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Congresso em Foco
11/10/2008 | Atualizado 12/10/2008 às 13:59
Carta Capital
As provas são irrefutáveis
Que diria o atento leitor, o cidadão honrado, ao ser informado que o supremo representante da Justiça brasileira compra terrenos de 2 milhões de reais por um quinto do valor? E que diria ao verificar que, ao aliar à atividade de magistrado a de empresário da educação, fecha contratos sem licitação para cursos diversos com entidades estatais as mais variadas, desde a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional até o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação? É de se supor que o cidadão em pauta ficaria entre atônito e espantado.
A mídia nativa aposta porém em leitores rudes e ignaros, que não precisam, ou melhor, não podem e não devem conhecer situações do Brasil 2008 como as acima apontadas. Donde, que Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal, aquele que chamou às falas o presidente da República, durma sonos tranqüilos a despeito do clamoroso conflito de interesses revelado pela magistral reportagem de Leandro Fortes, publicada na edição de CartaCapital da semana passada.
A mídia nativa alimenta uma convicção terrível e, ao mesmo tempo, patética: não acontece aquilo que ela não noticia. Por quanto tempo ainda conseguirá enganar muitos cidadãos, por mais honrados e atentos? A verificar. Vale, em todo caso, citar o chamado ombudsman (ombudsman? Estaremos na Suécia?) da Folha de S.Paulo, na sua tentativa de explicar o silêncio do seu jornal em relação às revelações de CartaCapital.
Pergunta-lhe diretamente um leitor por que ignorar fatos tão relevantes, sem deixar de recordar que o célebre grampo da conversa entre Mendes e o senador Demóstenes Torres, até hoje sem prova, teve ampla cobertura da Folha. Responde o ombudsman que, dependesse dele, ambos os assuntos não teriam registro, embora sustente que a reportagem de CartaCapital apenas se refere “a um possível conflito de interesses”.
Possível? Escancarado, indigno de um país que se pretende democrático. Que esperar, no entanto, do ombudsman (esta palavra, insisto, me causa enormes perplexidades) de um jornal que, por exemplo, se esbaldou em casos como o do cartão corporativo da tapioca, enquanto enterrava rapidamente as informações sobre o relacionamento tucano com a Alstom. Seria demais exigir do solerte fâmulo que se perguntasse por que o próprio Gilmar Mendes, ao reagir contra CartaCapital, falasse em “pistolagem jornalística” em lugar de se dizer vítima de mentiras. Não diz porque as provas são contundentes, e um magistrado ao menos sabe disso.
(texto assinado por Mino Carta, sócio e diretor de redação da revista)
O fator reeleição
Baixada a poeira do primeiro turno das eleições, políticos de todas as cores ideológicas começam a decifrar o recado dado pelo eleitor com vistas na campanha de 2010. Nessa eleição, o PMDB mais uma vez mostrou a força municipalista que tem e conseguiu o maior número de prefeituras: 1.194. Enquanto isso, o PT aproveitou o embalo da popularidade do presidente Lula e foi o partido que mais cresceu, com 157 prefeituras a mais que 2004, e um total de 548. Por outro lado, o ex-PFL, mesmo com cara e sigla novas, perdeu o poder em 176 municípios e agora comanda 494 cidades.
Outro recado do eleitor também ocupará a cabeça dos políticos pelos próximos dois anos: a transferência de votos. Os resultados de 2008 serviram de teste para o PSDB de Aécio Neves, em Minas Gerais, e José Serra, em São Paulo, além, é claro, para o presidente Lula. Para entender melhor o que dizem os números do primeiro turno das eleições 2008, CartaCapital entrevistou o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do curso de Ciência Política do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), Leonardo Barreto.
CartaCapital: Que força o PMDB pode ter 2010, já que mais uma vez confirma a vocação municipalista, mas não tem nomes nacionais?
Leonardo Barreto: O PMDB, na hora de se fazer alianças nacionais, não consegue dar garantias. Quando o governo Lula deu um ministério para o Geddel Vieira Lima (Integração), o governo só tem a garantia de apoio dos deputados ligados ao Geddel. Então o PMDB é mais importante para a governabilidade do que para uma campanha, por falta de lideranças nacionais. Mesmo que um líder do PMDB proponha uma aliança em 2010, esse líder vai comprometer o PMDB ligado a ele, e não o partido como um todo. Mas a questão não é quem vai ser apoiado pelo PMDB em 2010, mas quanto o PMDB vai cobrar pelo apoio.
