A Universidade de Brasília (UnB) lança hoje (27), às 9h, o Programa de Combate ao Racismo e à Xenofobia, por meio de seminário no auditório da reitoria. Pioneira entre as universidades federais a instituir um programa de reserva de vagas para negros, a instituição quer agora "sensibilizar a comunidade acadêmica para a situação do negro na sociedade", declara a coordenadora do Núcleo de Promoção da Igualdade Racial do Decanato de Extensão, Deborah Silva Santos, idealizadora da atividade.
De certa maneira, tanto o programa quanto a iniciativa de se criar um núcleo específico para uma integração racial surgem como resposta às contestações em que se envolveu a universidade desde que decidiu por implementar uma política de cotas para negros – atualmente, no Brasil, são cerca de 40 as universidades públicas que adotaram ou estão por aprovar políticas afirmativas equivalentes.
Desse universo, a UNB desponta como a universidade que mais contestações sofreu por conta de seu protagonismo. O ápice teve lugar há um ano atrás, especificamente no dia 28 de março de 2008, quando ocorreu o atentando contra alunos africanos residentes na Casa do Estudante Universitário (CEU). Os autores do ataque atearam fogo ao apartamento onde moravam quinze jovens, vandalismo pautado por uma concepção xenofóbica, conforme interpretou a reitoria da própria UNB. Embora as chamas não tenham deixado vítimas, imprimiram marcas de indignação e inquietação aos corpos docente e discente da universidade.
As reflexões que surgiram após o crime não foram suficientes para cristalizar ruma ligação objetiva entre a política de cotas e o incêndio, por outro lado ficou constatado que a instituição convive com uma séria questão de intolerância e xenofobia no campus.
Á época, o reitor da universidade,Timothy Mulholland, decretou que dali em diante o 28 de março estaria destinado a tornar-se "Dia da Igualdade Racial na UnB". Consoante com esse propósito, o slogan escolhido para o seminário, conforme divulgou a instituição foi "UnB diz não ao racismo. Eu também!".
Neste ano, a fim de mobilizar a comunidade acadêmica e a sociedade para a temática da igualdade racial, o núcleo elaborou uma programação com palestras, debates e exibição de filmes. Foram convidados o representante da Comissão de Direitos Humanos da CNBB, Carlos Moura, a ex-reitora da Universidade Estadual da Bahia – que também instituiu cotas para negros – Ivete Sacramento, o presidente da Fundação Palmares, Zulu Araújo e Jurema Werneck, da ONG Crioula, do Rio de Janeiro.
Na mostra cinematográfica estão agendadas as exibições de "Ó Pai ó", que tem o ator Lázaro Ramos no elenco (das 12h às 14h, no auditório do CEAM, Prédio Multiuso I) e "Hotel Ruanda", baseado no massacre dos tutsis pelos hutus, em 1994, no continente africano (das 18h às 19h40, no auditório do CEAM, Prédio Multiuso). (Sionei Ricardo Leão)