O Congresso brasileiro receberá amanhã (18) uma visita ilustre – e extremamente formal. Trata-se da solenidade oficial que recepcionará o príncipe herdeiro do Japão, “Sua Alteza Narohito” (como sublinha comunicado à imprensa assinado pela Secretaria de Comunicação Social da Câmara dos Deputados), como parte das celebrações pelo centenário da imigração japonesa ao Brasil.
Os atos formais previstos para a visita do príncipe – que tem chegada minuciosamente “prevista para 14h45” –, prometem deixar jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos confusos. Entre os “procedimentos”, mencione-se: “não é recomendável que se atravesse o espaço em frente a pessoa do Príncipe, que se obstrua a sua passagem ou que se posicione em frente a Sua Alteza”.
Outra “recomendação” dos japoneses é “não caminhar ao seu lado ou ultrapassá-lo em razão de sua movimentação ou deslocamento”, e ainda “não será permitido se posicionar em frente a Sua Alteza com a finalidade de fotografá-lo”. “Falar diretamente ao Príncipe”, então, nem pensar, segundo as recomendações da Embaixada.
No plenário da Câmara, onde será realizada a “sessão comemorativa”, o comunicado lembra a praxe de não usar aparelhos celulares “desligados ou no silencioso”. E jornalistas credenciados, que têm acesso essencial e cotidiano ao plenário, não poderão participar
in loco da cerimônia. Ressalte-se: 33 profissionais da mídia japonesa “compartilharão” o espaço externo (o famoso Salão Verde) com os jornalistas brasileiros.
Polidez
Segundo a assessoria da Câmara, os hábitos milenares a que a mídia brasileira será apresentada são uma forma de o governo brasileiro “atender” às solicitações da Embaixada do Japão, como “demonstração de cortesia e polidez”.
A embaixada japonesa se apressou em pedir a compreensão dos brasileiros, e esclareceu que as “regras” não devem ser interpretadas como “meramente imperativas ou cerceadoras da liberdade de imprensa”, mas sim como “uma tradição preservada há anos pela mídia japonesa”.
Dor nas costas
Uma forma de reverência e cortesia praticada na “Terra do Sol Nascente” deve trazer momentos ao menos curiosos entre os parlamentares brazucas. Trata-se do cumprimento em que a pessoa se curva 90 graus à frente de seu interlocutor, como demonstração de educação e boas-vindas.
Diante da possibilidade de realizar o exercício não tão simples para quem possui, por exemplo, problema de coluna, o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), disse graciosamente que “vai ter de fazer academia” para cumprimentar Sua Alteza Narohito.
Já o presidente da Câmara,
Arlindo Chinaglia (PT-SP), foi mais polido em seu comentário sobre a circunspecta praxe do cumprimento japonês. À pergunta de um repórter sobre sua “elasticidade” para realizar o gesto com proficiência, o petista respondeu: “Tenho a elasticidade condizente com a minha idade”, resignou-se, com a sabedoria “oriental” de quem vai fazer 60 anos no dia 24 de dezembro do ano que vem.
(Fábio Góis)