Não há grana que baste
O tão ansiado e regateado pacote de socorro de 700 bilhões de dólares (5,3% do PIB, proporcionalmente o dobro do que o Brasil gastou com o Proer de 1995 a 2000) foi aprovado, na sexta-feira 3 de outubro, pela mesma Câmara dos Deputados dos EUA que o rejeitara quatro dias antes, sob a livre e espontânea pressão da Casa Branca, de Wall Street, dos partidos e dos candidatos presidenciais. Mesmo sem ter sofrido nenhuma alteração substancial.
A menos que se conte como substancial a redução do limite de isenção fiscal no pagamento de executivos das instituições socorridas de 1 milhão de dólares para 500 mil. Isso não impede as instituições de pagarem mais, se quiserem: apenas não poderão deduzir o excesso de pagamento do imposto de renda.
Henry Paulson, secretário do Tesouro, se opunha a qualquer limite de remuneração, argumentando que muitos executivos prefeririam deixar suas empresas quebrarem a abrir mão dos ganhos multimilionários para receber o socorro do governo. É, isso mesmo, como se falasse de seqüestradores que ameaçassem explodir o avião caso não recebessem o dinheiro do resgate – e ele sabe do que está falando, pois foi presidente do Goldman Sachs. Acabou por ceder para viabilizar politicamente o pacote.
Mas, na segunda-feira 6, quando as bolsas reabriram, foi como se o pacote houvesse sido contraproducente a ponto de provocar o desmoronamento do capitalismo durante o fim de semana. As bolsas dos EUA e da Europa chegaram a despencar 8% a 10%, a Bolsa brasileira sofreu dois circuit-breaks: despencou 10% nos primeiros dezoito minutos e mais 5% pouco depois da primeira interrupção. A Bolsa russa caiu quase 20%.
Pane nos ares
Embora o dia 29 de setembro tenha entrado para o calendário das efemérides fúnebres no Brasil desde 2006, com a morte de 154 passageiros do vôo 1907 da Gol, vai se consolidando também, dois anos depois, o marco de um princípio oposto às regras democráticas, cujo enunciado é assim: a verdade é hierárquica.
É contra isso que se tem batido o advogado da Federação Brasileira das Associações dos Controladores de Tráfego Aéreo, Roberto Sobral, que, na quarta-feira 8, entregou ao presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Cezar Britto, um dossiê com denúncias que apontam a gravidade da situação no setor aéreo nacional. Na pilha de papéis há um relato minucioso das condições. Entre as denúncias destaca-se um documento recentemente agregado por Sobral que comprova, segundo ele diz, a insistência da Aeronáutica em sonegar informações. “É coisa de causar espanto e terror”, escreve o advogado no dossiê à OAB. Na página 57, no item 27 do Relatório de Auditoria 20.840/2007-4, do Tribunal de Contas da União, uma “autoridade da Aeronáutica” diz o seguinte:
“Em reunião realizada no gabinete do relator, os gestores alegaram que não promovem essa alteração por temerem que isso possa ser usado na esfera judicial, uma vez que os controladores envolvidos no acidente do vôo Gol 1907 usaram, como linha de defesa no processo sob (sic) o caso, a tese de que essa funcionalidade teria sido uma das causas do acidente”. A alteração referida no texto do TCU trata de correção de uma falha de gerenciamento do sistema X-4000.
Essa denúncia, se comprovada, deixará as autoridades da Aeronáutica expostas à acusação por prática de ato criminoso, pelo fato de adotarem providências “para não dar razão aos controladores que apontaram ali uma das falhas que conduziram à colisão do vôo Gol 1907”, como afirma Roberto Sobral.
Veja
O trator Kassab
O atual prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, do DEM, foi o político mais votado do Brasil no primeiro turno das eleições municipais. Com uma montanha de votos – 2 140 423, para ser exato –, ele deixou para trás a ex-prefeita Marta Suplicy, do PT, que aparecia na frente em todas as pesquisas, e chegou à reta final do primeiro turno na posição de líder. A vantagem do democrata sobre a petista, de 0,8 ponto porcentual, foi pequena, mas premonitória.
