caso e diz que o debate interno sobre a responsabilidade pelas irregularidades continua. “[Algumas lideranças] Acabaram se excedendo, ultrapassando o limite da razoabilidade e da confiança e tomando atitudes, decisões e comportamentos e ações com que todo o partido teve que arcar. É isso que nós estamos debatendo.”
Leia abaixo a íntegra da entrevista de Ideli Salvatti ao Congresso em Foco:
Congresso em Foco: As primeiras denúncias sobre o mensalão completam agora dois anos. A senhora acha que o PT mudou muito desde que estourou o escândalo da compra de votos?
Ideli Salvatti – Eu acho que nós estamos em um processo congressual em que as forças internas dentro do partido estão fazendo debates, apresentando propostas. O grande momento de consolidar, de fazer o salto de qualidade que o partido precisa será no nosso congresso, no início do segundo semestre. Estamos mudando, aprofundando nossas questões internas, nossas delegações de poderes internos, o monitoramento das ações das nossas próprias lideranças – esta, digamos, porosidade que o partido obrigatoriamente precisa ter entre a base e quem está delegado para dirigi-lo. Determinadas lideranças acabaram assumindo tarefas e comportamentos que não foram devidamente monitorados nem pelo conjunto da direção, nem pelo conjunto do partido. Acabaram se excedendo, ultrapassando o limite da razoabilidade e da confiança e tomando atitudes, decisões e comportamentos e ações com que todo o partido teve que arcar. É isso que nós estamos debatendo.
O PT aprendeu com a crise?
Eu acho que o partido amadureceu bastante porque, junto com a situação política que nós vivenciamos, vivemos um profundo enfrentamento com as forças adversárias ao nosso projeto político. E foi muito interessante porque, nesse enfrentamento, a vitória, a reeleição do presidente Lula teve uma participação do PT que não pode ser nunca desconsiderada, mas teve uma participação de parcelas significativas da população que não estão representadas efetivamente no PT. São setores que são fruto das políticas adotadas no primeiro mandato do presidente. Talvez o nosso mais importante desafio enquanto partido é entender essa força nova na sociedade, que inclusive se contrapôs à tal da “opinião publicada” – que dizia o tempo todo que o Lula estava exterminado, que o PT estava extirpado da vida. Essa força política, essa opinião pública que não estava colocada nos textos da opinião publicada, ela é uma demonstração inequívoca de uma força nova na sociedade. É uma força que soube enfrentar os adversários do projeto de inclusão social, do projeto de distribuição de renda, do projeto de crescimento com justiça social que o primeiro mandato do presidente Lula acabou representando. Essa força fez com que parcelas consideráveis da população viessem juntas. Não fossem essas classes que tiveram oportunidades no primeiro mandato do presidente Lula, talvez nós não tivéssemos tido a vitória que tivemos.
A senhora acha que essa aprovação acabou fazendo com que o partido passasse a mão na cabeça desses líderes?
Acho que não, porque o debate continua dentro do partido. Agora, as pessoas dizem assim: “alguns líderes foram reeleitos e tal”. Eu acho que também teve uma ponderação da própria opinião pública, que teve o entendimento de que muitas das questões tiveram gravidade sim, mas muito foi repercutido e foi repicado muito além do que a situação em si ou, digamos, o significado
O presidente Lula tem razão quando ele diz que muitos líderes petistas foram difamados?
Eu não tenho nenhuma dúvida disso. Teve um volume amplificado, muito além dos fatos, das provas e da verdade dos fatos. Isso não significa que não tenham existido fatos que mereçam uma profunda reflexão pelo partido, comportamentos que tem que ser rechaçados, modificados e eliminados do nosso cotidiano partidário. Agora, o escândalo que a opinião publicada e a oposição fizeram é impressionante e continua até hoje, não é? Nós tivemos agora em Florianópolis uma operação da Polícia Federal que teve grande repercussão. Foram presos vários vereadores, dirigentes e ocupantes de cargos comissionados municipais e em nenhum momento é dito o partido deles. Agora, se tem uma suspeita, uma insinuação contra alguém do PT, aí é assim: “porque o fulano de tal, do PT”. Acho ótimo quando dizem, por exemplo, que “o fulano que é vizinho do amigo, da prima, do presidente Lula.” Dão aquele jeitinho de chegar à árvore genealógica inteirinha, à vizinhança inteirinha, à vida inteirinha pregressa e seja lá o que for do acusado para poder vinculá-lo ao presidente Lula. É uma forma de buscar amplificação, mas faz parte, infelizmente, do jogo democrático do Brasil. E ainda bem que a população brasileira soube discernir.
E, ainda assim, o PT aumentou a base no Congresso...
