VEJA
Desembargadora confirma monitoramento no STF
A desembargadora Suzana Camargo confirmou ter ouvido do juiz Fausto de Sanctis relatos sobre conversas reservadas e reuniões ocorridas dentro do gabinete do presidente do STF, ministro Gilmar Mendes.
"Cuidado, seu gabinete pode estar sendo monitorado", advertiu a desembargadora Suzana Camargo, vice-presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, em telefonema ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, na tarde do dia 10 de julho deste ano. O presidente do Supremo concedera no dia anterior um habeas corpus libertando o banqueiro Daniel Dantas, preso na Operação Satiagraha. O ministro havia ligado para o TRF na tentativa de descobrir se procedia a informação de que o juiz Fausto de Sanctis, responsável pela primeira ordem de prisão do banqueiro, determinara que Dantas voltasse para o xadrez. Como a presidente do tribunal não estava, Mendes foi atendido pela desembargadora, que procurou o juiz para saber maiores detalhes do caso. A conversa entre os dois produziu a primeira grande evidência de que o presidente do STF era alvo de uma implacável perseguição. Num tom de advertência, Suzana Camargo, além de confirmar a existência do novo pedido de prisão, recomendou a Gilmar Mendes que adotasse um comportamento cauteloso, já que comentários feitos por ele dentro do gabinete e até detalhes de reuniões de assessores com advogados estavam chegando ao conhecimento do juiz De Sanctis por meio de "informes".
VEJA divulgou a advertência da desembargadora dias depois do episódio. Procurada à época, ela limitou-se a dizer que tudo não passava de um "mal-entendido". Há duas semanas, a desembargadora quebrou o silêncio que vinha mantendo sobre o caso e contou detalhes do episódio aos delegados da Polícia Federal que investigam os grampos ilegais promovidos pela Agência Brasileira de Inteligência contra o ministro Gilmar Mendes. Aos investigadores, Suzana Camargo confirmou que De Sanctis lhe disse que recebia informes do que se passava no gabinete do presidente do STF. Segundo ela, o juiz lhe disse que soube, por meio de informes, que Gilmar Mendes o chamara de "incompetente" numa conversa reservada com assessores, logo depois de revogar o primeiro pedido de prisão do banqueiro Daniel Dantas. A desembargadora afirmou que o juiz também descreveu um suposto jantar de assessores de Mendes com advogados de Daniel Dantas, em Brasília, e que havia "muita sujeira" nessas relações. Ou seja: se o relato da desembargadora foi fidedigno – e nada indica que não seja –, o juiz sabia que os passos do ministro e de seus assessores estavam sendo monitorados.
Eu salvei você!
O governo americano evita o colapso financeiro mundial e nunca mais Wall Street será a mesma. - Em que o estouro afetará o seu bolso. - Wall Street na segunda-feira negra. - A reconstrução do sistema financeiro
Os tucanos também têm sua caixinha
Na semana passada, VEJA revelou que uma das alas mais radicais do PT, a Democracia Socialista, manteve um esquema ilegal de financiamento político no Rio Grande do Sul. A denúncia partiu de um ex-arrecadador petista, Paulo Roberto Salazar. Na última quinta-feira, em depoimento ao Ministério Público, ele confirmou ter recolhido dinheiro para a caixinha clandestina. Nos pampas, ao que parece, as caixinhas extrapolam as ideologias. Na gestão da tucana Yeda Crusius, por exemplo, há duas autoridades do governo que recorreram a um "por fora" básico para complementar os salários. Uma delas é Ronei Ferrigolo, presidente da estatal Procergs, a maior empresa de informática gaúcha. A outra é Erik Camarano, secretário-geral do governo. Pagamentos recebidos pelos dois, mas ocultos em seus holerites funcionais, têm tudo para se tornar a mais nova dor de cabeça da governadora Yeda Crusius.
O complemento salarial não envolve dinheiro público, mas nem por isso é menos grave. Foi, aparentemente, uma forma que os servidores encontraram para viabilizar financeiramente a participação no governo. Em abril de 2007, Erik Camarano foi convidado para trabalhar no gabinete da governadora. Na época, ele era executivo da ONG Pólo RS, patrocinada pelos maiores empresários gaúchos. Mas havia um problema: seu salário cairia de 20 000 para 6 120 reais. A solução foi receber um complemento salarial por meio de sua empresa de consultoria. "Entrei no governo e minha empresa continuou prestando consultoria à Pólo RS. Mas isso não era complemento", diz Camarano. A empresa, chamada Camarano & Sardelli, não tem sede nem empregados e funciona na residência do secretário. A pedido dele, os pagamentos mensais foram suspensos no mês passado, quando Camarano foi promovido a secretário-geral. Já Ronei Ferrigolo, presidente da Procergs, foi indicado pela Federasul, entidade que representa as associações comerciais gaúchas. Até o mês passado seu complemento salarial era de 15 000 reais mensais, pagos pela entidade que o indicou para o governo. O PSOL, que descobriu as PPPs da dupla há duas semanas, vai à Justiça. "Vamos denunciá-los por improbidade administrativa", diz a deputada federal Luciana Genro.