Quatro dias depois da abertura das urnas, o Datafolha aferiu que Kassab ostentava uma dianteira confortável: 54% das intenções de voto no segundo turno, contra 37% de Marta. Agora, caminha a passos largos, larguíssimos, para ser reeleito no próximo dia 26. Seu desempenho prova que, embora desconhecido, Kassab nunca foi um azarão. Mesmo antes de o horário político começar, quando ainda aparecia na rabeira das pesquisas, ele já reunia condições para atrair eleitores. Afinal de contas, sua administração é aprovada por 61% dos eleitores, um dos índices mais altos do país, e sua imagem está associada à do governador José Serra, do PSDB, o principal líder político do estado hoje. Junte-se a isso uma estratégia de propaganda matadora – e eis que Kassab se transformou num trator pronto para terraplenar o PT em São Paulo.
No início da campanha, a equipe de marketing de Kassab acertou na escolha do alvo. Com o maior tempo disponível no rádio e na TV, o democrata ignorou o candidato tucano, Geraldo Alckmin, segundo colocado nas pesquisas. Dirigiu seus ataques (civilizados) a Marta, a primeira colocada. A petista engoliu a isca e passou a contra-atacar (não tão civilizadamente). Foi o suficiente para que Kassab tirasse de Alckmin a condição de candidato anti-PT. Fora de foco, o tucano perdeu primeiro os holofotes. Depois, os votos.
Um banho de votos
As eleições no Rio de Janeiro têm uma tradição de viradas espetaculares. Não foi diferente desta vez. O verde Fernando Gabeira saiu da lanterninha para o segundo lugar com uma campanha que conquistou a rica e escolarizada Zona Sul e, depois, contagiou a Zona Norte. Graças a esse desempenho, ele conseguiu reduzir a vantagem de Eduardo Paes, do PMDB, a apenas 6 pontos no primeiro turno, quando mesmo as pesquisas mais favoráveis a Gabeira apontavam 12 pontos de diferença entre os dois candidatos. No segundo turno, a disputa acirrou-se ainda mais.
O Datafolha dá um empate técnico entre Gabeira e Paes. O verde tem 43% das intenções de voto, contra 41% do adversário peemedebista. Mostrou ainda que seu potencial de crescimento entre os eleitores de outros candidatos no primeiro turno é bem maior do que se supunha inicialmente. Uma eventual vitória de Gabeira, que, há poucos dias, era tida como impossível, hoje já está no terreno do razoável.
O crescimento do candidato verde é mais um dos reveses eleitorais que as urnas reservaram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No primeiro turno, o presidente flertava com quatro candidaturas: Alessandro Molon, do PT, Marcelo Crivella, do PRB, Jandira Feghali, do PCdoB, e Eduardo Paes. Só sobrou o último, justamente aquele de quem Lula queria manter maior distância. O presidente e dona Marisa não perdoam Paes por ele ter citado um dos seus filhos, Lulinha, em 2005, durante a CPI dos Correios.
Paes, então, era secretário-geral do PSDB e lugar-tenente de José Serra no Rio. Com a eleição de Sérgio Cabral, do PMDB, para o governo do estado, Paes virou a casaca e se tornou governista. Na semana passada, fez um gesto desesperado para atrair o apoio formal de Lula: enviou à primeira-dama Marisa Letícia uma carta em que pede desculpas ao casal pelo seu comportamento na oposição.
Sem ele ninguém governa
Se há um partido com razões de sobra para festejar o resultado das eleições municipais, é o PMDB. A legenda saiu das urnas como a mais votada do país, refestelada sobre um patrimônio de 18,4 milhões de votos, 30% superior ao que obteve em 2004. Com isso, os peemedebistas conquistaram 1 195 cidades – 20% dos municípios brasileiros. O poder de fogo da agremiação ainda se concentra nas cidades com menos de 200 000 eleitores, onde o partido colheu quase 70% de seus votos, mas avançou em centros urbanos de maior porte. Fez a festa no Centro-Oeste, reelegendo Iris Rezende em Goiânia e Nelsinho Trad em Campo Grande. Também foi para o segundo turno no Rio, em Belo Horizonte, Salvador, Florianópolis, Porto Alegre e Belém. Em todas essas capitais, tem chances de vitória. Nem a cúpula do partido esperava um desempenho tão exuberante. Pretendia apenas manter o número de votos de 2004, quando só ficou atrás do PT e do PSDB.