Acho que muito mais importante até do que a derrota da opinião publicada com relação à reeleição do presidente Lula foi o fato de o PT ter sido o partido mais votado do país em votos para deputado federal e também como legenda. Qual é o partido que, depois de dois anos de massacre de manhã, de tarde, de noite, de madrugada, um dia sim e o outro também, consegue ter um resultado eleitoral como o PT teve? Talvez a maior derrota da opinião publicada não tenha sido a vitória do presidente Lula na magnitude que foi – com mais de 20 milhões de votos de diferença no segundo turno. Indiscutivelmente, foi a vitória do PT. Fomos o mais votado para Câmara e a legenda mais votada. Os dois campeões de voto no Senado são do PT – percentualmente o Tião Viana, com 88% dos votos válidos, e o Eduardo Suplicy, em número de votos. Passamos, ainda, de três para cinco governos de estado. Eu acho que indiscutivelmente foi uma resposta muito forte.
Mas a maioria aliada no Senado, ao contrário da Câmara, não é muito segura. Quando o Democratas e o PSDB resolveram fazer a CPI, fizeram, inclusive, com a adesão de aliados...
Conhece a situação de bicho acuado? Se pensar bem, o único lugar em que o PFL – eu não consigo chamá-los de Democratas, desculpe-me – teve algum crescimento foi no Senado. Eles não têm mais onde mostrar serviço porque perderam todos os governos de estado. E não venha me dizer que o Arruda [governador do Distrito Federal que derrotou a tucana Maria de Lourdes Abadia em eleição que teve uma participação ambígua – ora apoiando um, ora apoiando outro – do senador peemedebista Joaquim Roriz, principal força política do DF] é do PFL, porque não é. Ele é um ex-tucano que, por uma questão momentânea, acabou indo para o PFL. O governo do DF, além de tudo, é muito diferente de outros governos estaduais. Então eles não têm governadores e diminuíram na Câmara. O PFL tem apenas dois locais de atuação: o Senado e o Tribunal de Contas da União – se você pegar as indicações para o TCU, todas são ligadas ao PFL. A ofensividade deles, eu diria e, sob certos aspectos, até a agressividade além da conta no Senado e no TCU são fruto do recuo, eles estão ali no canto.
Mas ainda podem criar dificuldades...
Claro, eles sempre criam dificuldade aqui no Senado. Votar é sempre um processo de muito mais discussão, de elaboração e tal. Até porque nós temos uma coalizão que reúne onze partidos, mas não é uma unanimidade. Há diferenças muito grandes entre os partidos que compõem a coalizão. Ela é um esforço de governabilidade, mas tem trincas, tem fissuras e não precisa ser muito esperto para trabalhar com essas fissuras e botar cunha. Eles [a oposição] sabem fazer isso. Quem governou durante tantos séculos alguma coisa aprendeu, não é? Eles têm capacidade de operar.
E essa vai ser a principal dificuldade do PT no Congresso nesta legislatura?
Eu acho que a gente teve melhoras de governabilidade, de relação, de correlação, mas aqui no Senado é sempre muito cuidado, tem que ter sempre muito cuidado. A gente sempre trabalha com muito cuidado até por causa da própria composição. Aqui, além dos partidos, tem as figuras. Por exemplo, você vai para uma reunião de líderes. O líder do PFL é o Agripino Maia, mas quando o Antonio Carlos Magalhães cisma de não seguir o Agripino, não tem quem faça o Antonio Carlos Magalhães seguir o Agripino. Eu sou líder de uma bancada que tem um grau de complexidade também, mas o Agripino é, literalmente, destituído pelo ACM. Ou seja, aqui existem essas instituições, as figuras. Dizem que aqui são 81. Sempre 81.
Na sua avaliação, é real ou não passa de mito a intransigência da oposição no Senado?
Acho que tinha mais facilidade para o PSDB e o PFL unificarem suas ações no primeiro mandato. O presidente Lula era candidato à reeleição e, como eles estavam apostando naquele enfrentamento, a unidade era absolutamente necessária até para consolidar uma perspectiva eleitoral, um conjunto. Neste segundo mandato, a situação é diferente. O presidente Lula não será candidato. O PSDB tem governos estaduais, e são governos importantes – Minas, São Paulo, e Rio Grande do Sul. E eles têm candidato à sucessão do presidente Lula, o PFL não tem. Os interesses mais imediatos do PSDB e do PFL são muito diferentes agora. A gente já teve várias oportunidades de testemunhar o constrangimento do PSDB de ter que seguir a linha adotada pelo PFL para não ter um racha público entre eles. Isso tem um certo grau de barril de pólvora, não é? Porque faz uma vez, faz duas, faz três vezes... mas começa a ficar uma coisa meio difícil. Aí eu acho que entra a própria intuição do presidente Lula e essa determinação de aproveitar o bom momento que o país está vivendo e não perder as oportunidades que se abriram e que foram construídas para o país crescer, se desenvolver e distribuir renda. Ele tem utilizado todos os mecanismos que estão à mão para poder confluir esforços no sentido de aproveitar o momento. O Lula não tem tido pruridos de conversar com o ACM ou conversar com o Tasso Jereissati quando precisa. E vai fazer mais, o que também contribui para enfraquecer a oposição.
A senhora acha que esse suposto racha entre o PSDB e o Democratas pode influenciar nas próximas eleições?