ÉPOCA
O pior já passou?
Como entender a maior crise financeira que o mundo viveu desde 1929 – e o que esperar daqui para a frente. Se você não está entendendo, não se preocupe: é pouco provável que alguém esteja. A crise financeira que assola Wall Street dura quase 14 meses, atingiu seu auge na semana passada e trouxe a todas as mentes o fantasma da crise de 1929 e da Grande Depressão dos anos 30. A crise parecia suspensa na sexta-feira com a súbita euforia nos mercados diante do anúncio de intervenção do governo americano. Mas, até agora, continuam sem resposta as duas questões essenciais. Primeira: como ela foi possível? Segunda: como será possível encerrá-la?
A eleição do continuísmo
Na disputa municipal, os eleitores tendem a reeleger prefeitos, fortalecer Lula, o governo e o PT. Na campanha de Cuiabá, em Mato Grosso, o prefeito Wilson Santos, candidato à reeleição pelo PSDB, transformou a comerciante Ledinalva da Silva num de seus principais cabos eleitorais. Ledinalva é famosa na cidade por ser irmã do presidente Lula. Na disputa de Salvador, na Bahia, o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto, do DEM, líder nas pesquisas até o momento, passou a pedir desculpas a Lula por tê-lo ameaçado com uma “surra”, durante a crise do mensalão. Na eleição de São Paulo, veio a capitulação final da oposição. Em queda nas pesquisas, o candidato do PSDB, o ex-governador Geraldo Alckmin, adversário de Lula na eleição presidencial de 2006, passou a veicular um vídeo contra a candidata Marta Suplicy (PT) com um elogio indireto ao presidente Lula. Lida por um locutor, a propaganda tucana diz o seguinte: “Com o Lula, tudo bem. O problema é o PT”.
Não há mais dúvida. Do alto de 64% de aprovação, o maior índice da História, o presidente Lula sairá da campanha municipal como um dos maiores vencedores. A oposição parece ter sumido dos palanques, como mostram os exemplos citados. A economia cresce a um ritmo médio de 5% ao ano (agora só ameaçado pela crise nos mercados financeiros globais). Tudo isso favorece Lula. “Ele está sendo consagrado nestas eleições pelo comportamento da oposição”, diz o sociólogo Marcos Coimbra, do instituto Vox Populi. “A oposição está em silêncio ou, de forma canhestra, tenta se associar ao sucesso de Lula.”
Moça, escreve para mim?
O Brasil tem mais de 48 milhões de iletrados e deficientes visuais. Como é o dia-a-dia dos voluntários que escrevem cartas por eles – e os ajudam a se inserir na sociedade.
O passatempo favorito do massoterapeuta Petrúcio Ramos da Silva, de 64 anos, é enviar cartas – mesmo sem poder escrevê-las. Nascido em Garanhuns, Pernambuco, ele é deficiente visual desde a adolescência. [...]
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, há no Brasil cerca de 550 mil cegos no Brasil e 3,1 milhões de pessoas com limitações severas na visão. Os números do IBGE revelam que 14,4 milhões de brasileiros com 15 anos ou mais são analfabetos. A eles somam-se os analfabetos funcionais, com menos de quatro anos de estudo. No total, o país tem 45 milhões de iletrados. Para eles, as palavras são uma barreira da vida social. “Vivemos numa sociedade em que ler e escrever são condições básicas de cidadania”, afirma Bruno Dallari, professor de Lingüística da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. “Quem não lê e não escreve fica à margem”.
Nem todos que procuram o Escreve Cartas são analfabetos ou deficientes visuais. No início de setembro, uma senhora de 83 anos foi ao posto de Santo Amaro pedir que preenchessem a ficha de solicitação de seu primeiro CPF. Minutos depois, uma menina de 14 anos pediu o mesmo tipo de ajuda. Muitas pessoas têm sérias dificuldades para preencher formulários quadriculados com letra de forma. Outras não conseguem botar suas idéias no papel de maneira clara para redigir uma carta. Envergonhadas, raramente assumem suas limitações. Costumam dizer: “Você escreve para mim? Esqueci de trazer os meus óculos”. Ou: “A minha letra é muito feia”.