Ao acordar muito maior do que tinha ido dormir na noite anterior, o PMDB não demorou a exibir seus novos bíceps. O primeiro passo foi arrancar de Lula a promessa de não intervir nas campanhas em que o partido tivesse o PT como adversário. A saber: Porto Alegre e Salvador. Na capital gaúcha, o prefeito José Fogaça enfrenta a petista Maria do Rosário, que já tem o apoio dos ministros Dilma Rousseff, da Casa Civil, e Tarso Genro, da Justiça. O PMDB sonha em derrotar o trio e estrangular o fôlego petista no estado. Na Bahia, a situação é ainda mais delicada. O candidato do PMDB é o prefeito de Salvador, João Henrique, que busca a reeleição sob a tutela do ministro Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional. Do outro lado está o petista Walter Pinheiro, que viabilizou sua candidatura graças ao governador Jaques Wagner, também do PT. Se João Henrique vencer, estará armada uma bomba-relógio para a base governista na Bahia em 2010. Fortalecido, Geddel deverá tentar tomar o governo baiano de Jaques Wagner, candidato à reeleição.
O dilema de Lula
Há duas maneiras de visualizar o resultado das eleições municipais tendo o Palácio do Planalto como referencial. De fora para dentro, o governo pode comemorar uma vitória estrondosa ao eleger 4.048 dos 5 563 prefeitos, incluindo os candidatos dos partidos aliados. De dentro para fora, o sucesso é relativo. Nas três cidades mais importantes do país, onde também estão os três maiores colégios eleitorais, a paisagem é de derrota. Em São Paulo, a ex-ministra Marta Suplicy, do PT, que contou com o apoio direto de Lula, chega ao segundo turno fragilizada pelo impressionante desempenho do atual prefeito, Gilberto Kassab, do DEM. No Rio de Janeiro, Lula terá dois desafetos disputando o segundo turno: Eduardo Paes, do PMDB (aliado recente e digerível por ter sido o sub-relator da CPI dos Correios, leia-se mensalão), e Fernando Gabeira, do PV.
Em Belo Horizonte, Lula abençoou a aliança entre o PT e o PSDB em torno do candidato Marcio Lacerda, que, apesar de ter avançado, enfrentará uma eleição muito difícil. O apoio do presidente, ainda assim, é considerado por alguns como decisivo. É na disputa paulistana, porém, que Lula enfrenta seu maior dilema. Envolver-se diretamente no pleito representaria a antecipação do provável embate entre ele e o governador de São Paulo, José Serra, na campanha presidencial de 2010. O primeiro turno já deu ao governo algumas pistas sobre os riscos de uma decisão errada.
"Lula tinha a expectativa de usar sua popularidade para transferir votos e ser o grande eleitor das principais cidades. Como a expectativa foi frustrada, pode-se considerar que o presidente colheu um fracasso político no primeiro turno", analisa o cientista político Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise, autor do livro A Cabeça do Eleitor. Para evitar uma derrota ainda maior, o governo optou pela cautela. Os ministros estão liberados para participar das campanhas, mas Lula, por enquanto, adotará um comportamento discreto. No próximo dia 26, haverá segundo turno em 29 cidades.
Em dezesseis delas, o presidente não pretende passar nem perto, já que a disputa envolve representantes de partidos aliados. Nas outras treze, ele deve se limitar a gravar mensagens de apoio e a participar de eventos fechados. Sua estratégia foi definida após a divulgação da pesquisa que apontou Marta 17 pontos atrás de Kassab. O PT passou a pressionar Lula para que mergulhasse na campanha de Marta. Mas o presidente recusou. Fez apenas uma gravação protocolar para o programa de TV e, como parte dessa estratégia, na sexta-feira acompanhou a candidata petista a um encontro com pastores evangélicos. Alegando problemas de agenda, recusou-se a participar de um comício.