Eu acho que influencia na condução dos atos do governo, na governabilidade. Com relação à eleição, eu não me arrisco a dizer nada. Acho que vamos ter candidaturas e uma disputa muito grande na base do governo e na oposição. Na oposição vai ser muito interessante porque vai ser dentro do PSDB: o Serra, o Aécio e o Alckmin.
É possível que o Aécio vá para o PMDB caso o PSDB decida apoiar a candidatura de Serra ou Alckmin para a presidência em 2010?
Tudo é possível (risos).
E no PT? Tudo é possível também? Fala-se
Como nós vamos ter outros nomes dentro da coalizão, eu espero que o bom senso do PT seja unificar nome. Só que bom senso no PT é algo que a gente trabalha muito, mas, às vezes, não dá certo. Então, eu acho que a tendência é trabalharmos para termos um nome.
Em entrevistas recentes ao Congresso em Foco, líderes do PCdoB, do PSB e do PDT admitiram estar insatisfeitos com o pouco apoio e atenção que vêm recebendo do PT e sinalizam com candidatura própria em 2010. Como a senhora vê isso?
Já faz parte do jogo de fazer o seu campinho. Cada um está querendo entrar no jogo.
Nas eleições municipais, o PCdoB já disse que não vai ficar do lado do PT porque quer eleger representantes próprios. A tendência é que haja um racha na base aliada?
Acho que nós vamos trabalhar para que em 2010 não haja. Mas tem um grau de imponderabilidade, claro. Acontece o seguinte: quando você tem um franco favorito, isso força a busca de unidade. Quando não tem, fica todo mundo alegrinho, fica todo mundo com vontade (risos). Todo mundo com muita vontade, a vontade generaliza. A mosquinha azul se prolifera.
Há alguma chance de a CPI do Apagão Aéreo não ser instalada no Senado?
Não sei. Eu estou com muita expectativa. A última reunião de líderes que nós fizemos aqui foi um dos casos gritantes em que ficou visível o incômodo do PSDB com o PFL. O Arthur Virgílio várias vezes disse que havia um apelo da bancada da Câmara para não fazer a CPI aqui e tal. Ele não queria que fosse lido o requerimento, foi o Agripino Maia que insistiu que fosse lido e que fosse dado o prazo para indicações. Então, a coisa está assim: como a gente ainda não teve o retorno do Arthur Virgílio, ainda temos que ver por onde vamos. Além disso, teve também a questão levantada pelo senador Wellington Salgado, que questionou regimentalmente a questão da existência das duas CPIs. Mas eu vou ter que esperar um pouquinho para saber o rumo que a coisa vai tomar.
E a CPI na Câmara, a senhora concorda com o que vem sendo dito, que vai ser uma CPI chapa branca por conta da presença maciça de integrantes pouco conhecidos da base aliada?
Eu não gosto muito de opinar sobre a outra Casa, eu acho ruim dar palpites sobre o trabalho deles. O que eu penso é que CPIs nunca ficam – por mais que você tenha controle, ou queira, ou determine – naquele círculo fechadinho. Sempre deriva, não tem como não derivar. Até porque as CPIs acabaram se transformando em uma coisa interativa: está on-line, a imprensa interfere, a sociedade e os blogs também. É uma coisa muito dinâmica. Mas eu acho o seguinte: se é uma CPI para tratar da crise aérea, é uma CPI para tratar da crise aérea. O que a gente não pode é repetir a CPI dos Bingos. Ter uma CPI para tratar dos bingos que não investiga nada sobre os bingos. Aí, poucos meses depois, a sociedade é surpreendida com uma operação caça-níquel envolvendo até a alta esfera do judiciário brasileiro.
Se fosse o contrário, se as denúncias de corrupção na Infraero tivessem surgido durante o governo Fernando Henrique, o PT não teria forçado para haver uma investigação?
Mas faria a investigação – ou a proporia – em cima do fato. O problema, em primeiro lugar, é que a oposição fala que vai fazer CPI de uma coisa e quer, na verdade, fazer de outra – como foi a dos bingos, que virou a do fim do mundo. E é tão interessante que se você pegar o comportamento nas assembléias legislativas, a posição deles é outra. O caso da Assembléia Legislativa de São Paulo é escandaloso. São 70 CPIs e nem com ordem judicial sai uma do papel. É claro, todo governo resiste a ter CPI. Isso é um comportamento comum, porque é aquilo que todo mundo sabe: começa de um jeito e você nunca sabe como é que termina. Dependendo das confluências de interesses vários, as coisas podem degenerar – como, infelizmente, eu acho que nós tivemos. As últimas CPIs são um depoimento desfavorável a esse instituto. Nós degeneramos o instituto CPI com a prática adotada nas que funcionaram recentemente: Banestado, Compra de Votos, dos Bingos e até a dos Correios, que foi uma das que funcionou mais ou menos, mas mesmo assim, o que teve no final foi uma coisa ridícula. Agora, essa diferença tão gritante, tão escandalosa de comportamento do PSDB e do PFL aqui e
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