De volta para o futuro
A penitenciária de segurança máxima de Catanduvas, no interior do Paraná, é endereço de alguns dos bandidos mais perigosos do país. Os megatraficantes Marcinho VP e Fernandinho Beira-Mar já passaram temporadas ali. Catanduvas, para os presos, é um pouco pior que o inferno. Os detentos ficam em celas individuais e são monitorados por câmeras 24 horas por dia. Praticamente nada é permitido. É proibido ver televisão, ouvir rádio, ler jornais e revistas. Mas, apesar de tantas restrições, Catanduvas enviará um representante à Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. Carmen Glória Guinâncio Guimarães, a Carminha Jerominho, soube dentro de sua cela que havia sido eleita com 22 000 votos. Aos 31 anos, apontada como chefe de uma milícia que caçava eleitores a bala, ela tomará posse, se tudo der certo, em janeiro e representará os cariocas pelos próximos quatro anos. A vereadora-presidiária é o mais novo e vistoso ícone de um fenômeno antigo que se repetiu com força nas eleições deste ano – o triunfo dos fichas-sujas.
A turma fez bonito nas urnas. Representantes de praticamente todos os escândalos recentes acabaram eleitos. Em Pernambuco, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Severino Cavalcanti será o novo prefeito de João Alfredo, sua cidade natal. Enxotado de Brasília graças às evidências de que embolsava um mensalinho, Severino chegou lá depois de receber apoio até de Lula. O ex-presidente do Senado Jader Barbalho colocou seu primo José Priante no segundo turno das eleições em Belém. Priante teve papel destacado no escândalo da Sudam.
Foi citado em grampos por fraudadores e freqüentava, na companhia de Jader, o bunker da quadrilha. Um dos sucessores de Jader no comando do Congresso, Renan Calheiros, garantiu a reeleição de Renan Filho, o Renanzinho, em Murici (AL). Renanzinho foi laranja do pai e beneficiário final da compra de um grupo de comunicação com dinheiro sem origem conhecida. O mensaleiro José Borba, ex-líder do PMDB que embolsou 2,1 milhões de reais do mensalão, vai comandar Jandaia do Sul, no Paraná. O sanguessuga João Mendes, acusado de colocar no bolso propinas de desvios do Ministério da Saúde, ocupará uma cadeira na Câmara do Rio.
IstoÉ
O Brasil real contra o baixo-astral
Dois anúncios publicados nos jornais na semana passada chamaram a atenção sobre o que distingue o Brasil de outros países, nesses dias de crise. Um deles reproduz anúncio publicado no The New York Times, no qual a Artplan destaca que o Brasil é uma excelente oportunidade de investimento. "Nossa democracia está consolidada, nossa indústria está forte, nossa inflação está sob controle há vários anos e nosso vasto território assegura que não faltam lugares para receber investimentos. Invista no Brasil", conclama a Artplan. O outro é da Votorantim Cimentos, um dos braços do maior grupo industrial do País. A família Ermírio de Moraes informa que, "enquanto muitos discutem os tempos de incerteza, a Votorantim Cimentos investe no Brasil".
No momento, a empresa está investindo R$ 3 bilhões na expans ão de fábricas. Até 2011, a capacidade de produção será ampliada em 280 milhões de sacos por ano. "Essas iniciativas reafirmam nosso compromisso com o crescimento do País", ressalta o anúncio.
Nesses dias de pânico nas Bolsas, os anúncios da Artplan e da Votorantim poderiam até soar como propaganda enganosa - mas não são. E a maior prova de que os anúncios são fiéis à realidade está nos argumentos que despontam diante da seguinte pergunta: afinal, caso fosse uma mercadoria à venda, será que o "produto Brasil" reuniria mesmo as características que são exaltadas nas duas peças publicitárias? A resposta é afirmativa. O Brasil nos últimos anos ganhou músculos que lhe permitem enfrentar as intempéries.
"Enquanto a cigarra estava cantando, a gente trabalhava", afirmou o presidente Lula, na terça-feira 7, no lançamento da plataforma P-51 da Petrobras, em Angra dos Reis, onde produziu a mais eloqüente imagem dessa confi ança no País. "Não estou di zendo que a gente não pode ter difi culdades, mas até agora o Brasil está de pé. Isso porque fi zemos as coisas que tínhamos de fazer", explicou para uma platéia de três mil trabalhadores do estaleiro Brasfels. E o que foi feito para estabilizar a economia e preparar o País para enfrentar crises não é pouca coisa.
Governando com o inimigo
Três dias depois de contabilizados os votos da eleição municipal, na quarta-feira 8, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou a seus ministros que não participem das campanhas políticas fora de seus Estados. A ordem tinha como foco principal as cidades de Belo Horizonte e Salvador, dois dos quatro principais colégios eleitorais do País. Nas duas capitais, as atuações de ministros peemedebistas nas semanas que antecederam o primeiro turno foram decisivas para uma reversão no quadro eleitoral e colocaram em rota de colisão o PT e o PMDB, principal partido da base governista. O que o presidente teme é que a disputa municipal possa provocar fissuras que comprometam a aliança nacional.
Em Minas, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, contrariando todas as pesquisas, conseguiu "azedar" o pão de queijo do governador tucano Aécio Neves e levou o deputado Leonardo Quintão (PMDB) para o segundo turno. O governador e o prefeito Fernando Pimentel (PT) inventaram a candidatura de Márcio Lacerda (PSB) e davam como certa a vitória da criatura já no domingo 5. Na Bahia, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, mergulhou de corpo e alma na campanha à reeleição do prefeito João Henrique, conseguiu tirar do páreo o deputado ACM Neto (DEM) e agora irá enfrentar o petista Walter Pinheiro, apadrinhado do governador Jaques Wagner, um dos principais interlocutores do presidente.
"Não vou passar nem pelo espaço aéreo de Salvador", prometeu a ministra Dilma Rousseff em conversa com Geddel depois do encontro com Lula. Na noite da quartafeira, o presidente jantou com a cúpula do PMDB no Palácio da Alvorada e disse que não pretende entrar nas campanhas onde estejam se digladiando aliados do governo. Em troca, Lula pediu que tanto Geddel como Costa não façam ataques ao PT e aos candidatos petistas. Trata-se de um compromisso difícil de ser cumprido.
O tempo de Gabeira
Quando voltou do exílio político, o ex-guerrilheiro Fernando Gabeira chocou o País ao desfilar pelas areias de Ipanema usando uma minúscula tanga de crochê. Na época, o traje de banho representava a expressão maior de um conjunto de idéias trazidas pelo ex-guerrilheiro que ainda não fazia parte da agenda brasileira, como ecologia, casamento gay e descriminalização da maconha. Em recente entrevista à revista Go Outside, o próprio Gabeira lembrou que a defesa do verde era considerada "coisa de veadinho". Ao que ele, na época, ironizou: "Sim, é coisa de veadinho, mas também de oncinha, macaquinho, etc."
Três décadas depois, Gabeira não precisa mais recorrer a ironias para explicar opções que agora agradam ao eleitor. Ele surpreendeu ao chegar ao segundo turno no Rio de Janeiro, graças à votação maciça de jovens e da zona sul carioca. Nessas três décadas, Gabeira manteve a coerência, embora, é verdade, tenha minimizado em seu discurso a questão da maconha. A ótima performance nas urnas mostra que, em 2008, Gabeira e o Brasil falam, enfim, a mesma língua.
"É um mito da mídia dizer que sou um candidato da zona sul e o outro, do proletariado", afirma Gabeira. O outro, no caso, é Eduardo Paes (PMDB), candidato do governador Sérgio Cabral, que obteve melhores resultados nas áreas mais pobres da cidade. Enquanto Gabeira arrebatou 62,67% dos votos dos bairros mais sofisticados - Ipanema, Lagoa e Leblon -, Paes levou apenas 20,66%. Nos subúrbios, a situação se inverteu. O peemedebista abocanhou 36,86% dos votos em Campo Grande contra 11,59% de Gabeira, por exemplo. Mas, além desse suposto paradoxo entre os candidatos, há outro, mais polêmico: a nacionalização, ou não, das eleições cariocas.
A vitória dos gerentes
As urnas do domingo 5 enviaram dois claros recados. No primeiro deles, os eleitores manifestaram sintonia com uma máxima futebolística: em time que está ganhando não se mexe. Dos 22 prefeitos de capitais que partiram para a reeleição, 14 venceram no primeiro turno e oito permanecem na disputa final. Fora das capitais, levantamento feito pela Confederação Nacional dos Municípios aponta que 66% dos que disputaram novo mandato foram reeleitos. O segundo recado das urnas mostra que, em se tratando de eleição municipal, a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se transfere automaticamente.
"A sensação de satisfação com a economia, aliada aos programas sociais, permitiu a onda de reeleição", analisa David Fleischer, cientista político e professor da Universidade de Brasília. "O eleitor enxerga o prefeito como o grande responsável por essa situação. É uma percepção localizada e é um erro tentar nacionalizá-la", adverte. De fato, as urnas disseram que a opção do eleitorfoi pelo sucesso, independentemente de ideologias ou preferências partidárias. Ganhou quem entregou resultados concretos e perdeu quem ficou com as promessas.
Na reunião do Conselho Político do governo, na segunda-feira 6, ministros e o próprio presidente definiram o domingo 5 como o dia da "eleição da continuidade". Dos prefeitos de capitais candidatos a reeleição, apenas Serafim Corrêa (PSB), de Manaus, terminou o primeiro turno em desvantagem com relação ao seu adversário, Amazonino Mendes, do PTB. Somente um dos prefeitos de capital eleitos no primeiro turno, João da Costa, do PT, no Recife, não disputava a reeleição. Seu desempenho, porém, é conseqüência da mesma situação: foi indicado pelo bem avaliado atual prefeito, João Paulo. A "eleição da continuidade", na avaliação do Conselho Político de Lula, é o resultado de uma economia estável e em crescimento.
Cassino Brasília
Wladimir Duarte, 37 anos, não possui profissão definida, costuma passar de dez a 12 horas por dia diante de um computador jogando pôquer em sites americanos. No início do mês, ele foi detido com outras sete pessoas em um cassino clandestino às margens do Lago Paranoá, em Brasília, conhecido como BSB Texas Club. Na terça-feira 7, ele recebeu ISTOÉ na mansão onde funcionava a jogatina e afirmou que "só no Lago Sul funcionam outras dez casas de jogos". "Fui parar na polícia porque não fiz nada debaixo do pano", disse. Ousado, Duarte procura dar ao cassino roupagem de legalidade e revela como os adeptos da jogatina têm tentado burlar a legislação. Há dois meses, ele registrou no Cartório Marcelo Ribas o contrato social da Associação de Pôquer Competitivo do Distrito Federal, o nome oficial do BSB Texas Club.
A receita da associação vem de arrecadação feita nos torneios de pôquer. Ele afirma que, para participar dos torneios, os jogadores pagam em média R$ 100 de inscrição. Do total arrecadado, até R$ 9 mil são divididos entre os dez primeiros colocados e 10% ficam com a associação. Os valores são aparentemente pequenos, mas a movimentação do cassino é intensa.
Apenas em seu computador são mil os jogadores credenciados. "O mercado é enorme. Em Brasília há quatro mil jogadores profissionais de pôquer e mais de 30 mil pessoas que jogam pela internet regularmente", diz. De fato, a capital federal, segundo o sociólogo Lisias Negrão Nogueira, da USP, é terreno fértil para os jogos de azar. "As poucas opções de lazer favorecem isso", afirma.
Segundo o advogado Paulo Castelo Branco, ex-secretário de Segurança Pública de Brasília e ex-presidente do Tribunal de Ética da OAB, a ousadia de registrar em cartório uma associação que promove jogos complica a ação da polícia. "Será preciso uma ampla investigação para caracterizar a existência de jogos de azar naquela mansão", afirma. "Existem várias casas como aquela em Brasília", diz o advogado. Quando a polícia chegou ao BSB Texas Club, 40 pessoas jogavam no local. As mesas, fichas e baralhos foram apreendidos, mas poderão ser devolvidos em breve devido a um recurso jurídico, promovido por advogados da federação de pôquer. "Meu objetivo agora é lutar pela regularização do pôquer", diz Duarte. "Há liminares que permitem o funcionamento de casas como a nossa em São Paulo e no Rio", afirma.
Matéria publicada às 8h47 de 11.10.2008. Atualizada às 12h43 de 12.10.2008.
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